As grandes chances de Obama em 2012 e Democratas em 2016

Faltando ainda 5 semanas para as eleições nos EEUU, e mesmo pouco após as convenções dos partidos, parece já quase certo que Obama se reelegerá.

Todos os indicadores favorecem Obama.

1.       Estamos acostumados ao sistema da maioria dos países, em que as eleições são definidas pela totalidade dos votos. Isso nos faz observar apenas as pesquisas de opinião nacionais, as tradicionais 52% x 48% (é quase que só isso que chega à nossa mídia, afora uma abrangente matéria no OESP de algumas semanas atrás.) Nestas pesquisas ainda há algumas em que Romney passa Obama, a última em 16/set, mas cada vez mais raras. Pela média de pesquisas, apurada pelo Rear Clear Politics, a última vez que Romney empatou foi em 06/set., logo após a convenção Republicana tida como morna. O histórico pode ser visto aqui http://bit.ly/fdzkg5. Em praticamente todo o ano de 2012 Obama esteve na frente na média, com 2 a 4 pp. de vantagem. E este é o indicador menos desfavorável para Romney.

2.       Mas o sistema norte-americano tem uma peculiaridade, que já fez 3 vezes o ganhador no voto popular não se eleger (a última vez foi em 2000), que é a necessidade de ganhar no colégio eleitoral, onde cada estado tem um número de votos (de delegados). E o ganhador num estado leva todos os votos do mesmo. Isto faz com que o importante seja ganhar por pouco em grande número de estados, sendo pouco relevante grandes diferenças em estados populosos. Por esta medida, Obama praticamente já fechou a conta. O mesmo site levanta as médias de pesquisas para todos os estados, marcando em azul aqueles com folgada maioria para Obama e em vermelho aqueles com folgada maioria para Romney. A estabilidade em cerca de 40 estados é muito grande e é histórica (detalhamento mais abaixo.) O resultado, visto aqui http://bit.ly/jYuEZS, é que Obama já quase assegurou 265 dos 270 votos necessários. Há ainda de 7 a 10 estados em “decisão”, mas Obama é favorito na maioria deles (e nos 7 apresentados, em cinza, por esse site em particular.) Para se ter uma ideia da particularidade desse mecanismo : se algo semelhante fosse aplicado no Brasil, com os deputados federais como delegados, bastaria que 11% dos eleitores de apenas um estado, o RJ, tivessem mudado de lado para Serra ter ganho em 2010 (isto é, ele teria 260 dos 513 deputados mas menos que 50% dos votos totais.)

3.       Ainda falta a campanha, e neste ano parece que os Republicanos obtiveram mais doações que os Democratas (ao contrário de 2008, quando Obama gastou 47% a mais que McCain.) Cada campanha custa cerca de US$ 500 milhões, mais de 5 vezes o que PT e PSDB gastaram em 2010. Ainda faltam também os debates, mas esse é um costumeiro ponto forte para Obama, bom orador, e fraco para Romney, famoso por gafes. Mas importante também é a recente tendência ascendente de melhor avaliação para Obama http://bit.ly/9OoQ4s, agora pela primeira vez este ano em 50%.

Bolsa de apostas

Pode não parecer muito sério acompanhar uma eleição pela cotação de candidatos em bolsas, como se fossem equipes esportivas. Mas é um indicador interessante também. No gráfico vemos uma medida de “expectativa de vitória”, que pode ser calculada a partir da diferença entre prêmios. Obama paga muito pouco agora, 17 centavos por dólar, o que corresponde a algo como 80% de expectativa de vitória. Nesta medida, Obama está em franco crescimento desde junho. Os picos e vales correspondem a eventos como morte de Bin Laden, dificuldade para aprovar o orçamento, escolha do candidato republicano. Apenas um fato novo muito grave deve reverter o quadro agora. (Seria interessante saber em quantas vezes nas eleições passadas, a bolsa de apostas acertou a esta distância do pleito.)

