Nelson, 40 graus

Do Portal Luís Nassif

Do Blog de João de Deus Netto

“Escrevi o roteiro do Rio, 40 graus, mas não consegui produção, pois ninguém queria fazer um filme com personagens negros…” (Entrevista no final do post).

Filho de um alfaiate e de uma dona-de-casa de origem italiana,Nelson Pereira dos Santos nasceu no bairro do Brás e foi criado no Bixiga, em São Paulo. No início dos anos 50, formou-se pela Faculdade de Direito do Largo São Francisco, mas já estava apaixonado pelo cinema. Escolheu então o Rio de Janeiro para morar e iniciou a trajetória que o tornaria um dos mais importantes precursores do movimento do Cinema Novo.

Após uma viagem a Paris, fez o curta-metragem “Juventude”, um documentário em 16 mm. No ano seguinte estreou como assistente de direção no filme “O Saci”, de Rodolfo Nanni. Em 1955, aos 27 anos, lançou o longa “Rio 40 Graus”, o primeiro de uma trilogia idealizada sobre a cidade que adotou. Dois anos depois concluiu “Rio, 40 Graus”.


Nelson Pereira dos Santos fez mais de 20 filmes, entre os quais “Vidas Secas”, “Boca de Ouro”, “Mandacaru Vermelho”, “El Justicero”, “Fome de Amor”, “Como Era Gostoso o Meu Francês”, “Azyllo Muito Louco”, “Amuleto de Ogum”, “Jubiabá”, “A Terceira Margem do Rio”, “Cinema de Lágrimas” e “Tenda dos Milagres”.

Em 1984, transformou uma obra-prima de Graciliano Ramos, “Memórias do Cárcere”, em filme e ganhou o prêmio da crítica especializada no Festival de Cannes, França.


Nelson foi professor fundador do curso de cinema da Universidade de Brasília (o primeiro do Brasil). Lecionou ainda na Ucla (Universidade da Califórnia em Los Angeles) e na Universidade de Columbia, em Nova York. É também membro do Conselho Superior da Escola de Cinema de Havana.

Seu trabalho mais recente é o filme “Brasília 18%”, cujo título é uma referência à baixa taxa de umidade do ar na cidade.

Durante 49 anos Nelson foi casado com a antropóloga Laurita Andrade Sant’Anna dos Santos, que faleceu em junho de 1999. Tem três filhos – Nelson, Ney e Márcia – e cinco netos.

No dia 17 de julho de 2006, aos 77 anos, foi o primeiro cineasta a se tornar membro da Academia Brasileira de Letras, na cadeira de número 7, cujo patrono é Castro Alves, que pertencia anteriormente a Sergio Correia da Costa.

O jovem cineasta Nelson
FRANÇOIS TRUFFAUT disse certa vez que toda a obra de um cineasta está contida no primeiro carretel de seu primeiro filme. Talvez essa afirmação seja válida somente para aqueles realizadores que apresentam grande coerência no interior de suas obras. Esse é o caso de Nelson Pereira dos Santos.
No primeiro carretel de Rio, 40 graus, podemos identificar uma característica que estaria presente durante toda sua trajetória como artista: o amor pelo Brasil. No entanto, a nação que Nelson Pereira dos Santos decidiu levar para as telas não é aquela dos cartões-postais, com belas praias ensolaradas. O Brasil que o diretor se propôs a retratar em seus filmes era grande demais para caber em versões oficiais, pois era o país dos favelados, dos flagelados pela seca, dos artistas do povo, do universo mágico popular, dos intelectuais em crise ou atuantes diante dos regimes ditatoriais.
O cineasta concedeu uma entrevista à “Estudos Avançados”, em 2007, quando falou sobre alguns de seus filmes e, por extensão, sobre o Brasil dos últimos cinqüenta anos.

ESTUDOS AVANÇADOS – Você começou a ir ao cinema ainda na década de 1930. Quais eram os filmes a que o menino Nelson Pereira dos Santos assistia nas matinês dos cinemas do Brás?
Nelson Pereira dos Santos – Minha mãe contava que levava a família às matinês dominicais do Cine-Teatro Colombo. Morávamos no outro lado da rua. As sessões começavam logo depois do almoço – “Quem não comer tudo não vai ao cinema!” – e terminavam às 7 da noite. No programa: dois longas, dois seriados, tipo Tom Mix ou Tarzan, uma comédia de curta-metragem, pelo menos um desenho animado e alguns trailers dos programas a seguir.
Acho que o primeiro filme que vi, ou pelo menos aquele que mais me marcou, foi um western. Lembro-me apenas da parte final, quando o herói, um jovem caubói, atravessa o deserto, última etapa para voltar à sua cidade e aos braços da amada. Está faminto e sedento. Encontra uma casa em ruínas e, nela, um poço com terrível aviso: “Quem beber dessa água, morrerá em uma hora”. O herói despreza a advertência, mata a sede e continua a cavalgar. Consegue chegar à cidade, que se encontra em plena celebração de um casamento. O casamento de sua amada com outro…

Continue com a ENTREVISTA

Luis Nassif

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