A questão dos sindicatos nos portos

Por Almir Wagner

Comentário ao post “Governo aceita negociar com portuários para evitar greve

O problema em questão não é a privatização. O que ocorre é o seguinte. Há nos portos vários sindicatos de mão de obra que têm a prerrogativa legal de exclusividade na operação portuária. A lei permite que qualquer cidadão constitua empresa para operar num porto, porém, esta empresa será obrigada a contratar a mão de obra dos sindicatos. Os principais sindicatos são: o dos estivadores (estiva), que manipulam carga a bordo, os terrestreiros (terrestre) que manipulam carga em terra e o dos conferentes, que fazem a conferência e controle  dos itens manipulados. Existem outros sindicatos envolvidos no processo como o dos práticos, arrumadores etc. A gestão da mão de obra é feita pelo OGMO (orgão gestor de mão de obra). Os problemas dessa relação são os seguintes: o custo da mão de obra é um absurdo. Um estivador ou terrestreiro não fatura menos de 5 mil reais por mês, não raras vezes chegandos a 10 ou 12 mil. Segundo: Como os seviços hoje são automatizados, a maioria das operações poderiam ser executadas por 2 ou 3 homens, mas o empresário operador é obrigado a contratar um terno, normalmente de 6 ou 8 homens. É comum se ver nos portos, operações em que tem mais gente sentada ou conversando do que trabalhando. Terceiro: os trabalhadores portuários são, em sua maioria, de baixa qualificação. Eles se acomodaram enquanto a logística evoluía. Hoje, a grande maioria não tem as mínimas condições para operar os equipamentos portuários mais modernos. Estes são somente alguns dos principais problemas. Há outros que não vou citar para não alongar o texto. O fato concreto é que em qualquer cidade portuária, estrar para os sindicatos é uma teta que todo mundo quer. E a turma não vai largar esta teta sem muita briga. O outro lado da história é que os empresários do setor também são extremamente sugadores, não topam dividir o bolo. O enfraquecimento dos sindicatos irá gerar problemas sociais graves, como já se percebe nos portos. Cito o exemplo dos caminhoneiros. Em qualquer cidade portuária do Brasil, os caminhões utilizados no transporte de conteineres são verdadeiras jeringonças que deveriam ir direto para o ferro velho. Isso porque os empresários do setor exploram essa categoria ao extremo. Pagam literalmente uma ninharia, inviabilizando completamente a aquisição de caminhões novos. Diferentemente dos caminhoneiros, não são raros os casos de empresários de cidades portuárias, que eram pobres antes da lei 8630/93 andarem de jatinhos ou iates de 20 ou 30 milhões. Traduzindo. Há uma enorme concetração de renda no setor. Uma coisa é certa: como está não pode continuar.

Luis Nassif

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