É a demografia, estúpido!

Há duas “meias-verdades” propagadas a respeito das eleições norte-americanas para presidente.  

Uma deles é que haveria uma tendência a alternância de poder, respeitando-se também a tendência a reeleições (que é comum no Brasil e na maioria dos países também.) Isso é fomentado por, desde a eleição de 1952, com apenas três exceções (a não reeleição de Carter, a eleição de sucessor por Reagan, a não reeleição de Bush Jr.) ter havido uma quase ininterrupta sucessão de presidentes conseguindo se reeleger mas não conseguindo fazer o sucessor. De 16 eleições desde então, 12 seguiram estritamente o padrão (alternância após reeleito ou reeleição), sendo que Obama agora seria apenas o 7º reeleito. O que levaria a imaginar que Romney teria boas chances em 2016 (veremos que pode não ser assim.)

A outra se refere à importância da economia nas eleições, em função de famosa frase de Clinton em 1992. Na ocasião, apesar da economia não estar tão mal como nos anos 1970 ou agora, 22 estados, de fato, mudaram de lado (mas, para essa transição, contou com a divisão do voto republicano provocada por Ross Perot, maior que o impacto deste entre democratas.) A má situação da economia em 1980 deve ter jogado um papel muito mais decisivo na não-reeleição de Carter (quase todo o país foi Reagan.) Menor para a eleição de Bush Jr (em 2000 só 11 estados mudaram) e, em aparente paradoxo, menor ainda na eleição de Obama (em 2008 apenas 9 estados mudaram, que já foram, em 2004, entre 45 e 50% democratas. http://bit.ly/R2oGC1) Isto é, a cada suposta alternância, apesar de cíclicas dificuldades econômicas, cada vez menos estados mudam de democrata para republicano ou vice-versa. Embora a economia seja muito importante ainda, com os EEUU enfrentando elevado desemprego, parece que pouco alterará as definições este ano. Espera-se que apenas 2 estados que votaram em Obama em 2008 deixem de fazê-lo em 2012 (Carolina do Norte e Indiana, que ficaram quase empatados em 2008.)

O que temos é que, na realidade, essa cada vez menor alternância nas decisões dos eleitores parece definida geograficamente. E com vantagem para democratas. A eleição de 2000 foi vencida por Bush Jr por apenas 4 votos de delegados. Naquele ano Gore inclusive ganhou no voto popular geral, mas o pequeno estado de New Hampshire, com apenas 4 delegados, foi o único do Nordeste (Nova Inglaterra) a não apoiá-lo, e isso decidiu para Bush Jr. (Além da nunca bem explicada recontagem de votos na Flórida, com seus 25 delegados então, que por apenas 2000 cédulas não forneceu uma sólida vantagem para Gore.) Isto é, por muito pouco, Gore não se elegeu com 54 delegados a mais que Bush Jr.

Com um pouco mais de folga para Bush Jr., o mesmo se repetiu em 2004 : bastaria Ohio (um dos famosos estados “oscilantes” e o único que desde 1972 acertou todos os presidentes) ter sido democrata naquele ano (como foi em 3 das 5 eleições desde 1992) que John Kerry teria sido presidente.

O fato é que, tirando esses dois momentos “no limite”, decididos por talvez apenas um estado, desde 1992 a tendência é francamente favorável aos candidatos democratas. Há cada vez mais estados de preferência democrata e cada vez menor número de estados mudando sua preferência por economia. Pode chegar uma situação, no futuro próximo, em que as alterações se deem em estados já fora do mínimo necessário para eleger candidato democrata, não ajudando aos republicanos. A propaganda conservadora (famosa pelo “Tea Party”) pode não ser mais suficiente para fazer um presidente. No entanto, ainda vem, e talvez não por muitas eleições mais, conseguindo fazer as maiorias na Câmara e no Senado (2008 foi um momento de maioria democrata nas duas casas, que só deve se repetir de 2014 ou 2016 em diante, já que nos EEUU há renovações parciais a cada 2 anos.)

