Criptomoedas: O Bom, o mau e o feio.

Criptomoedas: O Bom, o mau e o feio.

Do conflito entre três personalidades do fantástico spaghetti western do mestre Sergio Leone com a também imemorável trilha sonora de Ennio Morricone, podemos extrair como se comportam os atores deste novo imbróglio-western que vem a ser a comercialização das criptomoedas.

O importante do filme é que apesar das aparências e do próprio título traduzido do italiano, neste western não há mocinhos nem bandidos, há simplesmente pessoas tentando ganhar algo e para isto fazendo as maiores barbaridades possíveis.

O mercado das criptomoedas é exatamente como o tema central do filme, não há vilões, há os espertos, e não há mocinhos, há os deliberadamente incautos.

Vamos aos principais atores e personagens:

Tem o primeiro grupo, mais facilmente identificáveis, os incautos que entram no jogo sem conhecimento de causa e ganham ou perdem na direção do vento que sopra. Se por um acaso compraram na baixa e venderam na alta, ganharam, e ganharam por puro azar (no sentido estatístico do termo, poderiam ter perdido, mas como dito o azar levou-os a ganhar.

Tem o grupo dos vilões, que através de manobras usuais no mercado de ações, num mercado desconhecido entram forte para ganhar dinheiro, estes geralmente ganham, mas este ganho é atrapalhado pelo auxílio dos espertos. Porém há outro grupo de vilões que identificarei mais tarde, e estes podem sim ser considerados vilões.

Estou usando o termo espertos, pois não além de não gostar do termo “experts” na realidade muitos destes são verdadeiros trouxas que se acham muito inteligentes e com farto conhecimento no assunto. Nestes dedicarei mais tempo. Os espertos são operadores dos BitCoins que se acham os verdadeiros reis da cocada preta, pois a partir de uma série totalmente incompleta de dados, modelos de acompanhamento de ações na bolsa de valores, bostejam sabedoria para todos os lados.

Explicando melhor, a comercialização de criptomoedas é algo extremamente recente, e devido a características impares deste tipo de produto (vou usar o termo produto na ausência de outro) não tem equivalentes em qualquer análise lógica que se possa fazer de seu mercado. Primeiro, diferentemente de todos os verdadeiros produtos em diversos tipos de bolsas (valores, commodities) as criptomoedas na realidade não tem lastro. Por exemplo, alguns gráficos que mostram o comportamento ao longo do tempo dos valores das criptomoedas apresentam ao longo do tempo pontos e nestes gráficos que mostram a evolução ao longo do tempo alguns espertos utilizam os chamados padrões Candlestick ou as ondas de Elliot associadas a sequência Fibonacci.

O primeiro caso, os padrões Candlestick, foram padrões identificados lá por volta do século XVIII, nas antigas bolsas de arroz de Osaka, onde os compradores procuravam identificar o momento em que seria mais conveniente comprar ou vender o arroz, antecipando-se aos outros compradores. Porém aí vemos a grande diferença, o que era comprado e vendido era um dos principais produtos de sobrevivência do povo japonês, e tanto a necessidade de consumo, como a produção da safra era algo conhecido a priori, logo por maior que fosse a aleatoriedade das variações de preço do arroz ao longo dos leilões, o que era certo é que ninguém ganharia arroz de graça nem pagariam o preço de ouro pela grama de arroz. O que quero dizer que haviam limitações de preço que ao longo dos séculos foram mais ou menos estabelecidas, logo as oscilações para um ano de safra excelente e um ano de safra calamitosa se sabia mais ou menos quais seriam os preços máximos e mínimos, e dentro destes preços ocorriam oscilações mais ou menos aleatórias que poderiam ser consideradas determinísticas.

Um dos inúmeros padrões de Candlestick. (Fonte Wikipedia)

O segundo caso, o uso das ondas de Elliot associadas a sequência Fibonacci é ainda uma viagem maior, Fibonacci foi um matemático italiano do século XIII que inventou uma sequencia de números, que levou o seu nome, a sequencia de Fibonacci, que começando com duas vezes a unidade o seguinte número é a soma dos dois anteriores, ou seja, 1; 1; 2; 3; 5; 8; 13; 21; ….. e daí por diante. Os apaixonados por numerologia dentro das quintilhões de formas que existem na natureza acharam alguns milhares ou mesmo milhões de formas que se adaptavam a esta sequência e como um quinquilhão dividido por um milhão resulta em 0,0000000001% das formas da natureza que se adaptam a sequencia de Fibonacci, ou seja, uma mera coincidência estatisticamente insignificante.

