Há muito o que refletir sobre o que está ocorrendo no Brasil, por Maria Izabel Azevedo Noronha

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Há muito o que refletir sobre o que está ocorrendo no Brasil

por Maria Izabel Azevedo Noronha

A chacina de 60 presos no Amazonas, em presídio privatizado pelo governo daquele Estado, metade deles decapitados, nos faz refletir sobre a aplicação da doutrina do “Estado mínimo” e concepções neoliberais no País e sobre a disseminação do ódio e da intolerância entre nós.

Muitos consideraram que o impeachment, mesmo sem a demonstração de que algum crime tivesse sido cometido pela Presidenta legítima, Dilma Rousseff, seria a saída para os problemas do Brasil. Hoje, apesar de calados, devem reconhecer que isto era uma falácia.

O que estamos vendo é a implementação de uma política de paralisação da ação do Estado, por meio de medidas, como a aprovação da chamada “PEC da morte”, que congela durante vinte anos os investimentos públicos, e a reforma da Previdência, que, entre outras mudanças, reduzirá os benefícios e aumentará para 65 anos o tempo necessário para a aquisição do direito à aposentadoria.

Porém, sabemos, para se aposentar com proventos integrais, o trabalhador terá que começar a contribuir aos 16 anos. Agora temos também a reforma trabalhista, que retira direitos básicos, pois os coloca sob o arbítrio dos próprios patrões.

As consequências serão desastrosas: encolhimento e paralisação da economia, mais desemprego, serviços públicos escassos e precarizados, que provocarão miséria entre os mais pobres e derrubarão a classe média, que ascendeu durante os governos Lula e Dilma, para as camadas mais desfavorecidas. Somente os ricos e muito ricos sairão ganhando, pois nunca perdem.

Há, neste contexto, uma inevitável tendência ao aumento da violência social que nos leva a compreender a tragédia ocorrida no Amazonas. Entregar um presídio a uma empresa privada resulta em superlotação e nenhuma preocupação com a ressocialização dos presos. O interesse é apenas o lucro, que é a essência da atividade empresarial. E no Brasil, busca-se o lucro a qualquer preço, mesmo que envolva a perda de vidas humanas.

Porém, o problema é ainda mais grave, pois nas redes sociais e outros espaços há os que defendem a tese de que “bandido bom é bandido morto”. Uma tese presente nas cartas deixadas pelo homem que assassinou o próprio filho, a ex-esposa e mais dez pessoas na semana passada em Campinas. Uma pessoa que, nas cartas, demostrou ser machista, homofóbico, misógino e ter defendido o impeachment da Presidenta Dilma, a quem chamou de “vadia”, assim como às outras mulheres. Também criticou os que defendem os direitos humanos, equivalendo-os a “defensores de bandidos”.

A letargia ou apoio de grande parte da sociedade e a inversão de valores diante de ocorrências violentas como essas de que estamos tratando é tal, que um dos assassinos do vendedor ambulante Luiz Carlos Ruas, espancado até a morte na estação D. Pedro do Metrô de São Paulo, no Natal, por ter defendido uma travesti ameaçada pelos assassinos, declarou-se “uma boa pessoa”.

Muitos que se declaram “pessoas de bem” acreditam que tratar outro ser humano com dignidade, se for um preso ou condenado, é ser conivente com seus eventuais crimes ou deslizes. Por isso, defendem a violência estatal. Defendem esta violência inclusive contra os movimentos sociais, que têm sofrido uma criminalização cada vez maior. .

Estamos vivendo um momento de grande intolerância, fomentada de forma explicita ou subliminar por determinados meios de comunicação, como a Rede Globo de Televisão, mas também outros canais que mantém programas que exploram de forma sensacionalista a violência cotidiana da nossa sociedade. São inúmeras também as estações de rádio que mantém o mesmo tipo de programas.

Retomando: sempre alertamos e continuamos denunciando que privatização e terceirização dos serviços públicos não são soluções. Ao contrário, causam a precarização destes serviços, distanciam aqueles que trabalham no atendimento à população atendida e provocam sérios prejuízos. No caso da Saúde, por exemplo, a precarização pode causar mortes e graves sequelas.

Sou professora efetiva na rede estadual de ensino do Estado de São Paulo e tenho compromisso com a Educação Pública. Por isso, luto para que ela seja inclusiva, de qualidade e com acesso garantido a toda a população.

O Governo de Geraldo Alckmin não corresponde a esta expectativa, deixando-nos há quase três anos sem reajuste salarial, fechando classes e precarizando as condições de trabalho. Tampouco o governo ilegítimo de Temer prioriza a Educação.

