Bolívia 2019: a vã viagem circular de Evo Morales

Evo Morales foi eleito em 2005 no bojo de uma radical mobilização popular, caracterizando uma conjuntura revolucionária: com dois presidentes derrubados (Sánchez de Lozada e Carlos Mesa) e medidas neoliberais revogadas.
em 2003 uma insurreição com epicentro em El Alto bloqueou com vagões de trem o acesso a La Paz, impedindo até mesmo a passagem de tanques militares, Sánchez de Lozada acaba renunciando.
em 2005 Carlos Mesa foi obrigado a deixar a presidência por um movimento ainda mais radical do que em 2003, mas Evo Morales intercedeu para canalizar a política das ruas para via parlamentar.
após uma feroz campanha oposicionista da Direita, finalmente é referendada a Nova Constituição Boliviana, com Evo sendo reeleito em 2009 com 64% dos votos e o MAS conquistando maioria de 2/3 no Senado e na Câmara, levando a Direita parlamentar (Podemos) a se dissolver.
ainda assim, mesmo nesta correlação de forças amplamente favorável, com o “empate catastrófico” de 2003 tendo evoluído para uma vitória de goleada, Evo e o MAS fizeram uma fatal inflexão à Direita, paulatinamente estreitando seus laços com o poder hacendal-patrimonialista.
priorizando a via parlamentar/institucional e sabotando a construção do Poder Popular e da autonomia indígena, Evo e o MAS se escoraram em alianças com o setor exportador de commodities, inclusive com os narcotraficantes.
agora o espectro da contra-revolução assombra a Bolívia, completando como círculo infernal a viagem iniciada numa conjuntura revolucionária entre 2003 e 2005.
mais uma vez as massas se põe em movimento, não por Evo Morales mas por si mesmas, para que no chão das ruas de La Paz contra-revolução e Revolução se defrontem no ar rarefeito da altitude.
a História da América Latina, a nossa História, é a de uma Revolução negada: tanto a Revolução Democrática Burguesa quanto a Revolução Popular Socialista.
desembarcada inicialmente junto com os conquistadores, a Bíblia retorna pelas mãos do fundamentalismo neo-pentecostal para manter abertas a veias da América Latina, por onde se esvai nosso sangue e de nossos hermanos.
em meio a uma guerra de libertação, desfralda-se o símbolo da plurinacionalidade e do multiculturalismo: a Wiphala.
O operário do lucro expoente
E a parte excedente não lhe é revertida
Se aderirmos aos jogos políticos
Seremos síndicos da massa falida
“Massa Falida” – Duduca e Dalvan
música citada por Lula em seu primeiro discurso após ser libertado,
em 08/11/2019, na Vigília Lula Livre, em Curitiba

referência: “O Proceso de Cambio na Bolívia: tensões criativas ou destruidoras?”

Fábio Luis Barbosa dos Santos

ver também:

vídeo: Bolívia – 2019: Contra-Revolução em Marcha

vídeo: Bolívia – 2019: Wiphala

vídeo: Bolívia – 2019: Ahora Sí, Guerra Civil

vídeo: Bolívia – 2019: A Bíblia e a Espada

vídeo: Bolívia – 2019: Las Venas Abiertas


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Redação

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