Eleonora Menicucci assume Secretaria das Mulheres

Da Folha de S. Paulo

Nova ministra defende direito ao aborto

Socióloga Eleonora Menicucci, que assumirá Secretaria das Mulheres, dividiu prisão com Dilma na ditadura militar
Ex-guerrilheira é amiga da presidente desde os anos 60; ela substitui Iriny Lopes, que será candidata em Vitória

BERNARDO MELLO FRANCO
DE SÃO PAULO

Amiga da presidente Dilma Rousseff desde a década de 1960 e sua colega de prisão na ditadura militar, a nova ministra Eleonora Menicucci, 67, promete defender a liberação do aborto à frente da Secretaria de Políticas para as Mulheres.

Socióloga, professora titular de Saúde Coletiva da Unifesp e filiada ao PT, ela assumirá o cargo na sexta-feira. Substituirá a também petista Iriny Lopes, que sai para disputar a Prefeitura de Vitória.

Menicucci integra o Grupo de Estudos sobre o Aborto e já relatou ter se submetido à prática duas vezes. Ontem, afirmou à Folha que levará sua convicção e sua militância na causa para o governo.

“Minha luta pelos direitos reprodutivos e sexuais das mulheres e a minha luta para que nenhuma mulher neste país morra por morte materna só me fortalece”, disse.

A polêmica sobre o aborto marcou a corrida presidencial de 2010, quando José Serra (PSDB) usou o tema para atrair o voto religioso. Dilma, que já havia defendido a descriminalização da prática em duas entrevistas, disse ser “a favor da vida”, mas afirmou que não faria uma “guinada à direita” para se eleger.

A nova ministra anunciou que fará uma gestão de continuidade. Citou como prioridades o combate à violência contra a mulher e à “feminilização da pobreza” e a preparação das feministas para a conferência Rio+20.

Ela negou os rumores de extinção da secretaria, que circulavam desde o ano passado. “Digo isso como futura ministra. A secretaria continua com status de ministério e com muita força”, afirmou.

BIOGRAFIA

Mineira de Lavras, Menicucci conheceu Dilma no movimento estudantil, em Belo Horizonte. Na luta armada, participou de assaltos a bancos e supermercados para financiar a guerrilha.

“Sabia que tinha que fazer alguma coisa, ia lá e fazia”, relatou à revista “TPM”, em 2007. “Achava que nada de mal podia me acontecer. Era jovem, e jovem é onipotente.”

Ao ser presa, em 1971, tinha 22 anos e militava no POC (Partido Operário Comunista). Ela conta que a filha Maria, que tinha 1 ano e 10 meses, foi torturada na sua frente nas dependências da Oban (Operação Bandeirante), em São Paulo. Depois, ficou 52 dias sem notícias do bebê.

“As torturas minha e de minha filha me mostraram a olho nu a nua e crua dimensão do terror instalado em nosso país e paradoxalmente nossa impotência frente a ele. Aqui me transformei em feminista”, escreveu na revista científica “Labrys”, em 2009.

Ela reencontrou Dilma no Presídio Tiradentes, onde ficou presa até 1973 na “Torre das Donzelas”, a ala das presas políticas. Foi uma das colegas de cela convidadas para a posse da presidente.

“Tenho muito orgulho e muita honra de ter sido presa política na luta contra a ditadura”, disse ontem.

A nova ministra chorou ao lembrar colegas que foram mortos na luta armada.

“Estou muito emocionada. Peço desculpas… [embargando a voz]. É um filme que passa na cabeça em todas as horas da minha vida, para me inspirar e me fortalecer.”

À “TPM”, ao comentar seu ativismo, ela falou também sobre a vida pessoal.

“Me relaciono com homens e mulheres e tenho muito orgulho de minha filha, que é gay e teve uma filha por inseminação artificial.”

Colaboraram MÁRCIO FALCÃO, FLÁVIA FOREQUE e JOHANNA NUBLAT, de Brasília 

Luis Nassif

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