2025, um ano decisivo para o país, por Luís Nassif

Há uma contagem regressiva para a hora do enfrentamento. Não poderá passar muito da metade do ano, sob risco de inviabilizar o governo

Ricardo Stuckert

O governo Lula está em uma situação curiosa.

O time ainda não entrou em campo. Está perdendo em várias frentes. Mas – importante – virar o jogo depende apenas dele.

 Nos dois primeiros anos, um Banco Central inerte – presidido por Roberto Campos Neto, um bolsonarista explícito – permitiu o controle das políticas de câmbio e juros pelo mercado. No segundo semestre, não atuou contra os primeiros movimentos de elevação do câmbio, no mercado de derivativos.

Em dezembro, o terrorismo fiscal, a sazonalidade do envio de dólares para o exterior, mais as indagações a respeito da política econômica de Donald Trump, permitiram ao mercado deixar o Banco Central de joelhos.

Há os seguintes movimentos em curso:

  1. A melhor parte da mídia corporativa – analistas que conseguiram algum grau de independência – já identificou os abusos do mercado, na mera comparação entre os indicadores econômicos do ano e o catastrofismo dos editoriais dos jornalões.
  2. Fica cada vez mais clara a existência de um cartel no câmbio com objetivos monetários e políticos. É só conferir a manchete da “Gazeta do Povo”  de Curitiba, notória representante da direita midiática.
  1. Há um silêncio inacreditável dos grupos de influência da produção, diretamente afetados por essa loucura especulativa: indústria automobilística, máquinas e equipamentos, energia, telecomunicações.

Mas o excesso de abusos do tal mercado começa a gerar anticorpos, que se ampliarão na medida em que o aumento da Selic comece a bater nas vendas das empresas.

Há duas estratégias paralelas a serem montadas pelo governo:

Estratégia de governabilidade

Lula já está convencido da necessidade de um Plano de Metas para seu governo. Há um conjunto de oportunidades novas para a indústria, com a transição energética. E há um manancial de sugestões de políticas públicas, desde os grupos de trabalho do Instituto Perseu Abramo, do PT, a organizações públicas como o CGCEE (Centro de Gestão e Estudos Estratégicos), Finep (Financiadora de Estudos e Pesquisas), BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), IPEA (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas), ENAP (Escola Nacional de Administração Pública), todos eles think tanks de excelência e pouquíssimos aproveitados.

Há um fio condutor – as conclusões da 5a Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação e os estudos do NIB (Nova Indústria Brasil).

Tem-se o principal. O que falta? Uma estrutura de governo, um Conselhão, mas com missão gerencial de definir um plano de ação com prazos e metas. E, depois, um sistema de informação claro, que disponibilize prazos e metas para serem acompanhados pela opinião pública. Periodicamente haveria a entrega, a cobrança e a definição de novas metas.

O Plano de Metas de JK foi montado em um período em que o país não dispunha sequer de técnicos em planejamento, a não ser os craques da Cemig (Centrais Elétricas de Minas Gerais), trazendo a contribuição do planejamento energético para as políticas públicas. Funcionários do BNDES, como Ignácio Rangel, precisaram ser remanejados para aprender as novas ferramentas de gestão e colocar o plano de pé.

Agora, tem-se abundância de gestores, inclusive no setor público. Falta apenas o apito do técnico Lula para iniciar o jogo.

Estratégia de mercado

A segunda linha de ação será necessariamente silenciosa, mas consistirá em definir paralelamente uma estratégia de enfrentamento do mercado.

Esse enfrentamento será inevitável em um ponto qualquer do futuro simplesmente porque criou-se uma quadratura do círculo para a questão fiscal.

O mercado jogou com o câmbio. O Banco Central teve que elevar em um ponto a Selic e acenar com mais dois aumentos de um ponto para impedir o descontrole. O indicador de solvência da dívida pública é a relação dívida/PIB. E o maior fator de alimentação da dívida é a Selic. Com 15 pontos de Selic, o superávit primário necessário para estabilizar a relação dívida/PIB passa dos 3 pontos percentuais.

Nesse ínterim, indústria e comércio sentirão na carne a reversão das expectativas de crescimento e ficará cada vez mais claro o papel disfuncional das atuais políticas monetária e fiscal.

Há uma contagem regressiva para a hora do enfrentamento. Não poderá passar muito da metade do ano, sob risco de inviabilizar completamente o governo e abrir espaço para a volta do negocismo miliciano do bolsonarismo. E não poderá consistir em declarações contra o mercado, apartadas de ações objetivas.

2025 será um ano decisivo. E, espera-se, com Lula em campo comandando as ações.

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16 Comentários

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  1. Plano de Metas com dois anos de governo ?

    Já era, resta ir no piloto automático e tentar a reeileção com Lula ou outro(a).

    Lembro sempre da ironia do Simonsen com o plano de metas do governo militar “não leio ficção”.

