Os mortos e o demagogo, por Maurício Dias

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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As fúnebres tentativas do presidente Temer de buscar a legitimidade que lhe falta (Foto: Beto Barata/PR)Velório de Teori

Ele ficou na ideia do “acidente”

da CartaCapital

Os mortos e o demagogo

por Maurício Dias

É fácil identificar Michel Temer no velório do ministro Teori Zavascki. É aquele que projeta a mão sobre o caixão e capricha na expressão de tristeza. Exemplo semelhante ao que ocorreu quando, protegido por grande aparato de segurança, compareceu à cerimônia fúnebre dos jogadores da Chapecoense, mortos também em acidente de avião. 

Por descuido dos assessores, manifestou-se, com atraso de quatro dias, a respeito da violência do massacre no presídio de Manaus. Influenciado talvez pelos acontecimentos anteriores que o haviam conduzido até cerimônias fúnebres, ele classificou a matança como “acidente”.

São três episódios funestos em pequeno espaço de tempo. Eles revelam, no entanto, o objetivo político de Temer. Ou, vá lá, eleitoral, se o eleitor for bobo.

Acuado no Palácio da Alvorada, onde fica com a família, e no Palácio do Planalto, onde despacha, valeu-se da tragédia para mostrar a cara aos brasileiros e, com isso, tentar alavancar a baixíssima popularidade. Ele tenta encontrar, e continuará tentando, algo similar com a legitimidade que não possui: o voto. 

Esse sonho impossível levou Temer ao velório do ministro Teori, que, após a morte, tornou-se herói brasileiro. Pelo menos na imaginação do juiz Sergio Moro ao discursar no velório.

Implicado na Operação Lava Jato por suspeita de receber propinas, Temer era um provável réu de Teori, o juiz no qual muitos confiavam e outros nem tanto.

Em torno do falecido foram fotografados oportunistas sem toga. A maioria deles temente aos togados por estarem incluídos na Lava Jato. É o caso dos ministros Eliseu Padilha, o “Primo”, e José Serra, o “Careca”. Apareceram por lá também Geraldo Alckmin, o “Santo”, e Rodrigo Maia, o “Botafogo”.

Não é incomum a solidariedade fingida. É raro, no entanto, um grupo de políticos notórios velarem um morto que em vida não apreciavam. Inegável demagogia. Exigem-se para tanto frieza e arte.

Temer

  • São três episódios funestos em pequeno espaço de tempo (Foto: Beto Barata/PR)

Temer tentou pegar carona no assustador combate travado entre detentos no presídio de Manaus, chamado por ele de “acidente pavoroso”. Despertou tarde demais.

Para salvar a pele e as aparências, valeu-se da convocação das Forças Armadas. Uma decisão tomada por sugestão atribuída a Ayres Britto, ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal, ou, talvez, movido pela estultice do ministro da Defesa, Raul Jungmann.

Apesar de 21 anos de ditadura, o Exército é hoje uma das instituições de maior credibilidade dos brasileiros. Por isso, recusa uma atividade não prevista na Constituição.

Em certos momentos, a criminalidade pode causar comoção social. Não é o caso de agora. A situação, neste momento, está circunscrita à esfera policial. É tarefa da PM e não do Exército.

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

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