Quando se fala que poucos estados (ainda) decidem, dois deles em especial (Ohio e Flórida, por terem 18 e 29 delegados), é pela grande estabilidade na preferência eleitoral em 41 dos 50 estados + Distrito de Columbia.  Ohio é sempre foco de atenção tanto por seus delegados como pela curiosidade citada. Mas Flórida é muito relevante agora. É o estado que mais aumentou sua participação em delegados nas últimas décadas, passando de 17, em 1980, para os 29 atuais (a Flórida passou, em 30 anos, de 42% para 100% do número de delegados de N. York.) É onde há minoria latina-republicana também (em geral os latinos fecham com democratas), é onde eleições são muito apertadas (vide 2000 e em diante). E, pela fórmula adotada, “the winner takes all”, a “virada” de um estado dobra seu peso, então os seus 29 delegados alterariam em 58 o resultado final, isto é, 11% dos 538 totais. Mas, mesmo se esses dois estados forem pró-Romney este ano (e as pesquisas apontam Obama em ambos), isso não reverteria o quadro geral. Aliás, ambos estão a cada eleição ficando cada vez mais democratas, podendo deixar de ser “oscilantes” no futuro.

A questão da demografia é importante porque o eleitorado latino é o que mais cresce e ao longo do tempo alguns estados têm ficado estavelmente pró-democratas por isso. A Flórida pode ser um dos próximos a deixar de ser oscilante por esse motivo, o que já aconteceu com a grande Califórnia, que desde 1992 abastece os democratas com 54 ou  55 delegados (mas, como estados do Nordeste, eventualmente escolhendo governador republicano.) Também porque os estados ganham delegados quando a população ganha maior peso relativo, potencializando o processo. E os mais jovens também têm preferido os democratas. Em 2008, jovens abaixo de 30 anos (66%), hispânicos (67%), negros (95%) e asiáticos (62%) votaram em Obama. Negros, latinos (hispânicos) e asiáticos já são 1/4 dos eleitores totais.

Desde 1992 há 19 estados, com 242 delegados, que votam apenas em Democratas para Presidente (embora elejam senadores e governadores republicanos ocasionalmente.) Como são necessários 270 delegados para ganhar a eleição, só este grupo já ancora, para os Democratas, 90% do necessário para uma eleição. É necessária uma conjunção de fatores, como a impopularidade de Carter e a esperança em Reagan, para alterar aqui. (Observe-se que a inflação, a alta dos juros e o desemprego no final dos 1970 e começo dos 1980 foram piores que os de agora, e mesmo assim Carter ganhou em 7 estados. Essa fidelidade a um partido, não acontece, como vimos em 2002, do mesmo modo no Brasil.)

 E desde 2000 há 22 estados, com 180 delegados, que apenas votam em Republicanos. Ou seja, não se abalaram com a crise econômica de 2008 (4 estados, inclusive, aprofundaram a preferência republicana) e não deixaram de apoiar McCain então. São a base do “Tea Party”. Esses dois grupos nitidamente diferentes constituem um relativamente estável conjunto de 41 estados, com 422 delegados, que pouco mudam de lado, deixando então a eleição ser decidida pelos 10 (um pouco mais ou pouco menos, dependendo do analista) famosos “swinging states”, com seus 116 delegados. Mas, como vimos acima, basta aos democratas ganharam em 2 ou 3 destes, ou apenas na Flórida, para elegerem o presidente.

Em resumo : de 20 anos para cá, não obstante a economia (e também a política externa), há um viés pro-democrata nas eleições, definido social, geográfica e demograficamente, pelo que Republicanos quando ganham é por muito pouco. De 1984 a 2008 o percentual democrata no total vêm crescendo de 41% para 54% com uma pequena redução apenas em 2004. 

