A Federação do Comércio e a taxa Selic, por Luís Nassif

O economista, o jornalista econômico, a liderança do comércio ou da indústria precisam mostrar alinhamento com os bordões do mercado.

Os economistas da Federação do Comércio de São Paulo decretam: a seca, o mercado aquecido, as taxas baixas de desemprego indicam necessidade de aumento dos juros na próxima reunião do Copom.

Como as taxas de juros irão combater o choque de oferta dos alimentos?

Simples: reduzirão o movimento do comércio, obrigando indústrias e comércio a reduzirem o preço. Mas não afeta nem um centavo no preço dos alimentos. O dinheiro dos consumidores será transferido para os bancos – através do aumento do spread bancário – e para o capital financeiro, através do aumento de custo da dívida pública. Graças ao aumento da Selic – e ao endosso dos economistas da Fecomércio – mais dinheiro sairá do consumidor, do comércio para encher as burras dos financistas.

Deu para entender o peso da ideologia na construção da estagnação da economia?

Economistas ligados a todas as federações e confederações da economia rural deveriam, a esta altura, estar questionando o uso exclusivo dos juros para conter a demanda, sob qualquer pretexto. Deveriam estar mostrando a seus associados que aumento dos juros para compensar aumento dos alimentos, fará mais uma vez comércio e indústria pagarem a conta da inflação. E, a partir dessa tomada de consciência, deveriam montar grupos de discussão para questionar o modelo de metas inflacionárias e discutir alternativas.

Mas nada disso ocorre. O economista, o jornalista econômico, o jornalista financeiro, a liderança do comércio ou da indústria precisam mostrar que estão em linha com os bordões do mercado. E ressaltar que a única maneira de reduzir a gastança financeira seria com os cortes na “gastança” do orçamento. Mesmo que a “gastança” do governo retorne para a economia real – isto é, para comércio, indústria e agricultura – através de investimentos em infraestrutura (alimentando a construção civil), melhoria da renda da classe D (alimentando o comércio) ou redução expressiva nos financiamentos do BNDES, BB e CEF (alimentando toda a economia real).

Mas não existe mais a economia real. Ou ela está reduzida a empresas com pouco fôlego econômico e pouca influência política. Os grandes industriais e comerciantes de outrora aprenderam que era muito mais tranquilo vender suas empresas e passarem para o time dos financistas: lucro fácil, sem exigir esforço, mentalidade inovadora ou correr riscos.

E tome importados através das plataformas, através dos subsídios que governantes mais espertos dão para seus produtores.

Definitivamente, nos tornamos o país dos rentistas onde o sonho de cada empresário é se tornar um investidor financeiro, e de cada economista do setor produtivo de ser erigido a economista de mercado.

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15 Comentários

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  1. É vergonhoso tantos economistas terem abordagem tão limitada. Quanto aos industriais e comerciantes,estão esmagados por essa ideologia dos financistas e boa parte se aproveitando dos ganhos financeiros fáceis. Ferramentas para direcionar e, eventualmente, limitar crédito, para inibir movimentos especulativos com a taxa de câmbio e para amenizar gargalos em setores produtivos, sem taxas de juros indecentes, não faltam.

    1. Estão matando a economia do Brasil. Esses carrapatos esquecem que quando levaremos hospedeiro à ruína o que vem depois é de Bolsonaro pra pior e da mesma forma que a turba de estrema direita culpa o comunismo pelas mazelas do Brasil, nas mãos do manipulador certo,l podem ser levadas a culpar a o mercado financeiro em poucas semanas.

  2. De onde sai o dinheiro pra essa farra dos abutres? Dos trabalhadores, tanto públicos e privados, que a cada dia perdem direitos justamente pra sustentar a sanha dos abutres, e quando até os trabalhadores forem sugados até o limite, de onde sairiam os recursos para sustentar essa farra?

  3. A verdade é que somado à financeirização radical padecemos de uma burguesia antinacionalista que nunca foi elite. Predam o país desde tempos imemoriais reproduzindo a lógica da economia escravagista, sem projeto de futuro, alinhamento irrestrito aos interesses da metrópole e política de terra arrasada em todas as esferas da vida nacional.

