Um professor de língua javanesa no STF?

A Flip de 2017 fará uma homenagem a Lima Barreto, o maior escritor brasileiro do início do século brasileiro

http://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2016/11/lima-barreto-sera-homenageado-na-flip-2017.html

Aqui mesmo no GGN já fiz algumas referências ao mulato genial algumas vezes: https://jornalggn.com.br/blog/fabio-de-oliveira-ribeiro/lima-barreto-e-o-golpe-de-2016

https://jornalggn.com.br/blog/fabio-de-oliveira-ribeiro/as-delacoes-premiadas-e-a-literatura-brasileira-por-fabio-de-oliveira-ribeiro

https://jornalggn.com.br/blog/fabio-de-oliveira-ribeiro/lula-um-%E2%80%9Cmuyrakyta-filosofal%E2%80%9D-que-revelou-os-novos-bruzundangas

Revisitarei a obra de Lima Barreto por causa de Alexandre de Moraes. Após ser indicado para ocupar uma cadeira no STF, o Ministro da Justiça do usurpador foi acusado de cometer vários plágios.

https://jornalistaslivres.org/2017/02/professor-da-ufmg-acusa-alexandre-de-moraes-de-plagio/

https://jornalistaslivres.org/2017/02/mais-um-plagio-de-alexandre-de-moraes/

http://brasil.elpais.com/brasil/2017/02/07/politica/1486502206_957291.html

A notícia chegou a Espanha, onde a viúva de um jurista plagiado lamentou a desonestidade intelectual de Alexandre de Moraes. Ninguém ficará surpreso se a detentora dos direitos autorais das obras plagiadas ajuizar processos contra o plagiador. Por outro lado, é evidente que a respeitabilidade da justiça brasileira na Espanha e em outros países europeus ficará bastante comprometida com a posse de Alexandre de Moraes no STF.

Imediatamente o jurista brasileiro foi comparado a um plagiador alemão. Após ser fustigado pela mídia, o ministro Karl zu Guttenberg caiu em desgraça e renunciou ao cargo http://www.pragmatismopolitico.com.br/2017/02/similaridades-karl-zu-guttenberg-alexandre-de-moraes.html. Alexandre de Moraes parece não se importar com as acusações de plágio, pois tem sido incensado pela imprensa brasileira.

Em um dos seus contos, Lima Barreto ridicularizou a desonestidade intelectual que assolava o Brasil no princípio do século XX. Refiro-me ao O Homem que Sabia Javanês, que pode ser encontrado na íntegra na internet http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ua000165.pdf.

O anuncio de jornal que desencadeia a saga do personagem Precisa-se de um professor de língua javanesa. Cartas, etc. poderia muito bem ser postado na internet por Michel Temer nos seguintes termos Precisa-se de um ministro do STF que fale a língua dos corruptos. Acórdãos, etc. Como o ambicioso e versátil Castelo, Alexandre de Moraes está disposto a fazer o que lhe mandam em troca do cargo e de um excelente salário mensal.

A trajetória de Castelo é meteórica. Apesar de ser um farsante o professor de língua javanesa obtém reconhecimento e aplausos da boa sociedade brasileira. Após quase ser descoberto por um marujo que realmente falava javanês, ele brilha na Europa durante um congresso de línguas em que foi inscrito como especialista em tupi-guarani. Ao retornar ao Brasil o ilustre senhor Castelo convidado para almoçar com o presidente da república que lhe concede o posto de Cônsul em Havana.

Nada parece ser capaz de interromper o sucesso do personagem narrador. O texto de Lima Barreto termina como começou, ou seja, com uma conversa de bar. É impossível dizer se o narrador está ou não mentindo.  Aí reside a verdadeira ironia, pois em nosso país não era e não é incomum charlatões como Castelo granjearem admiração e conquistarem cargos importantes.

Ao contrário de Castelo (que é senhor absoluto de sua narrativa, seja ela ou não fantasiosa), Alexandre de Moraes perdeu o controle da sua imagem de jurista respeitável. A nódoa da desonestidade intelectual vai aderir à sua obra e à sua pessoa e se transferirá para qualquer sentença ou Acórdão em que seus textos forem citados. Se a indicação dele for acolhida pelo Senado em pouco tempo o STF será conhecido na Europa como El tribunal de mierda.

 

Fábio de Oliveira Ribeiro

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