Reputação corporativa e direitos humanos no trabalho

“O lucro não é mais a única preocupação das empresas. Bens intangíveis como direitos autorais, patentes e relacionamento com os públicos da empresa também são ativos intangíveis valiosos que trazem retornos financeiros significativos, além de exigir altos investimentos.” Essa é uma das principais conclusões de um estudo conduzido pela consultoria Hill & Knowlton Brasil com 30 dos principais líderes empresariais brasileiros.  Esse estudo, conhecido como Corporate Reputation Watch (CRW) é conduzido nos Estados Unidos e nos principais países da Europa e Ásia desde 1997 e os resultados brasileiros não diferem substancialmente dos resultados dos outros países pesquisados.

O resultado mais importante do estudo, na minha visão, é que a reputação da empresa será cada vez mais importante para seus principais grupos de interesse: clientes, investidores e empregados.  A gestão da reputação corporativa é sempre responsabilidade do principal executivo e será alvo de investimentos cada vez mais substanciais.

Entre os aspectos capazes de influenciar positiva ou negativamente a reputação da empresa é o seu relacionamento com os empregados e o respeito aos seus direitos humanos no ambiente de trabalho. Diante dessas evidências, parece um comportamento meio suicida empresas de renome internacional lançar mão de trabalho escravo ou trabalho infantil em troca de, literalmente, alguns trocados diante de volume de recursos que está em jogo.

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Mas os direitos humanos no trabalho não se limitam ao não envolvimento com o trabalho infantil e trabalho escravo. Outro direito fundamental do trabalhador é a sua saúde e segurança no local de trabalho, um direito que, com raras exceções, é negligenciado pela maioria das empresas. As empresas que costumam ferir ou mesmo matar seus empregados no ambiente de trabalho acabam ferindo ou matando sua própria reputação.

É responsabilidade intransferível do empregador garantir que não exista no ambiente de trabalho nenhum elemento que possa colocar em risco a saúde ou a integridade física do trabalhador. Não basta o trabalhador ser cuidadoso. A empresa tem que, com recursos de engenharia, avaliar todos os riscos que possam existir no ambiente de trabalho.  E adotar as medidas para erradicar ou minimizar esses riscos. E os trabalhadores devem receber treinamento frequente – pelo menos anualmente – sobre os riscos à sua saúde ou sua integridade física a que possam estar expostos.

A construção civil é, há décadas, a campeã de acidentes de trabalho. No setor industrial, como os riscos são maiores, a atenção das empresas também é maior mas, mesmo assim, muito aquém do que seria necessário para colocar o Brasil numa posição de vanguarda no mundo. No comércio e na área de serviços, como os riscos são menores, os cuidados simplesmente não existem. Faça esse teste num edifício comercial, de escritórios, em sua cidade. Pergunte a alguém que trabalha lá, quando foi o último exercício de abandono do local de trabalho. Provavelmente ele não saberá sequer do que você está falando.  A legislação trabalhista, no entanto, exige que pelo menos uma vez por ano seja feito um exercício de abandono do local de trabalho em caso de incêndio ou outras emergências.

Com os mesmos olhos de saúde e segurança, devemos olhar as questões relacionadas ao conforto no ambiente de trabalho. Outro teste que você pode fazer: vá ao escritório central de um grande banco ou qualquer grande empresa na Avenida Paulista, em São Paulo, ou na Rio Branco, no Rio. Visite a instalações destinadas ao lumpemproletariado dos escritórios: faxineiras, vigilantes, recepcionistas, telefonistas e outros serviços normalmente terceirizados.  Deveriam ter vestiários, armários individuais, chuveiros, refeitório…  Você não encontrará nada disso. São áreas muito valorizadas para essa finalidade e esses trabalhadores, mesmo nos pontos mais nobres da cidade, estão sempre sujeitos a situações degradantes.

Mais uma vez, não é falta de regulamentos legais. O Brasil tem uma das legislações mais completas do mundo na área de saúde, segurança e conforto no local de trabalho. O Ministério do Trabalho tem perto de 40 NRs – Normas Regulamentadoras – muito bem elaboradas e que praticamente esgotam toda a temática, desde o tamanho e quantidade de sanitários que devem existir no local de trabalho até procedimentos especiais para trabalho em ambientes confinados.

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Também mais uma vez o que falta é fiscalização, sindicatos atuantes e, sobretudo, um autêntico comprometimento do empresário com os direitos humanos de seus empregados. Provavelmente não perceberam que esse descaso acabará comprometer a reputação de sua empresa e, por consequência, os seus resultados de seu negócio.

Felizmente, nem todas as empresas são assim. Participei de algumas reuniões do board de uma metalúrgica americana. Era obrigatório que, nessas reuniões, que o diretor de cada unidade de negócios iniciasse sua apresentação com um slide com resposta à pergunta: “Quantas pessoas já ferimos este ano?”. Só depois de esgotar esse tema o executivo apresentava os resultados financeiros de sua unidade.

Caiubi Miranda

Redação

1 Comentário

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  1. Texto ingênuo, q confunde discurso empresarial c/ a realidade…

    O lucro pode nao ser a única preocupaçao das empresas, mas vem em primeiro, segundo, terceiro, quarto, quinto lugares; depois sobra um pouquinho de preocupaçao com outras coisas (e sobretudo por medo de que afetem o lucro…)

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