    1. O governo com dois anos só recebeu a caneta (com pouca tinta) para assinar o cheque, agora.
      Tudo vai depender da taxa de juros estabelecida na primeira reunião da COPOM. Se não for feito o enfrentamento nessa trincheira agora, a guerra da eleição de 2026 estará perdida. Me parece que qualquer n° acima de 9,00% (com viés de baixa) será uma derrota fragorosa.
      (Teremos que torcer para Gustavo nivaldo lima presidente, jojo toddynho vice, porque as outras opções serão muitíssimo piores).

      1. O que digo é que não dá para montar um plano.

        Resta tocar o barco, o que não é pouco.

        Com alguns amigos pior que os inimigos.

        Gustavo Lima ? A mídia adora uma farofa.

  2. Mais e mais do mesmo.

    Nassif imagina que alguns grupos “iluminados” e um “plano” dêem conta de um problema que não é de “gestão”, mas antes de tudo, é político.

    “Plano de metas”, think tanks, etc, tudo isso é secundário.

    Primeiro tem que se definir para quem o governo quer governar.

    Resolvido isso, tem que definir quem vai pagar a conta.

    Sem tributar os ricos, sem estabelecer que as políticas públicas servirão aos mais pobres, nada feito.

    JK? Plano de metas?

    Que metas?

    Alfabetização? Assentamentos? Diminuição de desigualdades? Vacinação? Água encanada e saneamento básico? Políticas de habitação?

    Nada… só um política de substituição de importações que deixou o país na m*rda, endividado até o talo.

    Enriquecimiento das elites e algum agrado a classe média caipira do país, que andava de Corcel I, mas sonhava com Cadillac.

    Nada melhor para definir JK, um presidente nossa nova.

    Como sabemos, nossa nova é o samba de branco, que sonha ser jazz.

    Antes de planos mirabolantes, Nassif, tem que fazer o feijão com arroz:

    Mandar os juros às favas, quarentena cambial, imposto nos ganhos financeiros, imposto para os ricos, para começar.

    Não precisa de “pensadores” para enxergar que precisamos de saneamento, escolas de qualidade, saúde, segurança, casa, transporte público.

    É isso.

    Se direcionar o orçamento público para isso, e não para encher o r*no dos ricos, como o perdão das dúvidas de empresas de aviação, como divulgado ontem no G1, já é um grande começo.

    Agora, sabe quando esse governo vai ter coragem de fazer isso?

    3 dias depois de fim do mundo, quem sabe?

    1. Esperar coragem do governo é sonhar.
      De onde vem o excesso de consumo ? Da classe média alta para cima nada muda quanto ao gasto cotidiano diante das mudanças da inflação. Esses se protegem e lucram sempre, independente do custo inflacionário. A inflação, creio, vem da classe média para baixo, dos que consomem tudo o que ganham e pouco tem para poupar. Consomem mais pelas possibilidades de financiamento via cartão de crédito. Assim,
      outras ações existem para reduzir o consumo do que o simplório e criminoso aumento da Selic e tudo começa com a limitação do número de prestações e juros.

  3. e pensar q a ideia de um banco central partiu dos socialistas originários, discípulos de Saint-Simon, para quem o banco cemtral agiria justamente como indutor da economia popular (não uma ‘exonomia’, com o perdão do portmonteau entre exógeno e economia) com juros módicos frente à sanha do mercado. as resoluções normativas do banco central à brasileira sequer mencionam uma prática de juros racional, enquanto o congresso se nega a tributar lucros e limita a cobrança de dívidas de pessoas físicas em 200% do valor original, o que por só já há eloquencia bastante, mais a maioria do supremo ser ultraconservadora e se negar a acatar as regras do art. 39 da Carta. a nossa economia é para fora, exógena, pois extrativista.

  4. O governo acabou. 2 anos perdidos sem vontade de fazer nada de concreto. O mercado tem o dinheiro e o controle da situação. Lula perderá popularidade ao longo de 25 e n vai arriscar uma reeleição perdida.

    Em uma situação q vai levar o país a uma espécie de recessão senão absoluta relativa em alguns setores, a volta da direita já é certa. Espero q com um nome mais profissional do que Bolsonaro.

  5. Nassif para o enfretamento é necessário ter munição,neste caso será a consciência da sociedade,tem q deixar as galinhas de Angola fazer algazarra (mercado e mídia)e ir só apontando o q fazem,o problema é q Lula pode entrar no psicológico deles,essa raça é covarde,vão meter o pânico no velhinho assustado(vide a covardia em um recém operado sendo induzido a ficar muito assustado na entrevista para a Globo)Lula precisa é governar em oculto só metendo o louco,deixa internamente falarem com a sua mão PQ TUDO TÁ LINDO E BEM DIDÁTICO,a sociedade vai cair em si agora muitas vezes PRECISA DIZER O ÓBVIO,oras bolas Bolso governou 4 anos só metendo a mão no dinheiro,não investindo nada,fazendo carreata,bravata e andando de jet ski pq ele é melhor q Lula ?

    1. Conseguiram fazer Lula vetar contra os interesses do Brasil a admissão da Venezuela nos BRICS.
      Para reverter esse erro minimamente, só a presença do Lula na posse do Maduro. (vão enviar o copeiro do Itamarati!)

