Moradores de rua e os errantes de The Walking Dead: Corpos invisíveis nas grandes metrópoles urbanas

 A série The Walking Dead é um sucesso de exibição nos canais fechados e na Netflix. Ela conta com um repertório de 9 temporadas e aproximadamente 130 episódios. Em síntese, a narrativa é ambientada em um cenário pós-apocalíptico, em que um famigerado grupo de pessoas viaja à procura de alimento, segurança e sobrevivência. Como toda boa história, a trama de TWD se resume em abordar a luta do grupo contra os errantes, seres humanos transformados em zumbis e a batalha diária pela sobrevivência.

                                                                  Zumbis – The Walking Dead

Arisco dizer, que existe uma clara relação entre a caracterização social dos zumbis de TWD e o papel social dos moradores de rua. Ambos os indivíduos, não têm nomes, moradias, empregos ou papel ativo na sociedade. Na série, essas criaturas são vistas como perigo à saúde, por conta do vírus, e, também, pela inatividade social, visto que esses sujeitos estão mortos, portanto, devem ser erradicados pela manutenção da sobrevivência dos saudáveis.  Fora da ficção, a dura realidade dos moradores de rua é ainda pior. A arquitetura antimendigo adotada nas grandes metrópoles apresenta uma série de mecanismos de eliminação e negação desses corpos. Prova disso, são as grades em torno de praças, como no Campo Grande, bairro de Salvador, as interdições territoriais das calçadas, a violência física e simbólica das forças de segurança, a ausência de banheiros e bebedouros na cidade, uma clara política de exclusão.

          Os errantes da série são considerados mortos-vivos, não possuem lugar fixo, nômades em busca de comida. Entretanto, para os moradores a situação é ainda mais devastadora. A morte deles é social, eles são invisíveis para a sociedade.  Infelizmente, poucas são as vezes em que são notados pela população. Isso Às vezes, eles obtêm sucesso ao pedir alimentos ou dinheiro nas ruas, porém, para tal mérito, é preciso passar nos critérios de legitimidade da mendicância.

Em TWD, o foco não é a cura dos errantes, eles são apenas coadjuvantes da história de sobrevivência dos personagens. O mesmo pode ser dito dos mendigos, não há intenção do estado em mitigar essa vulnerabilidade social. Eles fazem parte da narrativa da pobreza e do sofrimento humano nas grandes cidades. São corpos invisíveis, pois a mídia, em sua maioria, apresenta-os, sem a legitimidade do nome, um direito fundamental para todo o cidadão brasileiro.

                                             Morador de rua – Cidade de São Paulo

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, em 2015, o número de moradores em situação de rua, girava em torno de, aproximadamente, 200 mil pessoas. Desemprego, problemas familiares, uso de entorpecentes e problemas de ordem psicossocial estão entre os motivos mais destacados por esses indivíduos. Essas pessoas, na maioria das vezes, tornaram-se avessas ao diálogo, vítimas da constante violência simbólica provocada pelos órgãos públicos e pela sociedade, e por conta disso, passaram a adotar um comportamento de autoexclusão.

Por outro lado, existem grupos sociais, norteados por ONGs ou instituições religiosas, que ofertam por meio de doações de roupas e distribuição de alimentos o mínimo de assistência social possível. Uma belíssima ação, porém, não é capaz de resolver o problema. Urge a necessidade de uma política de assistência social, que funcione e seja capaz de oferecer suporte de reinserção social desses sujeitos.    Infelizmente, a falta de ações efetivas, principalmente no inverno, tem contribuído para o crescente número de mortes em decorrência do frio.

Por fim, percebe-se que, a emergência do debate acerca das populações de rua é multidisciplinar e exige a participação de todos. Envolve saúde, educação, políticas públicas e a sociedade civil. Além disso, o estado, por meio do Ministério da cidadania deve desenvolver ações de integração, em parceria com as estruturas estaduais e municipais a fim de inserir esses sujeitos no mercado de trabalho. Vale lembrar que não são todos os moradores que desejam sair das ruas, mas pelo menos a sociedade deve ofertar o mínimo de dignidade humana para esses sujeitos. Assim, será possível evitar o aumento exponencial de moradores de rua e a crescente morte que aflige esse grupo tão silenciado pela sociedade. 

Afinal de contas, eles têm nomes, são humanos, são pessoas como eu e você.

Redação

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