Estado de SP não têm plano de emergência contra falta d’água

Do Estadão

Bacias hidrográficas de SP não têm plano de emergência contra falta d’água

Antes da crise do Cantareira, Plano Diretor da Macrometrópole, que abriga 78% da população paulista, apontou para ausência de planejamento em caso seca ou cheia

Mesmo com a previsão de possíveis cenários de escassez, nenhuma das principais bacias hidrográficas paulistas tem plano de contingência para eventos críticos como o vivido hoje pelo Sistema Cantareira. A constatação é do Plano Diretor de Recursos Hídricos da Macrometrópole, concluído em outubro do ano passado pelo governo estadual. Segundo o documento, a necessidade de planejamento prévio para situações de emergência – secas ou cheias – está prevista na lei federal da Política Nacional de Saneamento, de 2007.

O estudo traçou um diagnóstico da oferta de água na região formada por 180 cidades ao redor da capital, apresentou propostas para suprir o aumento da demanda até 2035 e avaliou os planos das oito bacias que compreendem as Regiões Metropolitanas de São Paulo e Campinas, Baixada Santista, Vale do Paraíba, Vale do Ribeira, Sorocaba e litoral norte, onde reside 74% da população do Estado. Entre elas, estão a do Alto Tietê, e a dos Rios Piracicaba, Capivari, Jundiaí (PCJ), que dividem a água do Cantareira.

“Em função do crescimento das demandas, todos os planos preveem o agravamento das condições da oferta hídrica e alertam para a possibilidade de ocorrência de situações de escassez de água. No entanto, não estabelecem medidas específicas para serem administradas na ocorrência de eventos críticos”, afirma o documento. “As únicas ações constantes nos planos referem-se a medidas preventivas, como o uso racional da água, gestão de demanda e o reúso”, diz o estudo.

Os planos de bacias são feitos pelos comitês formados por gestores públicos da área de recursos hídricos e das cidades da região, além de entidades da sociedade civil. De acordo com o especialista em Hidrologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Antônio Carlos Zuffo, a ausência de um repertório com ações de emergência previamente definido e integrado entre os municípios e as concessionárias de saneamento dá margem para que decisões políticas se sobreponham às medidas técnicas.

“Ao contrário de outros países, especialmente do Hemisfério Norte, onde a própria população se prepara para os cenários críticos, aqui no Brasil nos acostumamos a acreditar que esses eventos nunca vão acontecer. Hoje, estamos enfrentando uma grave crise de abastecimento de água e de energia e não temos planos capazes de gerenciar esses riscos. No caso do Cantareira, a população tinha de estar envolvida há muito mais tempo, e o racionamento deveria ter sido adotado há pelo menos três meses. Mas ao contrário. Nós continuamos a retirar mais água do que se pode”, afirmou Zuffo.

Segundo o Plano Diretor, a Bacia do PCJ, que compreende a região de Campinas, até tem um programa de Prevenção e Defesa Contra Eventos Hidrológicos Extremos, mas “nenhuma das ações propostas corresponde ao detalhamento especificamente voltado a um plano de contingência”.

No caso do Alto Tietê, onde fica a Grande São Paulo, o plano aponta o problema da escassez hídrica, mas não indica medidas de emergência em caso de colapso. Os gestores das Bacias do PCJ, Alto Tietê e Paraíba do Sul foram procurados, mas não foram localizados para comentar a ausência de planos de contingência.

Urgência

 No mês passado, o comitê anticrise que monitora o Cantareira recomendou à Agência Nacional de Águas (ANA) e ao Departamento de Água e Energia Elétrica (DAEE) que apoiem as cidades abastecidas pelo manancial na Bacia do PCJ na elaboração de um plano de contingência.

O mesmo pedido foi feito à Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), que deve informar o volume de água que vai captar até o fim do ano. Desde janeiro, a empresa já adotou o remanejamento de água de outros sistemas, lançou bônus para quem reduzir o consumo e diminuiu a pressão da água nas madrugadas. No próximo mês, deve começar a captar água do chamado “volume morto” do Cantareira e cobrar multa por aumento do consumo.

Redação

8 Comentários

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  1. Planos de recursos hídricos

    Os planos de recursos hídricos, tanto o nacional quanto os estaduais, emanam diretrizes e os planos de bacia hidrográfica são executivos. Através da elaboração desses planos é possível a construção de diálogos com o sistema produtivo, sociedade civil e governos. Em São Paulo já temos todas as bacias hidrográficas com seus planos?  Não sei como é feita a gestão de recursos hídricos em São Paulo mas me parece que ainda é bastante incipiente. O que é lastimável.