  4. A economia é um contexto dinâmico, onde os atores exercem grande influência para a continuidade do avanço da economia. O movimento por encontrar soluções nas variadas partes da economia que atendam velhas e novas demandas é o combustível que mantém um crescimento chamado sustentável. Nenhuma economia vai paralisar ou mesmo morrer. Mas sua condição de solucionar seu crescimento dirá o papel desempenhado por ela. Os economistas são uma categoria de profissionais, que vendem a capacidade de seu conhecimento. Essas federações ou confederações de classes empresariais fazem análise para um conjunto situado em cada uma delas. Situações não são necessariamente iguais para elas. Sem um dinamismo que ofereça espaço ao surgimento de soluções que rumem e remem para o crescimento, se olhar o futuro, será pragmático concordar com “o mercado”. Uma economia que convida empresários desistirem dos negócios pra ganhar mais no financismo, está no mínimo fora da rota.

  5. Os melhores negócios do mundo são : ser agiotas ou monopólios , ou tomar as empresas lucrativas do governo , corrompendo os políticos e enganando o povo .
    E o gado que pague o Pato.

  6. Meu caro Nassif,
    Infelizmente estamos vivendo uma era em que os factoides sectários influenciam mais as pessoas do que a situação real desenvolvimentista.
    Essa teoria econômica fundará numa única variável é bem a cara do neo-liberalismo.
    Eles só se preocupam com a maximização do lucro financeiro, transformando o cenário econômico em um canguru perneta, onde a taxa de juros seja o único instrumento a ser utilizado para satisfazer os prazeres dos seguidores do Waren Buffet.
    Vc não está sozinho nessa linha de pensamento!
    Forte abraço

  7. Primeiro, que grande parte do empresariado graúdo ganha mais com juros, líquidos e certos, da Selic, que com seus empreendimentos visíveis; segundo, que economistas, via de rergra, são meros empregados pra dizer amém. ESSE PAÍS É UM MILAGRE!

  8. Eles contribuem para piorar o ambiente econômico, levando ao declínio do varejo, da
    indústria, e são representantes do setor. Mas nunca fizeram nada, absolutamente, nada
    para melhorar a força de consumo que é o motor de todos os setores.
    Parecem que possuem forte ligação, não com a indústria ou o comércio, mas com o mercado financeiro da Faria Lima.
    O mercado financeiro, o poder econômico dessa elite, contaminou tudo, para todos
    trabalharem a favor desse saque ao país, que praticamente inibe tudo, toda tentativa
    de crescimento. Seja na mídia, nos meios de comunicação, no Congresso Nacional, e
    agora nas Agências reguladores, e há muito tempo nessas cafuas de Federação de Indústria
    ou de Comércio que são mais fáceis de controlar.

  9. Vejo e aqui já expus a grande dificuldade de a esquerda gaúcha e brasileira em contrastar o discurso comandado pelos defensores da bufunfa regidos pelos 200 “heróis de esparta” e rede global, em minúsculas.
    No RS o PT lançou nome de menor peso eleitoral para concorrer com o candidato abençoado por certa rede de comunicação. Deu nas ações predatórias ao ambiente e péssima gestão da calamidade das águas onde governador e prefeito da capital apareceram com olhares de – o que estou fazendo aqui ? -.
    Assim, sem contraponto, se fazem os abusadores do meio ambiente às custas do rebaixamento estrutural dos desassistidos.

  10. Situação esdrúxula e vergonhosa essa política monetária. Tira do pobre pra dá aos ricos. Ainda bem que morreremos e vamos de mãos vazias. Espero que esses ricaços morram comendo dinheiro.

  11. Aquele que, experto nas doutrinas políticas, não guarde qualquer cuidado de prestar o seu concurso à República; esse não é, com efeito, “a árvore que na margem da ribeira dá frutos sazonados”, mas antes um abismo funesto, que devora para jamais devolver.

    Dante Alighieri

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