Juros à procura de um novo bordão

Título da coluna de Ribamar Oliveira no caderno de Economia do “Estadão”: “A tese do PIB potencial faliu”. Ou seja, a idéia de que a economia não poderia crescer mais que 3,5% ao ano, caso contrário seriam inevitáveis as pressões inflacionárias.

Diz ele: “Bastou a taxa de juro cair e a conjuntura internacional melhorar para que a tese desmoronasse. O Brasil vai crescer 4,7% este ano, com inflação de país desenvolvido, segundo o próprio BC”.

Nesses anos todos, o Banco Central justificou “cientificamente” sua política de juros baseada na tese do PIB potencial e na taxa de juros de equilíbrio (segundo a qual, qualquer taxa real abaixo de 8% produziria inflação).

A primeira foi brandida continuamente por Affonso Celso Pastore, ex-presidente do BC. Há algumas semanas, Pastore “concedeu” à economia um PIB potencial maior, devido, segundo ele, ao aumento da importação.

O mercado já admite que a tese da taxa de juros de equilíbrio, disseminada por Pérsio Arida, carecia de modelos econométricos mais apurados.

Há um ano o economista Paulo Tenani já explicava que país com superávit em contas correntes não tinha como sofrer pressões inflacionárias internas. Mesmo assim, levou tempo para que os cabeções mudassem o disco, e parassem de insistir na tese.

Na semana passada, na “Folha” o indefectível JoséMárcio Camargo dizia que, sim, com superávit em contas externas as pressões inflacionárias poderiam ser supridas com importação, que os produtos não comercializáveis (que não são afetados pelas importações) não pressionavam mais os preços. O problema é que não haveria como controlar a inflação internacional.

Provavelmente será o novo bordão a ser sacado, depois de esgotados, por falsos, os bordões anteriores.

Luis Nassif

23 Comentários

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  1. E porque o Brasil teria que
    E porque o Brasil teria que se preocupar com essa ‘inflação internacional’?
    O que vale é quanto vale o dinheiro aqui dentro, como as forças do mercado se equilibram aqui e não em Wall Street, Tóquio ou Berlim…

  2. Acrescento à resposta do
    Acrescento à resposta do Nassif,(é isso aí)ao leitor Castagna Maia:E desde quando economia,é uma ciencia exata?

  3. Prezado Nassif,

    em
    Prezado Nassif,

    em profissões que não sejam a de economistas, quando alguém aparece com falsas afirmações e isto causar danos a outrem, este profissonal é passível de ser processado por perdas e danos.

    Talvez fosse interessante cobrar isto de economistas, especialmente aqueles que, afirmando tais baboseiras induzem alguém a investir de maneira inadequada.

    Se um médico realizar um diagnóstico errado, ou um engenheiro calculista errar a especificação arquitetônica, o dano causado tem que ser indenizado.

    E com economistas, eles não pagam nada ?

  4. Já temos um novo bordão na
    Já temos um novo bordão na praça, chama-se, “ataque especulativo à moeda”, sobrinho-neto do crash asiático.Operações especulativas com prazo inferior a um ano,estão colocando
    em risco nossa economia.Segundo as “cassandras”,masculinas e femininas, é hora de atar o cinto e fumar bastante( o que quer que seja).

  5. Um pouco fora do tema, mas
    Um pouco fora do tema, mas nem tanto, é o artigo o Bresser hoje na Folha:

    LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA

    Tarifa x câmbio

    O que estávamos fazendo desde os anos 1930 sem saber era neutralizar doença holandesa com tarifas

