Dia de Zumbi de Palmares

Por J.Roberto Militão

A equivocada designação do dia da ´Consciência Negra´ retira o maior significado da data histórica hoje celebrada: a justa homenagem a ZUMBI DE PALMARES, o primeiro herói brasileiro a lutar e morrer pela independência e por liberdades contra a escravidão e contra a Coroa Portuguesa. 

Designar 20 de novembro como da ´Consciência Negra´ é um projeto racialista, que seduz a academia e ativistas submissos aos projetos financiados pelas Fundações norte-americanas visando reforçar nos afro-brasileiros uma identidade ´racial´ que não temos, o que foi um propósito do racismo desde o século 18. Mesmo a designação do movimento da “consciência negra” é um intencional erro de tradução de cunho racista.

A linguagem racista prefere designar os afrodescendentes como ´negros´ – uma designação racial indigna pois se refere a uma ´raça inferior´ – sonegando assim a humanidade das cores da melanina presente em todos os humanos que podem ser brancos, pretos, pardos, amarelos ou vermelhos. A designação de africanos por ´negros´ é um típico rótulo empregado pelos ideais do racismo no século 18, a fim de designar a ´raça inferior´ – raça ´negra´ – destinada à escravidão com tal designação aviltante e degradante, conforme o art. 10 da lei de Marquez de Pombal ´Directório do Índio´ de 1755.

Diz a lei pombalina editada em proteção aos índios, até então escravizados e designados ´negros da terra´: – “art. 10 – Entre os lastimosos princípios, e perniciosos abusos, de que tem resultado nos Índios o abatimento ponderado, é sem dúvida um deles a injusta, e escandalosa introdução de lhes chamarem Negros; querendo talvez com a infâmia, e vileza deste nome, persuadir-lhes, que a natureza os tinha destinado para escravos dos Brancos, como regularmente se imagina a respeito dos Pretos da Costa da África. E porque, além de ser prejudicialíssimo à civilidade dos mesmos Índios este abominável abuso, seria indecoroso às Reais Leis de Sua Majestade chamar Negros a uns homens, que o mesmo Senhor foi servido nobilitar, e declarar por isentos de toda, e qualquer infâmia, habilitando-os para todo o emprego honorífico: Não consentirão os Diretores daqui por diante, que pessoa alguma chame Negros aos Índios, nem que eles mesmos usem entre si deste nome como até agora praticavam; para que compreendendo eles, que lhes não compete a vileza do mesmo nome, possam conceber aquelas nobres idéias, que naturalmente infundem nos homens a estimação, e a honra.”

A própria designação do movimento político de ´Consciência Negra´ já significa a subversão com linguagem racialista de uma luta por dignidade dos africanos. Este movimentno – The Black Consciousness Movement – nasceu na África do Sul nos anos 1970, anos após a prisão de Nelson Mandela.

O jovem STEVE BIKO fundador e lider desse movimento político que não era de ´negros´ pois era de pretos (black´s) ou seja um movimento de consciência de humanos pretos. (Steve Biko co-founded the South African Students’ Organization in 1968, subsequently spearheading the nation’s Black Consciousness Movement, and co-founded the Black People’s Convention in 1972.- http://www.biography.com/people/steve-biko-38884 ).

Tanto na África quanto nos EUA, assim como no Brasil, ainda hoje designar os pretos como ´negros´ continua sendo uma grave ofensa à dignidade humana. Conforme o IBGE, apenas 8% dos afro-brasileiros se autodefinem como ´negros´, portanto nós, pretos e pardos, majoritariamente, não nos consideramos pertencentes à ´raça negra´. Afirmar o contrário disso é violaçãoi de um princípio básico da antropologia: alterar a voz do grupo humano com a imposição de conceitos externos.

 –  https://www.facebook.com/photo.php?fbid=906631936094066&set=a.313624602061472.67544.100002418055723&type=3 –

Na verdade 20 de novembro é uma das principais datas de nossa história. Essa data reverencia a dignidade e altruísmo de escravos no Brasil que lutaram e resistiram pela conquista da liberdade, a condição inata da dignidade humana: “Todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade.” consagrou os ideais iluministas que nascia na época de Zumbi.

A luta pela liberdade e dignidade dos escravos está documentada por milhares de quilombos em todo o Brasil nas chamadas ´Terras de Pretos´, existentes até hoje. São os Remanescentes de Comunidades Quilombolas que ainda lutam pelo reconhecimento da propriedade de suas terras ocupadas nos termos do art. 68 das Disposições Transitórias da Constituição democrática de 1988.