Os estados democratas costumam ser os do Nordeste e região dos Lagos (de tradição industrial e sindical), o Hawaii, os estados do Pacífico e os estados do Oeste com crescente imigração latina. Os grandes (com 20 delegados ou mais) são Califórnia, Nova York, Illinois e Pensilvânia. Os estados republicanos são o Alaska, os do sul, do Meio-Oeste e a maioria não litorânea do Oeste, que são mais agrícolas e também com maior tradição religiosa. O único com pelo menos 20 delegados é o Texas (que desde 1988, no entanto, apresenta de 37 a 44% de eleitores democratas), o segundo maior é a Geórgia, com 16. Os estados oscilantes, em torno de 10, são a Flórida, alguns estados pequenos e vários na região limítrofe entre o Nordeste e o Sul, com maior importância para Ohio dentre estes. (Até as reformas de direitos civis e eletorais de 1964/1965 o quadro era outro: democratas dominavam o sul e republicanos tinham excelentes votações no nordeste.)

Hillary e a importância de ser esposa de um sulista

Ser sulista pode ter sido muito importante para os Democratas em duas ocasiões recentes. Em 1976, quando muitos estados ainda não eram tão “demograficamente” democratas como hoje (Michigan, Califórnia e Illinois chegaram a votar por mais um mandato para Gerald Ford), Carter (da Geórgia) ganhou em quase todo o sul. (Mas a vitória final de Carter foi muito apertada, nos anos 1968/1988 o viés era outro, pró-republicanos.) Quase o mesmo se verificou em 1992 e 1996, quando Clinton (de Arkansas) ganhou em muitos dos estados do sul (embora não precisasse deles para ganhar.)

O que nos remete para as boas probabilidades de Hillary Clinton (hoje informalmente considerada como pré-candidata) se eleger em 2016 : embora não sulista (é de Chicago, Illinois, como Michelle Obama), há um grupo de 7 a 11 estados sulistas, desde o final dos anos 1960 tradicionalmente republicanos, que chegam a votar em democrata se for sulista, e a condição de esposa de um pode ajudar. A economia provavelmente estará melhor em 2016. As eleitoras mulheres tradicionalmente já votam proporcionalmente mais em democratas que os homens, estes mais republicanos (como no Brasil, em sinal contrário, há 3 eleições votam proporcionalmente mais no PSDB, com homens mais petistas), uma candidata competitiva pode atrair eleitoras hoje republicanas. E haverá cada vez mais latinos eleitores (especialmente se Obama cumprir a promessa de facilitar nacionalizações para aqueles hoje apenas com visto temporário) e mais estados onde a demografia erode aos poucos a maioria republicana (como Texas, Carolina do Norte e Geórgia).

A última tabela apresenta os estados norte-americanos em 5 grupos, dos mais democratas para os mais republicanos. No cabeçalho de cada grupo o número de seus delegados e o quão favoráveis a cada candidato atual estão nas pesquisas mais recentes (na média dos estados.) É fácil observar como há cada vez menor oscilação/alternância, cada vez mais “azuis” (democratas) e como Obama deve se reeleger com a quase totalidade de 3 desses grupos e como pode ser possível a Hillary, a estes, agregar um quarto grupo.

Provavelmente nada do que se discorreu seja de grande impacto para o mundo, pois em política externa não há nada mais parecido a um republicano que um democrata. Mas é de interesse, em função da tendência de democratas serem menos liberais em economia, isto é, menos dispostos a encaminhar os EEUU para aventuras recessivas, o que se reflete de algum modo no mundo (como maior crescimento em geral, mas também maior guerra cambial e protecionismo.) Também se aponta para uma relativamente menor importância do discurso neoconservador, pois as chances de um presidente republicano para os EEUU são menores que para democratas (mesmo na presença de crises econômicas) para as próximas 3 eleições, contrariando o mito da alternância e o temor que a população se deixe progressivamente envolver por propaganda neoconservadora.

Redação

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