Imagem de um Nautilus que segue a sequência da Fibonacci (fonte Wikipédia)

Bem mais recente, outro matemático louco (quase que uma redundância), criou um conceito que se chama as ondas de Elliot (o matemático se chamava Ralph Nelson Elliott 1871–1948) num livro que teve a coragem de denominar “Nature’s Laws: The Secret of the Universe”. Elliot, associando a matemática a psicologia de massa achou propôs uma série de curvas, que ele denominou de ondas, que tentavam prever o comportamento humano em termos de comportamento de manada. Utilizando a sequência de Fibonacci ele chega a estabelecer o comportamento do mercado de ações a partir inclusive de um número mágico 1,618:1.

As ondas de Elliot procuram explicar as variações da bolsa ao longo de um dia e alguns mais afoitos para períodos mais longos. Como os operadores de bolsa, não tem muita base para especular sobre as tendências, muitos utilizam as curvas de Elliot, e como elas são utilizadas para o estabelecimento do momento de comprar e vender, logicamente há uma tendência do mercado seguir esta lógica. Ou seja, se eu bater um prego com um martelo de cabeça torta a chance do prego entrar torto para o lado que o martelo indica aumenta muito!

Ondas de Elliot (fonte Wikipédia)

Da mesma forma que alguns operadores de mercado adeptos da numerologia utilizam as curvas de Elliot, os novos operadores das criptomoedas, na ausência de outra coisa, utilizam as mesmas curvas, e em situações mais estáveis o uso pela “manada de operadores” resulta em levar a tendência para estas curvas.

Há duas grandes falácias no uso tanto dos padrões Candlestick e das curvas de Elliot para determinar como funciona o mercado, primeiro o período de operação do mercado de criptomoedas, segundo a artificialidade introduzida pela própria geração das criptomoedas e terceiro a ausência de um nível de equilíbrio racional que deveria haver nas ações nas bolsas, que já não existem, e dos valores das criptomoedas muito menos ainda.

Vejamos porque não há como comparar o comportamento de uma bolsa de valores ou mesmo uma bolsa de venda de arroz do século XVIII, com o mercado das criptomoedas, agora peço a gentileza de acreditarem em alguém que estudou o comportamento de ondas naturais dos mais diversos tipos possíveis durante 38 anos. O comportamento do mercado de criptomoedas não segue a um comportamento de ondas semi-periódicas com períodos predefinidos que se encontra na natureza. Estou falando de ondas com períodos da ordem do 0,01s até ondas com períodos da ordem de meses, todos estes tipos de ondas medi e observei o seu desenvolvimento temporal, logo a hipótese básica de se valer de sequências universais de Elliot fica completamente inválida.

A forma que se comporta a variação de preço das criptomoedas é típica de uma singularidade e não de qualquer fenômeno cíclico, mesmo retirando por análise espectral a primeira harmônica da variação pois fica claro que há uma interação entre esta primeira harmônica com as demais, ou seja, há um pico que interage com as variações diárias e horárias do preço.

Poderia inclusive fazer uma crítica ao ajustamento das curvas de Elliot para o comportamento do mercado, pois este ajustamento é sujeito a chuvas e trovoadas e todas as análises que vi havia quase uma técnica pouco científica que se chama “pentear a curva”. Mas aí seria mais outro problema.

Depois de identificarmos os espertos vamos aos verdadeiros vilões, ou seja, aqueles que utilizam técnicas nada convencionais para ficar no ramo ganha ou ganha. Identifica-se claramente que há manipulações nos preços das criptomoedas que provavelmente grandes investidores agindo como vendedores e compradores ao mesmo tempo, forçam para direção que eles querem, para subir ou baixar e induzirem os movimentos de venda e compra dos que eu chamei “os incautos”. Esta manobra já foi identificada nos USA onde duas empresas com o mesmo CEO (Tether e Bitfinex) estariam segurando o preço das BitCoins por operações cruzadas.

Além das operações cruzadas dos grandes operadores há uma quantidade enorme de pequenos operadores que ficam horas em salas de bate-papo como verdadeiros “cheerleader’s” animando os compradores, a maior parte deles falando que o valor tal é o “suporte” que não baixa de tanto, e daí por diante.

Em resumo, tanto “O Bom, o mau e o feio” são bandidos e mocinhos, numa loucura que não tem lógica conhecida (como loucura tivesse lógica!).

Redação

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