Hoje, 20/11 é o dia de reconhecimento e homenagem à liderança de Francisco, ´Zumbi de Palmares´, o primeiro dos grandes heróis brasileiros na luta pela liberdade e independência.

Essa extraordinária figura história precisa ser ensinada nos bancos escolares. Ele foi o primeiro brasileiro a morrer por defender, de forma organizada, a liberdade de brasileiros em face do Império português. Muito antes de Tiradentes, foi executado em 20/11 de 1695 após anos de ataques das forças imperiais. Por ordem do Rei de Portugal foi contratado a peso de ouro, um exército de mercenários contratados e comandados por um facínora bandeirante de São Paulo, Domingos Jorge Velho.

ZUMBI não foi um personagem qualquer. Nasceu livre em 1655, na Serra da Barriga, Capitania de Pernambuco, atual União dos Palmares, Alagoas, mas foi capturado e entregue a um missionário católico português quando tinha aproximadamente seis anos. Foi batizado ‘Francisco’, Zumbi recebeu os sacramentos, aprendeu português e latim, e ajudava diariamente na celebração da missa. Era, portanto, um intelectual com acesso a boa literatura naquela época de poucas letras mesmo entre os colonizadores, geralmente, analfabetos.

Palmares é designada pelos historiadores como a ´República de Palmares´ pois, de 1660 a 1695, chegou a ter 30.000 habitantes, pretos, pardos, brancos e índios, com território equivalente ao tamanho de Portugal, com exército, economia e governo independentes da ordem régia vigente. Até então nenhum movimento separatista ou de independência havia surgido no Brasil. Eis a pujança da figura heroica: ele não aceitou um acordo proposto pelo governador de Pernambuco, em nome do Rei. A anistia e a alforria a todos os palmarinos desde que continuassem submissos à Coroa portuguesa.

ZUMBI foi o último dos líderes da República de Palmares, totalmente destruída após o cerco e a longa guera de resistência: “Zumbi é considerado um dos grandes líderes de nossa história. Símbolo da resistência e luta contra a escravidão, lutou pela liberdade de culto, religião e prática da cultura africana no Brasil Colonial. O dia de sua morte, 20 de novembro, é lembrado e comemorado em todo o território nacional.”, diz o prof. Edison Carneiro o principal historiador de Palmares (Carneiro, Edison. O Quilombo dos Palmares, Ed.Civilização Brasileira, 3a ed., Rio, 1966, p. 27).

Em 14 de março de 1696 o governador de São Paulo, Caetano de Melo de Castro escreveu ao Rei de Portugal: “Determinei que pusessem sua cabeça em um poste no lugar mais público desta praça, para satisfazer os ofendidos e justamente queixosos e atemorizar os negros que supersticiosamente julgavam Zumbi um imortal, para que entendessem que esta empresa acabava de todo com os Palmares.”.

ZUMBI não foi um líder racial. Foi uma liderança por liberdade, uma pré condição para a dignidade e os direitos de humanos.

Redação

13 Comentários

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  1. Palmares era um sociedade

    Palmares era um sociedade igualitária sem classes onde não existia a exploração do homem pelo homem, era uma sociedade onde o socialismo primitivo se mostrava plenamente.

    Não existia a propriedade privada e a cidadania era plena. Os lideres eram escolhidos em assembléia popular.

    Infelismente o grande latifundio opresspr imperialista destruiu por completo Palmares porque colocava em risco o sistema mercantilista da época.

    Hoje a historia se repete com outros atores, o grande latifundio oprime e explora o trabalhador rural, como antes fazia com os escravos.

     Foi assim que meus professores de história me ensinaram.

     

  2. Discordo.
    Muito antes de
    Discordo.

    Muito antes de Zumbi, Cunhambebe e seus tupinambás e tamoios lutaram ferozmente contra a capitania de São Paulo. Não fosse a paz celebrada pelos jesuítas a colonização portuguesa do sudeste teria tido o mesmo destino que o primeiro assentamento colonial na Bahia.

    Transformar Zumbi num primeiro herói mítico omitindo o papel dos índios que antes dele lutaram para conservar Pindorama livre dos colonos é inadmissível. Isto além de caracterizar evidente racismo negro contra os únicos e verdadeiros senhores desta terra invadida a partir de 1500.

    1. Resistência à invasão x luta por independência

         Dr. Fábio,

         Creio que sejam coisas distintas. Sou antirracista e meu texto visa exatamente retirar do 20 de novembro a conotação de ter sido uma luta racial o evento histório em torno de Zumbi.