  2. A IRRESPONSABILIDADE E O ESCÁRNIO COM A POPULAÇÃO PAULISTA

    Na mosca JB Costa. A falta de planejamento e a incompetência dos governos tuknlhs, em especial deste senhor Alkmin, levaram aproximadamente 70%  população paulista a falta de água tratada. Este governo neoliberal e privativista (aliás a população paulista não viu o dinheiro das privatizações – será que está virando sorvete?) não sabe governar para a população, só governa para seus apadrinhados e não tem competência e nem aptidão para tocar um governo sem meter a mão no dinheiro público. Ainda tentam de todas as maneiras; com o apoio da mídia vendida; colocar a culpa nos outros (invariavelmente no PT) quando vem a mostra a suas safadezas e inépcias.   

  3. Há um culpado: governo do estado de São Paulo

    Se bem assimilada é gravíssima a denúncia ventilada no plano diretor citado. Como se entender uma omissão tão clamorosa quando está em jogo um dos insumos mais básicos, se não mesmo o mais estratégico, para uma comunidade?

    Comunidade circunscrita, realce-se,  a uma região comparável a um país como a Argentina. É como de repente essa vivenciasse as agruras de um desasbastecimento cujas causas poderiam até advir de fenômenos naturais, ou seja, de díficil previsão, mas exatamente por isso serem minimizadas suas consequências deletérias através da antecipações de ações.

    Querer dividir a culpa com a população, como deixa entrever o professor citado, a meu ver não é justo. O Ente a ser cobrado com veemência é o governo do estado de São Paulo. Se tal desídia fosse no ambito federal tenhio absoluta certeza que as intervenções da mídia seriam bem mais veemente. 

  4. Lucros SABESP

    Há três anos assisti uma palestra de um deputado de um dos cantões suíços sobre saneamento. O governo do cantão emprestava e empresa pública de saneamento a juros NEGATIVOS para estimular investimentos nesta área,  já por outro lado a Sabesp teve os seguintes lucros líquidos no estado de São Paulo:

    1,63 bilhão em 2010

    1,22 bilhão em 2011

    1.9 bilhão em 2012

    1,92 bilhão em 2013

     

    Em resumo,  enquanto na Suíça investimento em saneamento é considerado um investimento social, em São Paulo saneamento é um negócio extremamente lucrável (para os investidores privados é claro), note-se que no balanço da Sabesp em 2013 para  uma receita operacional líquida de R$10.737,6 milhões em 2013 há um lucro líquido de R$1.911,9 milhões (dados do balanço da Sabesp,  

    http://www.Sabesp.com.br/sabesp/filesmng.nsf/3E528157F3595BC783257B36001B5CC2/$File/SBSP3_4T12.pdf)

    ou seja 17,8% da receita operacional da empresa!

    Isto é um escândalo que supera em muito toda a roubalheira do metro.

    E os paulistas continuam votando no PSDB,  depois dizem que são os nordestinos que não sabem votar!

  5. E o psdb, alguma vez, teve

    E o psdb, alguma vez, teve algum plano para o país, estado, município, a não ser o de ter o poder para rechear a conta bancária dos amigos do partido?

  6. Comentário.

    Os tucanos sabem que vão perder.

    Não é arrogância nem nada. É constatação.

    Parece a Alemanha nazista em seus últimos suspiros.

    As agências de pesquisa e de publicidade sabem que, se não houver uma queda dos índices de aprovação do governo federal, muita gente graúda não vai injetar dinheiro em campanhas. Não é só uma questão de política. 

    O que vimos em São Paulo foi a política de terra arrasada.

    Só olhar: TV Cultura, Metrô, USP, Sabesp, Hospital das Clínicas. E é só uma parte.

    A olhar isso, o Álvaro Dias parece mais uma presa acuada, apesar de mostrar os dentes.

     

  7. Água e chorume humano

    “Antes da crise do Cantareira, Plano Diretor da Macrometrópole, que abriga 78% da população paulista, apontou para ausência de planejamento em caso seca ou cheia”

    Por essas e outras o juiz concedeu liminar ao Preserva SP sobre as audiências públicas do Plano Diretor de São Paulo.

    Mesmo com milhares de consultas pela intertnet e dezenas de audiências públicas , o projeto é uma colcha de retalhos de 360 artigos e 100 páginas, que trata do chorume humano nos cemitérios mas não diz quanta água ele vai exigir, nem de onde ela virá.

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