O blog do Nassif, desde o início, se mostrou um espaço alternativo por dar voz para opiniões destoantes da grande mídia não por ideologia política pessoal, mas pelo puro e simples desejo de praticar bom jornalismo. Isso criou um ambiente propício para o debate de idéias e um conjunto de comentaristas equilibrados.
Quando perguntei a uma pessoa mais jovem a quem eu recomendara o blog se ela havia gostado, a resposta foi que o mais lhe chamou a atenção foi o nível pouco habitual dos comentários.
Isso parece estar mudando quando o assunto é o processo político. Talvez influenciado pelo baixo nível da campanha presidencial ditado por Serra e seus apoiadores na imprensa, a quem Marina Silva também vendeu a alma ou talvez pela rejeição explícita do Nassif à candidatura Serra, tenho sentido uma agressividade cada vez maior dos comentaristas do blog em relação a quem critica o governo ou elogia a oposição.
Experimente alguém dizer aqui que Jamil Haddad não foi o pai dos genéricos. Será , como já fui e serei novamente, apedrejado ao afirmar categoricamente que a contribuição de Haddad para os genéricos foi mínima. Ele simplesmente tomou o texto do projeto de lei de Eduardo Jorge, fez com que Itamar emitisse um decreto sem força de lei, não conseguiu que farmácias obedecessem, colecionou uma série de disputas jurídicas e saiu do governo sem que se avançasse um passo sequer.
Qual é o problema deste clima de Fla-Flu? Primeiro torna-se impossível discutir em torno de idéias quando os argumentos governistas e a visão de esquerda tornam-se dogmas que não devem ser questionados, mas simplesmente apoiados. Não há troca de conhecimento, mas simplesmente discussões estéreis que não alteram o pensar de quem participa. Para que discutir se eu não estou disposto a mudar meu pensamento? Qual o sentido de discutir se martelarei minhas idéias sem abrir espaço para, quem sabe, uma troca de paradigma?
Segundo, cai-se no erro que a oposição tem cometido desde 2002 e pode render ao PT mais alguns mandatos no governo federal. Passa-se a ignorar o ponto de vista do outro lado e, principalmente, desconsidera-se o contexto que leva determinados grupos sociais a apoiarem uma causa ou corrente de pensamento. Cega-se aos méritos das propostas e realizações concretas do outro lado.
A classe A, baseada na penetração de Lula nas camadas de menor renda e menor instrução, considera ignorante quem apóia o lulopetismo (não é assim que nos chamam?). Esta postura elitista ignora, em primeiro lugar, que o apoio ao governos nas camadas médias nunca foi pequeno. Embora sem os números astronômicos das classes C,D e E, o apoio nas classes A e, principalmente, B é significativo, bastando consultar as pesquisas de intenção de voto para presidente em 2010 para identificar esta realidade. Esta rotulação de ignorante para os governistas pode ter causado uma rejeição enorme à oposição que levará um tempo significativo para ser superada.
Outra conseqüência desta postura elitista-dogmática é não desenvolver canais de diálogo com os extratos da sociedade considerados não-informados e permanecer com o mesmo discurso (neste caso, udenista), esperando que o povo de repente se esclareça e passe a pensar em consonância com o iluminismo político da oposição. Não se desenvolvem políticas para esses extratos, o que é lamentável, e nem sequer discursos eleitorais, demagógicos ou não, mas palatáveis aos segmentos governistas.
Acho que este é o erro em que os governistas do executivo, dos partidos da base ou simplesmente simpatizantes não podem incorrer. Esses agentes devem entender que sim, a corrupção no Brasil é um problema sério, lutar para entender suas causas e propor ações concretas para sua diminuição. Não podem menosprezar as manifestações contra a corrupção por que elas significam um extravasar de sentimentos de segmentos da sociedade. Neste momento, este sentimento pode estar sendo ofuscado pelo progresso econômico e deixado de lado pelo eleitorado, mas quando houver uma retração econômica, esta bandeira pode tornar-se diferencial eleitoral e os governistas podem a ter deixado bem plantada no campo da oposição
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