          A consagração da luta de Zumbi no século 16, tem outra conotação política, que não é essa conotação racial que os momvimentos negros querem utilizar. E o faço sem qualquer desconsideração à verdade histórica tão evidente que o senhor destaca: os nativos são os verdadeiros senhores de Pindorama.

         Porém, politicamente, os tupinambás, os tamoios e outras etnias nativas da costa brasileira, os astecas (México) e os Incas (Peru, Equador, Bolívia e Chile) lutaram e fizeram resistência contra a ocupação colonial. Foram derrotados, infelizmente.

         De outro lado, ainda sob o ponto de vista político, os quilombolas em geral, e Zumbi em especial, depois os inconfidentes e outros movimentos travaram lutas políticas pela liberdade e independência, se insurgindo contra o colonialismo português. Foram lutas que semearam os ideais da nação conformada pela ocupação com os três povos: os índios nativos, os africanos ex-escravos e o colonizador, conforme descrito por Sergio Buarque em ´Raízes do Brasil´.

         A luta pela independência, acabou vitoriosa a despeito das desigualdades sociais que as elites conseguiram cristalizar no processo de desenvolvimento. Mas essa é outra história da qual, nós, a nossa geração tem o dever de ser protagonistas para altera-la.

          O que reivindico é a consagração do heroismo de quem despertou a possibilidade de independência após a consolidação da ocupação  e genocida destruição dos antigos senhores da terra. Sem qualquer intenção de supremacia histórica, aliás, um dos objetivos de meu texto é retirar a idéia de ´raça´ dos eventos de 20 de novembro.

      abç

  3. afrodescendente é a mãe

    “Todos somos afrodescendentes. O homem não surgiu na África?”

    –  Giba-Giba em filme-documentário, artista, cantor e compositor gaúcho, por um acaso negro. ( doc. q passou na TV Brasil ou foi no canal CURTA! e talvez tenha na web)

    É uma pena que nem mesmo Militão conseguiu se emancipar dessas colonialices.

    – Nickname (Humberto, árabe-português-africano-índio-descendente, ou, melhor ainda: africanosubsaariano-africanosaahriano-árabemédiooriental-índio da terra ainda sem nome-europeu descendente).

    1. Pela Raça Humana e pela Humanização dos Presídios Brasileiros

      fico triste ao não ver posts, poesia, bandeira, manifestações, passeatas, gritos pela humanização dos presídios brasileiros. Somos, continuamos confortavelmente omissos, cúmplices .

      Mas, somos pessoas de bem, concientizadas, politizadas, humanistas, de esquerda-direita-ou de centro. –

      SOMOS?

  4. Marilene Felinto tem umas coisas a dizer sobre o tema

    “A categorização por minorias é a maneira civilizada de continuar a segregação nos Estados Unidos” – subtítulo de uma sua reportagem especial num jornal.

    Como uma vez respondi a Militão, não reproduzo aqui e em nenhum lugar, porque ela uma vez me desautorizou por email (ao me dirigir a ela, sabendo que renega tudo o que publicou na grande imprensa, mesmo esse importante artigo, mesmo muitas de suas corajosíssimas , tocantes e poéticas crônicas, muito bem escritas).

    http://marilenefelinto.com.br

    https://midiafazmal.wordpress.com/

  5. Racialista é o projeto de Nacionalidade Brasileira

    Historicamente no Brasil a afirmação de que outro ser humano era negro serviu como modo de racializar pessoas, construir um sistema de poder e significados que retirava a condição de humanidade de uma grande população, tendo essa sido formada por povos e etnias que para este país vieram contra a sua vontade.

    Este processo faz parte da constituição, ou a tentativa de, construir um estado-nação, aos moldes do processo que ocorria na Europa. Contudo, a Nação-Nacionalidade inventada cria uma distorção. Uma vez que ela não ocorre da mesma forma em todos os locais. No Brasil esse projeto foi bastante entrecortado e em cada fase teve um significado e força. O atual molde vem do projeto cunhado por Getúlio Vargas, posteriormente continuado pelos governos e ditaduras que ocorreram no país.

    Em todos os locais, aqui e na África a nacionalidade sempre foi uma imposição, uma forma de deslegitimar uma cultura e fagocitar um povo para um projeto ao qual ele não é agente. Uma violência Simbólica sobre conjuntos de pessoas e populações. 