    O BRASIL e a Índia suspenderam em boa hora as negociações da Rodada Doha por não concordarem tanto com a pequena redução dos subsídios aos produtos agrícolas oferecida pela União Européia e os Estados Unidos quanto com a grande diminuição das tarifas industriais que demandavam. As concessões nessa última matéria que havíamos feito já eram excessivas. Dada a contínua apreciação da taxa de câmbio brasileira, não há espaço para redução das tarifas industriais. Como o governo não tem conseguido fazer a taxa de câmbio retornar para um nível competitivo para a indústria, deveria, como aliás tem feito, aumentá-las em certos casos.
    A doença holandesa sempre existiu no Brasil rico em recursos naturais, mas foi neutralizada entre 1930 e 1990. Desde a abertura comercial e financeira de 1990-92, porém, deixamos de ter a neutralização necessária, e, nos últimos cinco anos, o problema se agravou devido ao grande aumento do preço das commodities.
    A forma mais racional de transformar essa “maldição dos recursos naturais” em uma bênção, como de fato ela é, é estabelecer uma contribuição de exportação sobre os produtos que lhe dêem origem, dessa forma deslocando para cima sua curva de oferta; se a contribuição for igual à diferença entre a taxa de câmbio necessária para manter competitivas indústrias usando tecnologia no estado da arte e a taxa de câmbio rebaixada que viabiliza os bens beneficiados pelos recursos naturais, a doença holandesa estará neutralizada porque aquela diferença desaparecerá. Os fundos obtidos deverão ser usados para criar um fundo internacional que sirva de seguro para os produtores.
    Entretanto, se o governo não tiver poder para isso, a alternativa incompleta para proteger o mercado interno da concorrência de empresas que não são mais eficientes que as brasileiras é a das tarifas. A medida é incompleta porque as indústrias protegidas não poderão exportar, mas, pelo menos, não perdem o mercado local.
    Sou defensor da liberalização comercial, mas, na segunda metade dos anos 1980, quando dei início ao processo no Ministério da Fazenda, não estava claro para mim o problema da doença holandesa. Como a indústria brasileira não era mais recente, entendi que o argumento da indústria infante não se aplicava mais.
    Eu estaria certo se as tarifas fossem mero protecionismo, mas não eram. O que estávamos fazendo desde os anos 1930 sem saber era neutralizar a doença holandesa. Se não existisse a apreciação artificial do câmbio causada por essa brutal falha de mercado que é a doença holandesa, não haveria razão para proteger a indústria nacional com tarifas. Não há, entretanto, nenhuma outra explicação para a contínua apreciação da taxa de câmbio brasileira sem que as exportações de commodities caiam.
    Nossa doença holandesa não é tão grave quanto a dos grandes exportadores de petróleo. A apreciação que provoca não chega a inviabilizar toda a indústria (por isso os interessados estarão sempre buscando “provar” que ela não existe), mas a prejudica gravemente. E impede que o país cresça a taxas compatíveis com a prosperidade mundial dos últimos cinco anos.

  6. Creio que até fazia sentido
    Creio que até fazia sentido a questão do PIB potencial e do nível de juros reais, mas o Brasil nos quantos anos anteriores fez muitas mudanças na economia que alterou as correlações econômicas.

    È necessário não ficar olhando só para o passado, é necessário verificar o presente também principalmente quamdo ele é muito diferente.

    Concordo que acompanhar o presente e muito mais difícil e arriscado, mas quando ocorre grandes mudanças é necessário.

    Mas com creteza este Blog desempenha um papel importante nestas mudanças de avaliação da situação Brasileira. é por aqui que passaram as principais contestações sobre a políitica e analise econômica do Brasil nos últimos meses.

    Um exemplo claro e recente é questão da meta de inflação onde aqueles que defedem a redução da meta por já estarmos com uma inflação corrente bem abaixo da meta, não menciona nenhuma vez que para manter a inflação bem abaixo da meta o COPOM vem praticando juros muito elevados principalmente após as eleições, quando o risco de alternância de poder foi afastado.

    Só faz sentido reduzir a meta de inflação se for possível a redução também dos juros da Selic.

    Agora com relação a inflação internacional se ocorrer, afetará menos o Brasil pois dever ocorrer uma elevação dos preços da commodities e por consequência os saldos da Balança Comercial que junto com a atual Reserva Cambial deve permitir uma longa estabilidade Cambial.

  7. Nassif,

    Você poderia
    Nassif,

    Você poderia colocar “links” onde o Banco Central tenha falado que “qualquer taxa real abaixo de 8% produziria inflação”?

    ou que a que “a economia não poderia crescer mais que 3,5% ao ano” sem provocar inflação?

    Sempre vejo você escrevendo essas coisas mas não encontro essas informações no site do BC. Aonde estão?

  8. Alguns editoriais de jornais
    Alguns editoriais de jornais já estão pedindo pressa na queda dos juros. Alguns “cabeções” já estão pedindo pressa na queda de juros …

    Tem uma hora que até o cabeça de planilha tem que dar o braço a torcer, pena que o país paga caro enquanto isso demora para acontecer.

