Deslocamentos de migrantes aumentam nas Américas preocupando governos

Renato Santana
Renato Santana é jornalista e escreve para o Jornal GGN desde maio de 2023. Tem passagem pelos portais Infoamazônia, Observatório da Mineração, Le Monde Diplomatique, Brasil de Fato, A Tribuna, além do jornal Porantim, sobre a questão indígena, entre outros. Em 2010, ganhou prêmio Vladimir Herzog por série de reportagens que investigou a atuação de grupos de extermínio em 2006, após ataques do PCC a postos policiais em São Paulo.
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Cerca de 3.375 venezuelanos ingressaram no Brasil em 2022 pela fronteira do Acre com o Peru: aumento em relação a 2021 quando 1.862 entraram

Milhares de migrantes na fronteira entre o Panamá e a Colômbia, região em que se encontra a floresta de Darién. Foto: OIM/ONU

Os efeitos de sucessivas crises econômicas e políticas, além do endurecimento de países como o Chile e o Peru contra a migração, tem levado milhares de pessoas ao deslocamento involuntário em todo o continente Americano, enfrentando um amplo leque de perigos oriundos das andanças pelas fronteiras das Américas do Sul, Central e Norte.

Cerca de 3.375 venezuelanos ingressaram no Brasil em 2022 pela fronteira do Acre com o Peru, um aumento expressivo em comparação com 2021 quando 1.862 entraram, e com 2020 quando 572 entraram, segundo dados coletados pela Polícia Federal no município fronteiriço de Assis Brasil – e divulgados primeiramente pela BBC Brasil. 

Desde o ano de 2020, mais de 8,5 mil venezuelanos cruzaram a fronteira Brasil-Peru-Bolívia pela cidade de Assis Brasil. Só até 12 de setembro deste ano, foram 2.706. No passado os haitianos eram maioria, mas hoje, os venezuelanos são o maior grupo estrangeiro que entra por essa fronteira. 

Uma das explicações para o aumento no fluxo trata do endurecimento das regras da migração no Peru e Chile, incluindo a militarização das fronteiras desses dois países, o que contribui para a busca de novas rotas migratórias e deslocados no continente.

Nova crise migratória

No estado do Acre os abrigos estão superlotados o que incentiva a busca dos migrantes por outras cidades e oportunidades de seguir a travessia ou iniciar uma nova vida. A situação desperta temores de uma nova “crise migratória” no estado, como as de 2013 e 2021.

O diretor regional da Organização Internacional para as Migrações (OIM) para a América do Sul, Marcelo Pisani, observou que os desafios da migração são “grandes demais para qualquer nação das Américas enfrentar sozinha”.

Em linha com o Pacto Global sobre Migrações, a OIM defende uma estratégia regional abrangente e reafirma “apoio inabalável” a iniciativas que defendam os deveres humanitários internacionais, os objetivos de desenvolvimento sustentável e os direitos humanos fundamentais dos que se deslocam.

América Central e Caribe

A OIM apelou aos governos da América Central e do México para que respondam às necessidades humanitárias imediatas dos migrantes no meio de uma onda de deslocamentos continentais sem precedentes.

A diretora regional da OIM para a América Central, América do Norte e Caribe, Michele Klein Solomon, destacou a “necessidade urgente da participação coletiva imediata dos governos dos países de origem, trânsito e destino para fornecer assistência humanitária, especialmente a grupos vulneráveis, como mulheres e crianças”.

De acordo com o Serviço Nacional de Imigração do Panamá, até o último dia 23, mais de 390 mil pessoas haviam atravessado a perigosa selva de Darién, no Panamá, vindos da Colômbia.

A Região de Darién, ou Tampão de Darién, é uma área geográfica de natureza intocada, no limite da América Central e da América do Sul. Tem cerca de 160 km de comprimento e 50 km de largura. É banhada pelo golfo de Darién e pelo golfo do Panamá

Só em agosto passado, 82 mil migrantes fizeram a travessia, o que representa o maior valor mensal já registrado, sendo a maioria provenientes da Venezuela, Equador e Haiti.

Mudança de rotas

Além do notável aumento no número de pessoas que realizam deslocamentos migratórios, destaca-se uma tendência significativa: a transformação na escolha das rotas pelos migrantes cubanos e provenientes de nações africanas.

A OIM relata que cada vez mais pessoas optam por rotas aéreas para chegar à América Central, evitando cruzar o Darién como parte da sua viagem para o norte. 

Durante o período de janeiro a julho de 2023, apenas 4.100 migrantes africanos cruzaram o Darién, representando uma redução de 65% em comparação com o mesmo período de 2022.

Por outro lado, Honduras registrou um aumento surpreendente na chegada de pessoas de países africanos, atingindo um total de 19.412 indivíduos através da sua fronteira sul. 

Da mesma forma, nesse mesmo período, apenas 524 cubanos foram registrados cruzando o Darién, em contraste com os 17.157 cubanos que chegaram por terra a Honduras.

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Renato Santana

Renato Santana é jornalista e escreve para o Jornal GGN desde maio de 2023. Tem passagem pelos portais Infoamazônia, Observatório da Mineração, Le Monde Diplomatique, Brasil de Fato, A Tribuna, além do jornal Porantim, sobre a questão indígena, entre outros. Em 2010, ganhou prêmio Vladimir Herzog por série de reportagens que investigou a atuação de grupos de extermínio em 2006, após ataques do PCC a postos policiais em São Paulo.

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