    De modo que a história do Brasil foi recolocada de acordo com o projeto nacionalista que surge na ditadura getulista, expresso no projeto de educação e cultura de Gustavo Capanema. Que excluiu totalmente as lutas das populações negras, suas organizações, construídas  desde o século XIX, e a forma como os negros livres atuavam.

    A exclusão no ensino das lutas de Luís Gama e Luísa Mahin – por exemplo – são uma das formas de se afirmar uma nacionalidade “brasileira” legitimando um projeto que materialmente e simbólicamente exclui as populações negras.

    Claude Lévi-Strauss, grande antopólogo do século XX – membro da missão francesa que veio a fundar a USP –  em uma passagem de seu livro “Tristes Trópicos” revela como foi preso ao tirar fotos de crianças negras em Salvador. cito a passagem:

    “Não ando cem metros e a mão de alguém se abate sobre meu ombro; dois inspetores à paisana que seguiam passo a passo desde o início do passeio, informam-me que acabo de cometer um ato hostil ao Brasil: essa fotografia, utilizada na Europa, podendo dar crédito à lenda de que há brasileitos de pele negra e de que os meninos de Salvador andam descalços. Sou detido, por pouco tempo, felizmente, pois o navio vai partir (Tristes Tópicos 2004 p 028).”

    Em momento anterior Claude Lévi-Strauss, ao ser recebido pelo embaixador do Brasil na França ouviu da boca de Luís de Souza Dantas antes de sua viagem ouviu do embaixador:

    “Índios? Infelizmente, prezado cavaleiro, lá se vão anos que eles despareceram. Ah, essa é uma página bem triste, bem vergonhosa da história de meu pais. Mas os colonos portugueses do século XVI eram homens ávidos e brutais. Como reprova-los por terem participado da rudeza geral dos costumes? Apanhavam os índios, amarravam-nos na boca dos canhões e estraçalhavam-nos vivos, a tiros. Foi assim que os eliminaram,  até o último. Como sociólogo, o senhor vai descobrir no Brasil coisas apaixonantes, mas nos índios, não pense mais, não encontrará nem um único (Tristes Tópicos, 2004, p 046)”

    O livro do professor da UNICAMP Mário Augusto Medeiros da Silva “A descoberta do Insólito: Literatura Negra e literatura periférica no Brasil (1960-200)”, nos mostra como desde o século XIX havia autores negros, com romances e poesias onde o narrador era negro e as narrativas versavam sobre a constituição do racismo.

    Não há um único dicionário de literatura e de história que faça referência a existência da afirmação da subjetividade negra desde o século XIX. E não há porque o projeto nacionalista construído em meados da década de 1930 tinha como objetivo essa forma de exclusão.

    A lei 10.639/2003 faz uma lista de personalidades, nos mais diversos campos do conhecimento e países como uma forma de reconstituir a possiblidade de uma visão crítica da história do Brasil. É sem dúvida a maior conquista do movimento negro no século pós-escravidão, aponta para uma discussão sobre a sociedade brasileira que remete a discussão sobre a diferença cultural dentro do Brasil, contudo, ela nem mesmo é citada no texto acima.   Todos os movimentos negros do Brasil tem buscado essa lei como uma referência para seus debates.

    Todas as personalidades, mulheres e homens, que contribuíram para a luta contra o racismo, na história, na literatura, nas artes em geral, na música etc. são tomados como foco para essa lei. Assim como todos os autores e autoras, personalidades que combateram o racismo no mundo. Stevie Biko e Zumbi fazem parte da mesma luta em séculos completamente diferentes o que justifica separar suas lutas? Somente a aceitação de uma nacionalismo ingênuo e autoritário explica a separação.

    Desde a criação da Fundação cultural Palmares, no governo Sarney, o Estado Brasileiro tem agido no sentido de reconhecer o direito a cultura e a diferença. Ainda que seja necessário criticar os limites das ações tomadas, todos os governos desde então tem contribuído para o debate.

    Vou ficar apenas nesses dois exemplos a partir da obra desses autores, um autor que dispensa apresentações para simbolizar a discussão no passado, e o segundo um jovem professor da atualidade para fazer o debate do ponto de vista atual das pesquisas, para demonstrar como o projeto de nacionalidade excluía qualquer forma de imagem dessas populações. O projeto de nacionalidade não se restringia à exclusão social – se constituiu como um modelo autoritário de exclusão simbólica das populações que faziam parte da “sociedade brasileira” e que não possuíam o perfil racial exigido pelo projeto de Nação do Brasil.

    Racialista é o projeto de nacionalidade, supostamente neutro, mas que possui uma concepção bem definida de raça por trás. Como fica evidenciado acima.

