W. GODLEY, O ECONOMISTA DOS MODELOS NÃO CONVENCIONAIS

New York Times – 24/9/2013

ECONOMISTA DESAFIA MODELOS CONVENCIONAIS: Wynne Godley, do Levy Economics Institute

Por Joanathan Schlefer

 

Se as autoridades econômicas decidirem que vão confiar em modelos financeiros -que, em sua maioria, não conseguiram prever a crise financeira de 2008 e a Grande Recessão de 1929-, elas podem se basear em um dos poucos economistas a antever o que estava por vir: Wynne Godley, do Levy Economics Institute, perto de Nova York.

Godley morreu aos 83 anos, em 2010, talvez cedo para desfrutar do crédito que muita gente acha que ele mereça.

Em um estudo publicado em 2011, Dirk Bezemer, da Universidade de Groningen, Holanda, identificou cerca de 12 especialistas que alertaram contra uma ameaça econômica ampla.

Eles explicaram como o endividamento a agravaria e especificaram um cronograma para a crise. Godley “era o mais científico, no sentido de contar com um modelo formal”, diz.

Os modelos importam porque detalham o pensamento de um economista, diz Bezemer. Outros economistas podem usá-los. Clonar intuição é bem mais difícil. Um desempenho como esse não era novidade para Godley.

Em janeiro de 2000, o Conselho de Assessores Econômicos americano classificou a expansão econômica do país como vem e vigorosa”. Porém, em março daquele ano, Godley e L. Randall Wray, da Universidade do Missouri em Kansas City, criticaram o pronunciamento, afirmando que “a Cachinhos Dourados” estava “condenada”. Dias depois, o índice Nasdaq chegou ao seu pico e começou a cair, o que deu início à implosão da bolha da internet.

Godley nasceu no Reino Unido e se formou na Universidade Oxford em 1947. Em 1956, transferiu-se para o Tesouro britânico e foi apontado diretor do departamento de economia aplicada da Universidade de Cambridge em 1970.

O “Times”, de Londres, o chamou de “o mais perceptivo dos economistas de projeções macroeconômicas de sua geração”.

Os modelos econômicos convencionais presumem que as expansões e contrações surjam por conta de forças externas, como gastos governamentais erráticos, dinamismo tecnológico ou estagnação. Os bancos, em geral, são uma nota de pé de página nessas análises.

Os modelos de Godley veem os bancos como centrais para promover crescimento, mas também como uma fonte de ameaças. Empresas e domicílios tomam dinheiro emprestado. Mas, se suas expectativas não se confirmarem, eles podem se endividar demais e isso provoca cortes.

O economista afirmava que domicílios, companhias de produção, bancos e o governo seguem regras. As empresas adicionam um sobrepreço padronizado para obter lucros aos seus custos de mão de obra e demais insumos.

Caso estoques se acumulem, elas corrigem reduzindo a produção e demitindo pessoal. Domicílios podem cortar despesas, bancos, empréstimos. A economia, que vinha voando alto, despenca. Nos modelos convencionais, a economia se estabiliza em um equilíbrio entre oferta e procura.

Para Godley, ela é impulsionada pela procura e é menos estável do que presumem muitos economistas tradicionais.

Em abril de 2007, Godley e seus colegas analisaram as projeções do Serviço Orçamentário do Congresso dos EUA sobre os gastos do governo com o seu modelo.

A resposta foi a de que, para que as projeções se confirmassem, o índice de endividamento dos domicílios teria de atingir 14% do PIB em 2010.

Eles declararam que a situação era “altamente inverossímil” e que o mais provável era que o endividamento se estabilizasse, reduzindo o crescimento a “quase zero”. Previram a recessão iminente, mas subestimaram sua profundidade.

Em 2007, Godley e Lavoie publicaram um modelo das finanças da zona do euro que previa três desfechos -disparada nas taxas de juros do sul da Europa, grandes empréstimos do Banco Central Europeu (BCE) ou cortes fiscais pesados. A zona do euro passou por esses três ciclos.

O que os modelos de Godley estão prevendo agora, portanto? “A principal dificuldade”, afirma uma recente análise do instituto Levy, “está em convencer os líderes econômicos quanto à natureza do principal problema: a demanda agregada insuficiente”. Até o momento, eles não vêm obtendo grande sucesso.

Redação

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