Remessas de lucros para o exterior voltam a aumentar

Do Valor

Remessas de lucros ao exterior voltam a aumentar

Por Mônica Izaguirre e Thiago Resende 

As remessas de lucros e dividendos do Brasil ao exterior voltaram a crescer em relação a igual mês de 2011, após cinco meses seguidos de queda. Já descontadas rendas de igual natureza recebidas em função de investimentos brasileiros em outros países, esses gastos internacionais somaram US$ 2,355 bilhões no mês passado, a maior cifra para meses de outubro já apurada pelo Banco Central e valor mais de 50% acima do verificado em outubro do ano anterior (US$ 1,558 bilhão).

O BC vê nisso mais um sinal da aceleração da atividade econômica. Durante oito dos primeiros nove meses deste ano, o montante de recursos que saíram do país a título de remuneração sobre investimentos estrangeiros diretos e indiretos no capital de empresas apresentou recuo na comparação interanual. A exceção foi o mês de abril, quando houve elevação sobre abril de 2011. Na comparação dos acumulados até setembro de cada ano, houve queda de substanciais 55,5%.

Fernando Rocha, chefe-adjunto do Departamento Econômico do BC, destaca que, diferentemente do que houve em abril, desta vez o aumento foi suficientemente forte para inverter a trajetória do valor acumulado em 12 meses. Ao longo dos primeiros nove meses de 2012, o acumulado em 12 meses caiu. De setembro para outubro, subiu, passando de US$ 25,852 bilhões para US$ 26,648 bilhões.

“Há uma inflexão”, disse Rocha, ao divulgar os números ontem. Ele atribuiu o fato à aceleração mais recente do nível de atividade econômica. A queda do ritmo de crescimento da economia no segundo semestre de 2011, explicou, afetou o resultado das empresas transnacionais, deprimindo as remessas de lucros e dividendos ao exterior ao longo da primeira metade de 2012 e início do segundo semestre. A desvalorização cambial também contribuiu, na medida em que para o mesmo volume de dólares as empresas passaram a necessitar de mais reais para remeter.

Agora que a atividade econômica dá sinais mais claros de recuperação, as companhias voltam a elevar pagamentos aos acionistas estrangeiros. Rocha lembrou que do segundo para o terceiro trimestre, o IBC-BR, índice apurado pelo Banco Central, indicou crescimento econômico de 1,15%, o que representa uma taxa anualizada de 4,6%.

O BC acredita que no ano que vem a atividade econômica vai crescer mais do que está crescendo no segundo semestre deste ano. Por isso, acha que a tendência é de continuidade de recuperação das remessas de lucros e dividendos. Há que se considerar também a tendência de aumento do estoque de investimentos estrangeiros diretos, que geram lucros.

O IED em participação no capital de empresas, cujo estoque era de US$ 563 bilhões em outubro, tende a aumentar com a entrada de novos investimentos.

Em outubro, o fluxo líquido de IED novo para capital de empresas somou US$ 6,887 bilhões. Incluindo o fluxo de empréstimos entre matrizes e filiais, também classificados como IED (geram juros e não lucros), o investimento direto alcançou US$ 7,73 bilhões no mês.

Se, de um lado, tende a provocar mais remessas de lucros no futuro, no momento em que entra no país, o fluxo novo de IED ajuda a financiar o déficit em transações correntes do Brasil com o exterior, dentro do qual estão as despesas internacionais com rendas (lucros, etc).

Em outubro, esse déficit, que inclui também despesas e receitas de comércio e serviços, foi de US$ 5,431 bilhões, sendo financiado com sobra, portanto, pelo ingresso de IED.

Por causa das remessas de lucros e dividendos e dos gastos com viagens internacionais, o déficit em conta corrente do país no mês passado foi o maior para meses de outubro, segundo o BC. Superou tanto o de agosto (US$ 2,596 bilhões) quanto o de igual mês de 2011 (US$ 3,157 bilhões). Também ficou acima do que tinha projetado o BC (US$ 4,9 bilhões).

Os gastos com viagens internacionais também tinham arrefecido nos primeiros meses do ano, embora não com a mesma consistência das despesas de lucros e dividendos. Mas nos últimos quatro meses voltaram crescer, chegando a US$ 1,53 bilhão em outubro, já descontados gastos de viajantes estrangeiros no país. Foi o maior valor para meses de outubro. Fernando Rocha acredita que a estabilização relativa mais recente da taxa de câmbio tenha contribuído para que as pessoas voltassem a gastar mais com viagens internacionais. Também contribuiu a elevação da massa salarial, acredita ele.

No acumulado de dez meses, o déficit brasileiro em transações correntes alcançou US$ 39,554 bilhões, patamar semelhante ao de 2011 para igual período. E também foi financiado com sobra pelo IED, que proporcionou ingresso líquido de US$ 55,306 bilhões.

Luis Nassif

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