A Morte da Esquerda, segundo Safatle, por Jorge Alberto Benitz

Safatle, baseado, como filósofo que é, raciocina sobre o que deve ser, abstraindo o mundo real e projetando uma idealização

A Morte da Esquerda segundo Vladimir Safatle

por Jorge Alberto Benitz

O jornalista Uirá Machado faz uma resenha, na FSP,  do  livro de Vladimir Safatle  “Só Mais um Esforço”, Editora Vestígio Vide link https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2024/02/esquerda-morreu-e-ex . O tema, em linhas gerais, trata da conciliação por cima feita desde sempre no país. É um tema que toca em um ponto sensível da política brasileira, onde raramente o povo se fez presente como sujeito. Concordo, com a tese de que o povo, na história pós- redemocratização, exerceu algum protagonismo na luta pelas Diretas, na constituinte de 1988 e no impeachment de Collor. No resto da história sempre vingou a conciliação das elites, e mesmo nestes episódios esta componente foi muito forte mas não conseguiu conter avanços sociais, econômicos e políticos importantes.

O problema de Safatle não é abordar esta questão hoje. Ela continua atual. Nem que ele não tenha razão em alguns pontos. Se se ativesse a apontar os riscos que se corre ao fato de esquerda ser obrigada a conciliar, como, por exemplo,   Paulo Nogueira Batista Jr. em artigo intitulado “Os Desafios da Esquerda“, traria luzes para o debate.  Só que ele faz uma torção, como se a conciliação das elites só ainda existisse por culpa da esquerda, minimizando, colocando no mesmo saco de outras conciliações espúrias ocorridas, a necessidade conjuntural imperiosa de alianças feitas nas últimas eleições para combater a extrema direita bolsonarista. Tudo para ele resulta da incompetência política da esquerda, em especial, da esquerda atual. Tanto é verdade que ele diz em alto e bom som que a esquerda morreu, não existe mais. 

O próprio Safatle em artigo recente, questiona o ressentimento, como motor do engajamento bolsonarista e coloca a culpa na esquerda pelo fracasso dela com grande parte do eleitorado brasileiro. Na revista Piauí 209, de fev/24, no artigo intitulado “O Ressentimento é Real”, Cesar Zucco, David Samuels e Fernando Mello, mostram, com dados de pesquisa de campo, o contrário do que sugere Vladimir Safatle, isto é, que o ressentimento e não a culpa da esquerda foram e ainda são os principais fatores do empoderamento de Bolsonaro e da extrema direita. Situação que, a bem da verdade, começou com a campanha pró- tucana da mídia dos coronéis midiáticos e depois se deslocou para o bolsonarismo que representava com mais fidelidade e ódio a repulsa a todos os avanços sociais, econômicos e políticos das classes mais pobres sob os governos petistas.

A esquerda ao optar pela luta política via eleições, leva em conta a relação de forças existente, seja por acreditar em valores democráticos aliado ou não a um senso de realismo político dado que é praticamente impossível uma revolução, seja por comodismo de segmentos importantes dela que se sentem até ideologicamente mais identificados e/ou beneficiados pela luta política parlamentar.

Safatle, baseado, como filósofo que é, raciocina sobre o que deve ser, abstraindo o mundo real e projetando uma idealização que pode até representar o desejo de quem é de esquerda, mesmo não tendo nenhuma aderência ao que existe, ao possível. Sua tese faz – me lembrar aquela cena do Carlitos correndo com uma bandeira vermelha na rua e a massa, que vinha atrás dele assim que viu a polícia com cassetetes vindo em direção ao grupo, sumiu, se escafedeu, deixando- o sozinho. Retomando, até aí, tudo nos conformes, do pensamento de um filósofo. O que não está nos conformes, a julgar o teor de suas manifestações públicas que tem este tom, curiosamente, desde que rompeu com o PT ao não ser escolhido para Secretário de Cultura de São Paulo por Fernando Haddad, é que tudo soa como um “Samba de Uma Nota Só”, motivado mais pelo que parece ser um ressentimento pessoal do que por uma avaliação racional da realidade política do país.

Escrevi em 2014, no Observatório da Imprensa, um artigo vide link  https://www.observatoriodaimprensa.com.br/feitos-desfeitas/ed803_sobre_a_critica_a_copa/ , apontando este viés do Vladimir Safatle. Infelizmente, ele não mudou durante este tempo todo.

Jorge Alberto Benitz é engenheiro e consultor

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Redação

1 Comentário

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  1. Safatle diz que a esquerda está morta. Ele se diz de esquerda, mas não admite que virou um zumbi. Talvez ele tenha abandonado a esquerda. Nesse caso ele poderá fazer companhia para o Pondé, aquele suposto filósofo que não pega mulher porque é de direita.

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