Da Crise do Petróleo ao atual paradigma monetário internacional

Eleanor e Franklin Roosevelt em agosto de 1932. Luta contínua para um sistema econômico internacional mais justo e de crescimento conjunto.
Eleanor e Franklin Roosevelt em agosto de 1932. Luta contínua para um sistema econômico internacional mais justo e de crescimento conjunto. Importantes medidas políticas da década de 1970 criaram o atual mercado de alto risco e o de derivativos, além do permanente sistema da dívida dos países latino-americanos. Esse foi a época em que o antigo império territorial britânico se transformou num império predominantemente financeiro*. Não um segundo Império Britânico, mas o mesmo, atuando em configurações diversas. A compreensão dessa mudança de paradigma econômico é fundamental para se compreender os motivos de a economia internacional, atualmente, estar “congelada”: à beira da falência e ao mesmo tempo em que nunca foi tão dependente dos mecanismos financeiros criados a partir de 1970. Nos anos 1960, durante o mandato do primeiro-ministro britânico Harold Wilson, uma série de medidas foram tomadas para se desestabilizar o acordo de Bretton Woods, porém somente em 1971, com Richard Nixon, o sistema de flutuação monetária e manipulação cambial pôde correr solto. O sistema de trocas fixas ancorava o dólar ao ouro e previa uma série de regulamentos para o comércio entre as nações. Falar hoje, por exemplo, em “regras da OMC” parece uma piada diante das imensas manipulações cambiais e o controle do mercado acionário por entes invisíveis. O exemplo mais recente foi a queda acentuada do petróleo cuja motivação oficial foi a descoberta do gás de xisto… Iniciava-se então uma guerra cerrada contra a América do Sul com políticas de mudança de regime e uma expansão inaudita da OTAN para as fronteiras russas e no Mar do Sul chinês. Se o comércio internacional, através da medida de Nixon, passou a operar de modo anárquico, à revelia dos Estados nacionais soberanos, o dólar passou por maus momentos. Em princípio do ano de 1973, o dólar estava se desvalorizando rapidamente e as economias da França, Alemanha e Japão começavam a crescer. O marco alemão tinha praticamente pulverizado a libra esterlina e em meados deste ano praticamente ganhava hegemonia em relação ao dólar. Em maio de 18973 houve uma reunião do Clube Bilderberg na suécia, no hotel Saltsjöbaden. Como narra Daniel Estulin em seu livro Fuera del Control: como Occidente creó, financió y desató el terror del Estado Islámico sobre el mundo:
O ponto-chave na ordem do dia da reunião do Clube Bilderberg foi a crise do petróleo de 1973, concretamente o aumento previsto de 400% no preço da OPEP no futuro próximo. Como explica o economista William Engdahl, “a conversação não girava ao redor de como nós, alguns dos representantes mais poderosos dos países industrializados do mundo, convencermos as nações árabes da OPEP de que não subam os preços do petróleo de um modo tão drástico, mas ao invés disso se falou em o que fazermos com todos os petrodólares que chegarão inevitavelmente aos bancos de Londres e Nova Iorque procedentes dos recursos derivados do petróleo das nações árabes da OPEP”.
O aumento de 400% no preço do petróleo salvou o dólar, valorizando em cerca de 40% em relação ao marco e ao iene. O que salvou o dólar e Wall Street, contudo, não salvou a economia dos EUA e dos países europeus, e abriu caminho para a chamada crise da dívida externa latino-americana. Da abundância de dólares da década de 1970, emprestado a juros baixos, para dar maior liquidez à economia norte-americana (já sem compromisso com investimento na economia física, mas na economia de cassino), aumentaram-se os juros de maneira estratosférica e unilateral. Convivemos com isso desde então, agravado pelas medidas de dolarização da economia brasileira sob o jugo do Plano Real. Com a desregulação do comércio internacional e o capital especulativo com uma liquidez tão artificial quanto inaudita, começou o processo da criação da criação do marcado de alto risco, nos anos 1980, e dos derivativos, nos anos 1990. Para a proliferação destes, o fim da lei de separação bancária Glass-Steagall, durante o governo Bill Clinton, foi fundamental, pois aboliu as últimas regulações restantes criadas na era Roosevelt (em em especial, a separação entre bancos de crédito e bancos de investimento) para contornar a crise de 1929. Sem ter em conta o papel desempenhado por esse sistema regulatório na economia doméstica americana, não se compreende em escala mais ampla a crise de 2008 e seus desdobramentos atuais, ou seja, a escravidão do mercado internacional aos juros negativos e a política de impressão de dinheiro, isto é, a chamada “flexibilização quantitativa”. Sem esta, a economia internacional declara oficialmente sua falência; com esta, não há meio de se desenvolver a economia física dos países do setor transatlântico.   * Sobre o papel do “segundo” Império Britânico nessa história, ler The Vice: Uma crônica do liberal-fascismo   Rogério Mattos: Professor e tradutor da revista Executive Intelligence Review. Formado em História (UERJ) e doutorando em Literatura Comparada (UFF). Mantém o site http://www.oabertinho.com.br, onde publica alguns de seus escritos.
Redação

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