A carga tributária e o PIB

Atualizado às 7h53, com comentário do autor do artigo

É um caso evidente de inversão das relações de causalidade, o estudo abaixo do IPEA. Na prática, acontece o seguinte:

1. Há uma demanda por gastos públicos.

2. Quando o PIB cresce, aumenta a arrecadação nominal, sem afetar a relação receita/PIB.

3. Quando o PIB cai, cai a arrecadação nominal. Para dar conta dos encargos, pressões por gastos e juros, o governo aumenta a carga tributária.

Carga tributária reduz crescimento do País – economia – Estadao.com.br

Segundo pesquisador do Ipea, aumento de 1% na arrecadação reduz o PIB em até 3,8% no longo prazo

23 de abril de 2011 | 0h 00

Renato Andrade / BRASÍLIA – O Estado de S.Paulo

O aumento do volume dos impostos cobrados dos brasileiros funciona como um freio para o crescimento econômico. A conclusão é do economista Adolfo Sachsida, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), responsável por um estudo inédito sobre a relação entre a carga tributária e seus efeitos sobre o Produto Interno Bruto (PIB).

De acordo com o economista, o aumento de 1% da carga de tributos reduz o PIB, no longo prazo, em até 3,8%. O efeito negativo também pode ser sentido no curto prazo. Nesse caso, a mesma elevação do peso dos impostos provoca uma desaceleração de 0,42% na economia. Por se tratar de um estudo econométrico, que mede apenas a relação entre variáveis econômicas, não há uma definição sobre em quantos anos, exatamente, esse efeito é sentido.

“Mais importante do que a magnitude da redução do PIB, é o indício de que a carga tributária está se colocando como um obstáculo ao crescimento de longo prazo da economia brasileira”, argumenta Sachsida.

Os resultados foram apurados pelo economista ao analisar o comportamento trimestral da carga tributária e do PIB entre 1995 e 2009. Nesse período, o volume dos impostos pagos pelos brasileiros passou do equivalente a 27,4% do PIB para 34,4%. A economia brasileira cresceu, em média, 2,8% ao ano nesse intervalo. Ao cruzar os dados, Sachsida encontrou uma forte correlação negativa entre os dois movimentos, ou seja, os indicadores analisados variaram em direções opostas.

“Primeiro passo”. O economista pondera que o trabalho é apenas um “primeiro passo” na análise da relação entre carga tributária e desempenho econômico. “Mais importante do que a magnitude dos efeitos estimados, é o fato de termos obtido indícios dos impactos deletérios da atual carga tributária brasileira sobre o crescimento econômico de longo prazo do País”, diz Sachsida.

Para o pesquisador do Ipea, a conclusão “óbvia” do estudo é que a redução da carga tributária teria potencial para “dinamizar” o crescimento econômico brasileiro, sobretudo, de longo prazo.

A arrecadação federal no primeiro trimestre deste ano bateu mais um recorde. No período, os contribuintes recolheram aos cofres públicos R$ 226,2 bilhões em impostos e contribuições, um aumento real de 11,96% em relação ao valor apurado nos primeiros três meses de 2010.

No ano, a arrecadação de impostos já está R$ 35,7 bilhões superior ao registrado no primeiro trimestre de 2010. Somente em março, a Receita recolheu quase R$ 71 bilhões em tributos.

Por Adolfo Sachsida

Caro Nassif,

Uma vez mais agradeço por seu interesse em meu trabalho. Abaixo segue minha resposta (tal como publicada em meu blog).

No dia 16 de março de 2011 eu publiquei o artigo “Como os impostos afetam o crescimento econômico” no site “Brasil, Economia e Governo“. No último sábado, o Estadão fez uma matéria sobre o artigo.

O artigo foi então comentado pelo Luis Nassif. Nassif discorda de meu artigo propondo a seguinte explicação:

É um caso evidente de inversão das relações de causalidade, o estudo abaixo do IPEA. Na prática, acontece o seguinte:
1. Há uma demanda por gastos públicos.
2. Quando o PIB cresce, aumenta a arrecadação nominal, sem afetar a relação receita/PIB.
3. Quando o PIB cai, cai a arrecadação nominal. Para dar conta dos encargos, pressões por gastos e juros, o governo aumenta a carga tributária
“.

Para Nassif a relação de causalidade é do PIB para a carga tributária, e não o contrário (como proposto por mim). Honestamente acredito que Nassif esteja equivocado. Mas vamos por pontos:

1) Em teoria Nassif pode estar certo. Contudo, quase tudo é possível em teoria. É por isso que os pesquisadores, na esmagadora maioria das vezes, estão interessados no que é provável (e não no que é possível). Por exemplo, é possível que alguém ganhe 5 vezes seguidas na mega-sena. Contudo, isso não é provável. Em ciência ocorre o mesmo.

2) Nassif propõe que “Quando o PIB cai, cai a arrecadação nominal. Para dar conta dos encargos, pressões por gastos e juros, o governo aumenta a carga tributária“. Ou seja, ele propõe que a carga tributária seja contra-cíclica. Novamente, em teoria, quase tudo é possível. Mas será mesmo que isso faz sentido? Carga tributária contra-cíclica quer dizer que o governo AUMENTA a carga tributária quando a economia esta em RECESSÃO!!! Ou seja, pelo argumento de Nassif, o governo aumentaria os impostos quando a economia estivesse em crise.

3) Os gastos públicos podem ser contra-cíclicos. Afinal, alguns gastos públicos (tal como o seguro-desemprego) claramente aumentam em épocas de recessão. Tais gastos são conhecidos em economia como estabilizadores automáticos (pois aumentam durante épocas de crise, e diminuem em fases de crescimento econômico, tentando estabilizar a demanda agregada). Mas dizer que a carga tributária seja contra-cíclica é justamente dizer que o governo PIORA a intensidade da crise (não que eu discorde disso…:) em vez de atenuá-la.

Luis Nassif

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