  6. Acredito que mesmo com todas as dificuldades existentes eu acredito que o governo fez milagre.
    Primeiro ano: foi a iniciativa de religar o Brasil com o mundo. Segundo ano: o nosso Presidente olhou mais para “dentro”. Temos a pessoa certa para reconduzir o país ao lugar que ele merece.

  7. Se a SELIC não cair para um digito (9%, com viés de baixa) na primeira reunião do COPOM, a primeira batalha decisiva estará perdida.
    Pior, vai desmoralizar o governo pois dará razão às políticas do bolçonário, guedis e campos neto com suas taxas criminosas.
    A (última) hora é agora!

  8. O predomínio do “ MERCADO” e os caminhos para a criação de cartéis estão relacionados à falta de busca daquilo que gera dinamismo na economia. O novo momento vivido por uma maior internacionalização da economia, ofereceu o fim da hiperinflação, e um certo controle para a inflação no País. O problema é que o chamado setor produtivo deixou de construir um melhor cenário para a sua própria continuação. Muitas mentes que estão trabalhando para os setores do “MERCADO” , poderiam fazer parte em fornecer os meios de fazer, criando os caminhos para negócios que sejam bem sucedidos. Para as pessoas melhor situadas na sociedade, acostumadas a um padrão elevado de vida, a sedução de ganhos ofertada pelo “MERCADO” não tem praticamente concorrência. Até para a neoindustria dar certo, será necessário uma reação dos vários setores produtivos , de também possuir alguma meta. Não dá pra viver apenas de renuncia fiscal do setor público. O País não tem que perseguir apenas metas de inflação, mas outras também. Não somente o governo e o presidente Lula, mas o todo econômico do País.

  9. Brasil tem quase 9 milhões de quilômetros quadrados de área, mais de 200 milhões de habitantes. Em terras contínuas, maior até que os EUA, mas estamos na América e a América está sob o domínio do ocidente rico e o ocidente quer manter nosso país nessa condição de economia periférica, fornecedora de matéria prima e mão de obra barata. A mídia alternativa anunciou nessa semana que a Venezuela tornou se autossuficiente em alimentos e que em dez anos o país alcançou essa façanha incrível e já se prevê que a nação se torne exportadora de alimentos nas próximas décadas. Com o potencial petrolífero da Venezuela e sua independência agrícola, em breve teremos na América do Sul o surgimento de uma nação poderosa que optou pela ruptura de um sistema político que deixava de fora a maioria da população, na medida em que investia somente no modelo exportador de petróleo, setor que beneficiava meia dúzia de famílias abastadas e que se revezavam no poder do país. Nosso vizinho, a respeito de todas as notícias ruins veiculadas por nossa mídia corporativa, vai bem, obrigado. O que nos resta agora é torcer para que nosso vizinho tenha mais sucesso a cada dia e se contraponha ao que vem ocorrendo em nosso continente e na maior nação da América do Sul. Ao adotar um discurso centrista como forma de se perpetuar no poder, nossa esquerda permitiu o avanço inexorável dos grupos extremistas de direita e esse caminho parece não ter mais volta. Temos um Lula visivelmente acuado, cansado e doente, além de uma esquerda que se perde na ilusão das pautas identitárias e nos parcos avanços de nossa economia, asfixiada pelos juros elevados e pelo massacre diário da mídia rentista. Não há luz no fim do túnel, não há pista limpa para pouso, nem tampouco mar calmo que nos leve a um porto seguro. Temos um congresso, mas e daí se ele joga contra o povo? Temos uma imprensa livre, mas e daí se a parte mais poderosa desse setor defende a agiotagem dos bancos e o monopólio do setor agroexportador? E daí que temos um judiciário atuante, mas que agiu de forma traidora com a pátria ao associar-se a forças estrangeiras e a militares corruptos para jogar nosso país ao chão? E nossa política externa, que insiste em nossa identidade Ocidental num mundo cada vez mais multipolar? Por que passados dois anos grande parte dos militares golpistas ainda está solta e os que foram presos gozam de privilégios onde estão detidos? Por que moro ainda detém o cargo se senador da República quando todos sabem de seus crimes contra nosso país? Os acordos, malditos acordos, sempre a estagnarem o país e jogarem para o futuro tudo q aquilo que precisamos para agora e que adiamos há décadas. É urgente que precisamos de uma ruptura sob o risco de vermos nossa soberania comprometida por interesses estrangeiros em um mundo cada dia mais armado e belicoso. O Brasil, essa enorme Jangada de Pedra está a deriva e prestes a ser dilapidada pelos mesmos piratas de sempre.

  10. O dinheiro do mercado financeiro ficou caro? Com eles controlando a
    taxa selic? Então o governo brasileiro deveria procurar outro mercado
    e o próprio governo oferta sua própria taxa de juros para rolar a dívida
    pública. E esquecer a taxa selic. Acredito que o tesouro nacional não é
    obrigado a pagar juros altíssimo para esse mercado. Oferta os títulos
    públicos em outras praças, fora do país.

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