O declínio do jornalismo de ofensa

Ontem conversei com um colega que já foi alvo de criticas aqui e autor de represálias lá.

Foi uma conversa surpreendentemente civilizada – de lado a lado.

E aí me dei conta, mais uma vez, dos estragos que o jornalismo de esgoto provocou não apenas no nível das discussões, mas no próprio exercício da civilidade.

De repente, tornou-se “in” usar o termo canalha a torto e a direito, agredir interlocutores pelo mero fato de discordar de suas idéias, esbanjar preconceitos de todas as larvas. Algo tão assustador que não poupou alguns dos melhores e mais civilizados jornalistas brasileiros. Foi surpreendente assistir dois colegas com história no jornalismo chamar primeiras-damas árabes de piranhas. O contraponto, chamando à razão, partiu de um não jornalista.

No auge da campanha eleitoral li artigo de um amigo educadíssimo, Etevaldo Siqueira, chamando um intelectual respeitado (e educadíssimo), Luiz Carlos Bresser-Pereira de dinossauro ou coisa do gênero. Meu Deus! Duas das pessoas mais educadas que conheci.

O ambiente jornalístico acabou influenciado pelo que de pior havia na mass mídia norte-americana.

Por lá, vez por outra aparecia algum colunista especializado em insultos, um contraponto ao bom mocismo geral. Aqui praticamente TODO o colunismo enveredou por essa trilha.

No inicio tinha ar de novidade. Parecia um estilo imbatível, principalmente depois que a revista Veja estimulou as agressões dando garantia de espaço, alta circulação, defesa jurídica e cobertura das condenações recebidas.

Esse esgoto transbordou para colunistas de jornal e rádio, sites, blogs e redes sociais, para caixas de comentários e, finalmente, para a campanha eleitoral, tornando o clima irrespirável.

Depois foi se esgotando, passou a atingir um publico cada vez mais tosco, selvagem, primata, ficou fora de moda, como lembrou outro dia o comentarista Jotavê. Mas ainda sobrevive.

Dia desses, a Lúcia Hipólito reclamava, em um comentário na CBN, do clima pesado da campanha passada. Boas falas!

Está na hora de uma reavaliação geral.

Esse jornalismo de guerra, de esgoto, passou dos limites. E de lado a lado. O jornalismo brasileiro não merece que a exceção vire regra, que o esgoto substitua a água limpa, que se desliguem os filtros da civilidade e dos argumentos sólidos, que se considere bom jornalismo o exercício permanente da ofensa.

Os de esgoto continuarão no esgoto. Mas cada vez mais isolados. 

Luis Nassif

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