Mas, a luta dos professores é também para que todos os serviços públicos, em todas as áreas, tenham qualidade. Considero que o sistema prisional deve ter como objetivo, além de punir os que cometeram crimes, recuperá-los para o convívio social. O assassinato em massa ocorrido no Amazonas deve ser debitado como responsabilidade do Estado e da empresa “dona” do presídio, pois aquelas pessoas estavam sob sua guarda.

Professora Maria Izabel Azevedo Noronha – Presidenta da APEOESP

 

 

7 Comentários

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  1. Não tem nada a ver com impeachment ou privatização

    A superlotação dos presídios é problema antigo, não começou após o impeachment nem é culpa da privatização: por acaso é a empresa gestora quem decide quantos presos serão mandados para lá? Quem manda é o Estado, e os funcionários é que tem que segurar o pepino.

    O caso é o seguinte: construir cadeia não dá voto. Jogar os presos na rua sai mas barato, e nessa hora sempre tem gente para vender a ilusão de que as cadeias brasileiras estão abarrotadas de ladrões de galinha que bem poderiam estar cumprindo penas alternativas. Engana que eu gosto.

    1. Quem gera tem responsabilidade sim

      Ela não afirma que o problema seja novo. Diz que estamos sob a condição de um “Estado Minimo” e que isso so vai piorar ainda mais essa e outros problemas sociais. Ha muitas décadas que vão empurrando o problema do sistema carcerario para frente, mas agora, com a prisão desde a segunda instância, a questão da superlotação [entre outros] precisa ser resolvida com urgência.

  2. Assim é. País sem pudor!
    “Assim é. País sem pudor! TERIA SIDO UM GOLPE? TERIA SIDO UM GOLPE COMANDADO PELOS PODERES DA REPÚBLICA, SOB DOGMAS DOS PODEROSOS MULTI-NACIONAIS E GOVERNOS EXTERNOS?”> https://gustavohorta.wordpress.com/2017/01/05/assim-e-pais-sem-pudor-teria-sido-um-golpe-teria-sido-um-golpe-comandado-pelos-poderes-da-republica-sob-comando-dos-poderosos-internacionais/ ”…Se você está convencido de que foi um golpe esta crônica apenas ilustra mais alguns fatos que eventualmente irão corroborar seu entendimento. …, se está convencido de que não foi um golpe, certamente você está mais atento ao imoral, ainda que legal, uso do helicóptero feito pelo petista governador de Minas Gerais um dia desses para buscar o filho de uma ressaca de passagem de ano e despreza, desconsidera o uso ilegal e imoral das aeronaves pelos ex-governadores do mesmo estado, srs. Aécio e Anastasia. Despreza, releva, desconsidera também o uso ilegal e imoral das aeronaves do estado de São Paúlo feito pela família Alckmin. É claro, considera irrelevante o papelão feito pelo recém eleito prefeito da cidade de São Paulo ao posar cinicamente entre garis como e assim o fosse! Apena um cretino oportunista. Mas você releva. Assim, não perca seu tempo lendo esta crônica. …, ai vão algumas de minhas reflexões. Veja se ajuda a tirar as suas dúvidas…”

  3. Não tem muito para refletir

    É simples. O que estamos vivendo hoje é graças ao republicanismo do PT e do Lula. Junte a isso a incompetência e covardia do Lula e do PT por não terem enfrentado o PIG. Agora é tarde. 

  4. O problema é a dívida interna… pública, mas não publicizada…

    Caros concidadãos, todas essas medidas draconianas contra o Brasil e a maioria de seu povo visam tão somente escoar recursos para alimentar o grande cancro do País – não comentado com a devida veemência, inclusive, nos “blogs sujos” – , que é a tal Dívida Pública Interna, cujos encargos sangram (todos os anos!) quase 50% do orçamento público. Isso pode ser conferido nos textos abaixo, de autoria de Maria Lúcia Fatorelli – auditora aposentada da Receita Federal que, escandalizada com tais números, fundou o movimento “Auditoria Cidadã da Dívida” no Brasil. Pauta, aliás, ao que parece, Lula e seu governo tiveram que abandonar para poder se intalar no Planalto, como explicitado na tal “Carta aos Brasileiros”, em junho de 2002, ainda antes de sua eleição… Penso que, infelizmente – em minha não muito grande experiência como ex-militante na esquerda -, esse documento marca o ponto de inflexão/capitulação do PT em sua história de luta no movimento social brasileiro. Seguem os textos e a já citada carta…

     

  5. Porque não começamos a mudar

    Porque não começamos a mudar esse atraso com a organização de um show musical com várias personalidades e bandas, com custo zero no ingresso. Mobilizar as pessoas através da cultura e da música, a partir daí ir para as ruas, porque do jeito que a coisa anda iremos até 2018 cada vez mais fundo no abismo, aí nem o Papa resolve!

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