A medicina baseada em evidências – 2

Por Claudio Moreira

Estou voltando hoje do 1o Congresso Brasileiro de Prática Clínica Baseada em Evidências no Rio de Janeiro realizado pela SMS-RJ. Um consenso entre os palestrantes é sobre as limitações dos ensaios clínicos. E que eles, na prática clínica, devem estar submetidos à experiência prévia do profissional de saúde e ao bom senso. Cerca de 20% da prática clinica tem alguma evidência na literatura. O que é obviamente benéfico (como o para-quedas) não necessita de ensaios clínicos.

O Dr. Feldman pode orientar seu paciente a tomar chá de gengibre sem peso na consciência, e sem receio de críticas dos defensores da medicina baseada em evidência. Mas se ele quiser encapsular, patentear e vender o pó de gengibre, seria interessante para o consumidor saber a real eficácia do gengibre. E se o SUS for comprar toneladas de cápsulas de gengibre para distribuir nos postos de saúde com o meu imposto, eu gostaria de ter certeza do benefício do mesmo.

PorfPor fim todo o ano o BMJ publica algum artigo “inusitado”, mas não esqueçam que o BMJ vive da medicina baseada em evidência. E como dizia um professor meu: “Medicina baseada em evidência é um modelo muuuuuito ruim. Mas até hoje não existe nada melhor.” 

Por GalileuGalilei

O texto do Dr. Alexandre Feldman está muito bem escrito e, como todo sofisma, nos toma pela mão progressivamente levando-nos a acreditar que a lógica não tem lógica.

Aquilo que o Dr Feldman denomina, um pouco pejorativamente de “Medicina Baseada em Evidências”, não pode e não deve ser tratada dessa forma simplista.

O Bernardo Aguiire, acima, já identificou a pobreza da analogia.

Afinal, paraquedas têm sido amplamente testados e mesmo estudados teoricamente em bases de resistência do ar, mecânica de gases e de flúidos, modelos computacionais, etc. Não se trata de simples emprego do bom senso transmitido boca-a-boca.

O que se procura com a busca de evidências é evitar que aquilo que eu considero bom-senso, seja baseado em minhas experiências, seja baseado em minha fé, ou má-fé, venha a tomar ares de ciência.

Em outras palavras, usando a analogia do Dr. Feldman, o que se deseja evitar é que eu, motivado por uma “revelação”, íntima convicção, desejo de enriquecimento, ou outro motivo qualquer, divulgue que penas de avestruzes embebidas em cera líquida, ao esfriar, tornam-se excelentes substitutos aos caríssimos para-quedas.

Ah, sim… Certamente, a indústria de paraquedas, provavelmente nas mãos de um oligopólio, irá rapidamente me denunciar como charlatão, reforçando, assim, minha tese de que essa gente malvada está mesmo interessada em grandes lucros e não têm o menor interesse que eu, criador de avestruzes, divulgue um substituto bem mais em conta.

A frase: “É claro que o objetivo maior desse artigo foi demonstrar que existem aquelas informações baseadas na observação e experiência; informações baseadas em evidências; e, antes de mais nada, o bom-senso.” é enganadora, pois observação e experiência não podem ser substituídos apenas pelo bom-senso. Este último, de caráter bastante subjetivo, é bastante sujeito a erros, conforme tanto a observação quanto a experiência comprovam. 

Luis Nassif

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