Gabriel Chalita e a astúcia da razão homofóbica

http://ddd.opsblog.org/2013/03/02/gabriel-chalita-e-a-astucia-da-razao-homofobica/

Capa da edição n. 2.311 de Veja

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Merece atenção a capa de Veja desta semana, não pela principal matéria de capa, mas pela pequena foto do topo direito, indiciária da homofobia como tática de desmoralização política. De 2003 a 2007, o deputado federal Gabriel Chalita (PDMB) ocupou o cargo de secretário estadual de Educação do Estado de São Paulo, durante os governos de Geraldo Alckmin e de Cláudio Lembo. Atualmente, ele está sendo investigado em onze inquéritos em curso no Ministério Público do Estado de São Paulo, relativos ao período de sua gestão na Secretaria de Educação. Dúvida: qual a relação entre a manchete – “O escândalo que encurtou a carreira do político carismático que poderia ter sido ministro” – e a foto que a ilustra, na capa da revista semanal? Nenhuma, absolutamente nenhuma.

Há muito tempo – desde sempre, talvez – circulam insinuações acerca da (homos)sexualidade de Chalita, sobretudo nas redes sociais, não raro acompanhadas da sugestão de existência de um envolvimento amoroso entre ele e o padre celebridade Fábio de Mello.

A mídia, não apenas a corporativa, adota como prática recorrente um pacto de silêncio em relação à orientação sexual de alguns indivíduos famosos, consoante seus interesses políticos, econômicos e corporativos. Um silêncio não motivado, ao contrário do que se sustenta, por respeito à intimidade, à “imagem” e à  “honra”.

A mídia jamais silencia a sexualidade hetero-orientada de ninguém; no máximo, oculta informações acerca de eventuais envolvimentos sexuais e amorosos que poderiam, de sua perspectiva, prejudicar personalidades que tem interesse em proteger e favorecer.

Entre inúmeras fotos de Chalita que poderiam ser escolhidas para ilustrar a manchete, por que a escolha recaiu justamente em uma foto em que ele aparece descontraído, sorridente e sem camisa, ao lado de um homem também sem camisa, jovem, de compleição atlética e bronzeado, com o mar e o céu azuis ao fundo?

Chalita possivelmente se tornou uma carta fora do baralho do jogo político, foi descartado, convindo à parcela da mídia, neste momento, desvincular-se de sua imagem, demonstrando toda sua imparcialidade jornalística, ao não ocultar nada. O que antes era convenientemente silenciado agora é convenientemente enunciado, exposto e explorado como tática de evidenciamento do compromisso da revista semanal com a verdade. Conquanto a verdade seja revelada tão-somente de forma (covardemente) insinuada, para se evitar um possível processo, a foto enuncia tudo e nenhum bom entendedor terá dúvida alguma:  “Veado!”,  “Corrupto e veado!”,  “Veado corrupto!”.

Luis Nassif

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