O que a rebelião chilena pode ensinar à elite neoliberal brasileira?


A família Bolsonaro previsivelmente culpou Cuba pelo que está ocorrendo no Chile. Essa é mais uma Fake News que custará caro à diplomacia brasileira. A revolta popular chilena, é o resultado da exclusão social promovida pelo neoliberalismo, modelo político-econômico que sequestrou o Estado e o transformou num instrumento frio, cruel e calculista que só tem uma prioridade: a concentração de renda.

Aos vencedores as batatas. Aos derrotados munição viva. A repressão violenta às manifestações apenas elevou a temperatura política chilena. Não se enganem, estamos diante de uma ruptura que pode resultar tanto numa revolução quanto num genocídio. Qualquer que seja a solução o resultado será o mesmo: mais violência política e a impossibilidade de garantir a previsibilidade de lucros crescentes.

O que ocorreu no Egito, país cuja exclusão social resultou em violência política rapidamente evoluindo para uma catástrofe econômica ainda maior, me parece ser o exemplo mais adequado para tentar entender o que está ocorrendo no Chile. No Egito os militares entraram em cena para remover qualquer possibilidade de democracia. No Chile a democracia já está sendo tutelada pelos generais que se uniram a Sebastián Piñera. Mas eles também podem resolver descartá-lo para pacificar os rebeldes que identificam o presidente como o maior inimigo do povo chileno.

No imaginário daqueles que detém o poder econômico e lucram com o neoliberalismo a democracia é só um detalhe. A ditadura também. Nisso o neoliberalismo se distingue do nazismo e do fascismo, regimes políticos que dependiam da identificação do poder com um único líder. O neoliberalismo é uma ideia autoritária capaz de substituir seus representantes políticos com muita facilidade. Quanto maior for a aparência de democracia (digo isso pensando nos EUA) melhor para a perpetuação do ideal neoliberal.

Esta lição parece ter sido compreendida por Jair Bolsonaro. Ele sabe que se tentar dar um golpe de estado pode se descartado. O mais provável é que ele siga em frente encenando um autoritarismo retrô cuja principal instrumento é o anti-petismo alegremente difundido pela grande imprensa. Todavia, desde o início do ano a imprensa tem deixado claro que não vai tolerar ser censurada por uma nova ditadura. O compromisso dela é com o neoliberalismo e não com os Bolsonaro.

O neoliberalismo lucra com a concentração de renda, não com o aumento da produção. Portanto, milhões de brasileiros continuarão desempregados. Os que estiverem empregados não terão salários descentes. Direito à assistência médica e aposentadoria serão exceções. A regra será o empobrecimento sustentável da população.

A primeira geração pós golpe de 2016 já está sendo esmagada. A segunda nem mesmo saberá que foi esmagada para garantir lucros financeiros crescentes de algumas famílias porque não terá direito à educação. Em menos de 20 anos retornaremos ao ponto em que estávamos antes da revolução de 1930.

A explosão da miséria vai provocar o declínio dos lucros, o aumento da sonegação fiscal e queda da arrecadação tributária. O Estado brasileiro se tornará mais e mais endividado e incapaz de remediar os problemas sociais. Em pouco tempo os órgãos estatais se voltarão para dentro de si mesmo, pois os servidores (especialmente aqueles que são bem remunerados) ficarão com medo de perder seus privilégios. Esse fenômeno já pode ser visto no Judiciário.

Na melhor das hipóteses, num futuro previsível o Brasil será sacudido por rebeliões violentas como as do Chile (e do Egito). Na pior o ódio de classe será mobilizado pelo ódio regional colocando em risco a integridade territorial. Lula livre é uma bandeira capaz de mobilizar o Brasil em torno de uma solução pacífica como a que ocorreu quando da primeira eleição do “sapo barbudo”? Nesse momento é impossível responder essa pergunta, pois as variáveis políticas em jogo são muitas e dependem de fatos futuros e incertos que não ocorrerão em nosso país.

Fábio de Oliveira Ribeiro

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