  9. Nassif,

    Nossos economistas
    Nassif,

    Nossos economistas de plantão que analisam a macroeconomia vivem de bordões e bola de cristal.

  10. Nassif:
    Isso sem esquecermos
    Nassif:
    Isso sem esquecermos o efeito das lagartixas da Mesopotania na inflação global!
    Muda de área Nassif, fica só com a música, senão o colesterol não baixa nunca!

  11. Agora se ocorrer no segundo
    Agora se ocorrer no segundo momento uma forte elevação dos juros para conter uma inflação internacional, essa o principal argumento daqueles que defedem a manutenção dos juros elevados da Selic, lembro que essa elevção dos juros internacionais deve pressionar os preços das commodities para baixo após a elavação dos juros internacionais reduzindo o impacto do cambio sobre a inflação no Brasil, que poderá manter a estabilidade cambial também neste cenario com as reduções das compras de dolares pelo Banco Central e/ou redução dos limites dos dolares da exportações que podem ficar retidos no exterior.

    Ou seja precisamos utilizar os mais variados instrumentos da política econômica e não ficarmos restrito a politica de juros, principalmente agora que o Brasil resolveu o problema da liquidez e da credibilidade dos títulos da dívida pública..

  12. Nassif, há um aspecto
    Nassif, há um aspecto importante que não foi devidamente explorado em todo esse tempo de sistemas de metas de inflação.

    O “Copão” sempre se mostrou tão arrogante quanto inventivo, na defesa de suas teses esfarrapadas, mas uma das principais desculpas da manutenção da Selic em níveis absurdos é a evolução dos preços administrados.

    Ora, quem administra os preços “administrados” são os governos federal, estadual e municipal…que também tem bancos (BB, CEF, Nossa Caixa…etc) e também administra a Selic, ganhando com sua manutenção em níveis estratosféricos, através de seus “bancos”.

    Assim, sobram desculpas esfarrapadas e gente que se aproveita delas para ganhar mais com menos risco…

    Quando um planilheiro começa a reconhecer algumas obviedades, contrariando suas teses anteriores, é porque se encontram em estado lastimável de credibilidade…Mas há sempre os Marcio Camargo da vida que produzem pérolas inesperadas…culpar a inflação internacional é algo realmente fantástico, mesmo para os padrões dos “juristas” do Copão.

  13. Aiaiaiaiaiai, como é difícil
    Aiaiaiaiaiai, como é difícil fazer humor com Economista. Foi jogo de palavras com a inversão que você produziu com a expressão metas inflacionárias.

  14. Luis escreve:
    “Aiaiaiaiaiai,
    Luis escreve:
    “Aiaiaiaiaiai, como é difícil fazer humor com Economista. Foi jogo de palavras com a inversão que você produziu com a expressão metas inflacionárias.”

    Eh que eu tava com aquele discurso encalacrado… O trocadilho eh bom e engracado, mas nunca eh demais lembrar (olha eu aqui de novo) o nome dos bois que nao estao pastando direito…

  15. Sr. Luis Nassif, é necessário
    Sr. Luis Nassif, é necessário dimensionar melhor esta questão do enorme aumento da frota de automóveis no Brasil do ponto vista fiscal, e tende aumentar ainda mais com a queda dos juros da Selic.

    Isto pode representar uma revolução nas contas públicas nos próximos anos principalmente dos estados e municípios em função do IPVA e viabilizar a reforma tributária.

  16. Mais uma das máscaras do B.C.
    Mais uma das máscaras do B.C. que se desmancham no ar do desenvolvimento. Quanto tempo mais o B.Central vai defender os banqueiros e o capital financeiro.?Aliás, a Carta Capital desta semana faz uma bela radiografia dos diretores e presidentes do B.C. que, sem exceção enriqueceram mais ainda depois que saíram do B.C., além de praticar por anos a fio a MAIOR TAXA DE JUROS DO MUNDO. Será que um dia eles pagarão pelo atraso no desenvolvimento do Brasil? Refiro-me aos milhões de empregos que esses criminosos exportaram em detrimento da miséria e desemprego no Brasil.
    Acho que eles todos deveriam mudar para Nova Yorque, pois de brasileiros eles não tem nada.
    Abs.

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