    Fazer uma oposição entre Zumbi, por ser esse nacional, e Biko, por esse não ser, é aceitar, mesmo que inconscientemente essa concepção de raça subsumida no conceito de nacionalidade brasileira construída desde a década de 1930.

    Uma discussão que não questione esse fato e acuse as populações excluídas desse processo de serem racialistas por buscarem seu direito de escolha, por buscarem o direito de poder escolher a forma coo querem ser identificadas e que valorizam a constituição de seu corpo e cabelo na afirmação de uma identidade positiva é tão autoritário quanto o projeto nacionalista constituído no Brasil.

    Podemos ainda recorrer a sequência de trabalhos, de diversas matrizes teóricas para demonstrar que o projeto de Estado-Nação que moldou a formação dos Estados Nacionais no século XX sofre questionamentos por parte de populações que passam a construir suas subjetividades em novos parâmetros – alguns dessas identidades se tornam transnacionais.

    A construção de uma “identificação Negra” em diversos espaços do mundo, principalmente nas Américas, é um processo global. Se os movimentos sociais e culturais nos mais diversos países buscam por reconstruir identidades e histórias e promovem o intercâmbio entre as populações – seja através do Hip-Hop, ou através do movimento Negro, é uma característica de um processo social muito mais amplo e busca por um direito negado durante o século XX.

    Só o desconhecimento sobre a Globalização, sobre a história do século XX,  desconhecimento da forma como processos globais de identidade e identificação se apresentam me permite entender que ainda haja alguém que considere como sendo uma “importação estrangeira” no Brasil alguém usar o termo “consciência negra”. Como podemos ver nas discussões de Paul Gilroy e Stuart Hall. Para ficar apenas em dois exemplos.

    Tanto no Brasil quanto na África do Sul se remeter ao instrumento de um conceito – consciência negra- foi e ainda é uma forma de luta contra o extermínio físico e simbólico.

    A categoria “Negro” é um conceito político. É um instrumento de luta e reinvindicação. Uma democracia real reconhece o direito de autoidentificação e autoafirmação à suas populações. Um conceito de liberdade que se aplique na prática passa por construir a possibilidade de construção de subjetividades positivas. Enquanto isso for necessário os conceitos são necessários.

    Negar a história, negar a possibilidade de identificação às populações para que elas construam suas subjetividades em nome da aceitação ingênua de nacionalidade homogênea é um ato profundamente autoritário e antidemocrático.

    Questionar as estratégias dos movimentos negros no Brasil desconhecendo o debate travado pelos intelectuais, movimentos sociais e culturais, sem fazer qualquer referência ao debate proposto só pode ter como intuito deslegitimar o debate.

    É uma estratégia antidemocrática de debate, pois ao não usar como referência os pontos que realmente estão sendo discutidos pretende não oferecer ao leitor indicativos de quem pensa o contrário do autor.

    Podemos inclusive nesse ponto outra forma de desconhecimento.

    Há uma série de autores que hoje discutem a possibilidade de o Estado constituído a partir de uma concepção liberal ser capaz de reconhecer a Diferença Cultural e a autenticidade cultural.

     Podemos ver isso no debate entre Liberais e comunitaristas. Podemos ver esse debate do ponto de vista do gênero com Nancy Fraser, podemos ver o grande debate entre Charles Taylor e Habermas. Isso sem falar de Franz Fanon e todo o debate que sua obra criou.

    Ou será que não podemos ler nada dessas coisas por que esses autores e autoras não são “nacionais”? esse é o juízo simplista que o texto acima conduz.

     

     

     

  6. Para que não digam que os

    Para que não digam que os cães ladram e a caravana passa, relembro que minha posição de crítica ao engodo do dia, da semana ou do mês da ´Consciência Negra´ é a mesma do saudoso professor MILTON SANTOS:.

    O que temos que lutar é para derrotar o racismo e transformar o Brasil numa sociedade fraterna e igualitária. Uma sociedade que não creia no conceito racista de ´raças diferentes´ e que edifique e respeite a humanidade de todos.

    Precisamos ressaltar e destacar na consciência nacional a história da luta. De nossos heróis. Da degradação humana que foi a escravidão africana. A busca do dever de reparação histórica.

    Aqui, as sábias palavras de nosso maior intelectual de todos os tempos: 

    https://www.facebook.com/CanalCurta/videos/887260518039433/?theater

    https://www.facebook.com/CanalCurta/videos/887260518039433/

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