Por Rui Daher
Insatisfeito com a repercussão dos últimos capítulos deste retorno do “Dominó de Botequim”, pensei parar com a série e começar uma nova, assim como faz a TV Globo com grande sucesso. Merecido, por sinal. Criticar a Globo apenas pelo cinismo político ou os teratológicos Faustão, Huck, Galvão, parece-me um contrassenso. Não separa alhos e bugalhos. Se algo deve ser cobrado das “Organizações” são os crimes pecuniários existentes desde o caso Time-Life e, até hoje, com a não menos corrupta FIFA, e sua traição política à democracia. Nada acontecerá, como nenhum político corrupto tucano será preso.
Nesta semana, conversei um pouco com o patrão, que me pareceu satisfeito. Realmente, creio que histórias assim, umas esotéricas outras nem tanto, quebram a aridez das excelentes análises publicadas no GGN.
Sem o Nestor e o Pestana (N&P), ocupadíssimos com o Facebook, cada vez mais chato, uma dessas noites visitei sozinho a Redação do BRD. A chave me cedeu a Lourdes.
Tudo intacto, inclusive o essencial, a poltrona onde me reúno com o Conselho Consultivo, Fernando cada vez mais distante, a caminho do Paraitinga. Do Conselho lembram? Não? Nem isso leram? Darcy, Ariano, Melodia e o Dr. Walther Moreira Salles.
Pois, então:
– Demorou em sul-maravilha deslumbrado?
A voz de quem tem um ovo quente na boca e o sotaque nordestino denunciavam o menestrel de todas as artes.
– Porra, Ariano, já não chega a perda do Serafim, duas décadas de retrocesso no País, repressão aos tragos como receita correta para boa saúde, gente chata por todo lado, e vem você me arreliar, vai falar com suas cabras. O Elomar ainda está por aqui.
– Calma, Rui. Muito inflamado. Assim não conseguimos trazer você pra cá. Vai acabar esquentando na Estação Inferno.
– Darcy, me leva, vai. Serve. Num guento mais este planeta.
– E você acha que estamos aonde. Por aí. Só que em características, propriedades, composições, fórmulas, diferentes das de vocês.
– Estudei química, Darcy. O que mais? Quero falar com o Dr. Walther.
– Pois não, caríssimo.
– O senhor concorda com a atual fase do capitalismo?
– Claro.
– Como?!
– Sim, vocês são um bando de burros e merecem. Sei da sua situação financeira. Quer ajuda? E saiba, não adianta rezar pedindo dinheiro em nenhuma religião. Eles precisam de pobres que acreditem neles. Pior, aí no Brasil, o povo acha que somos ricos porque Deus nos ajudou. Precisa, fala.
– Não, obrigado, Doutor Walther. Vou me virando.
– É que “amigos são pra essas coisas”, você sabe.
– Ruizinho, tem aqui um cara que frequenta nossas rodas, leu umas opiniões suas, gostou e quer falar contigo.
– Manda Melô, desde que não sejam mais ofensas, quem é?
– Sou um João, como foram os Temerosos do Garrincha.
– Tantos. Como posso saber se russo, tcheco, argentino, chileno?
– Diferente. Sou um João que treinou o gênio, o anjo das pernas tortas, o comedor da mulata mais gostosa do Brasil.
– Saldanha?!!!
– À sua disposição e se Manguear comigo, leva dois tiros na testa.
– Vou pensar. Se topar, me chama de Bruno, o goleiro do Flamengo, e manda bala.
– É sobre isso que quero falar, embora saiba você rubro-negro, enquanto no mundo em que vives pareces mais uma estrela solitária. Que merda vocês estão fazendo com o futebol brasileiro? Você assistiu ao Grêmio e Lanús?
Infelizmente, sim. Deprimente. Não, João, esta não é a melhor palavra. Ininteligível, sem frescura. Como se define um jogo em que, durante 90 minutos, um jogador chuta a bola no adversário que também a devolve no corpo do adversário? Queimada de meninas?
– Rui, leu a minha biografia, escrita pelo André Iki Siqueira, “João Saldanha, uma vida em jogo”.
– Duas vezes. Sensacional. Depois desta conversa, irei para a terceira leitura.
– Nem precisa. Sabe o que me preocupa? Os bons jornalistas que por aí estão, todos a render loas para mim e eu a cagar para eles. Outro dia liguei, pro Juca, bom, mas joga toda essa merda em dirigentes. O Zé Trajano, que apenas maneirava, foi mandado embora daquela empresa de jovens que ficam relatando estatísticas de 1900 e bolinhas. O Neto, me diverte, mas é um histrião que acha qualquer jogador o melhor do mundo. O os da TV? Ninguém. Domesticaram o Casão. Porra, talvez, sobrou o Calazans. Melhor trazê-lo logo para cá.
– João Saldanha, faço questão do sobrenome português. Botafoguense. Você melhorou minha vida.
· – Não aceitei participar do Conselho, mas estarei sempre à disposição e frequentando o Serafim. Duas cotoveladas, no fígado, amigo, depois que alguém aí acertar um passe de 40 metros. Lembre-se: “O presidente escolhe seus ministros e eu convoco a seleção”.
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Agro não é pop?
Rui, vi esse vídeo há alguns dias e acho que seria um assunto interessante pra ser discutido porque trata de tantos temas fundamentais e negligenciados pela pauta de prioridades da MáMídia: a importância da água e o avanço capitalista que a reduz a simples mas lucrativa commoditie, a destruição ambiental praticada por gente burra que envenena a galinha dos ovos de ouro, a resistência popular consciente, autônoma e organizada – e reações na mesma moeda patrimonial do prejuízo sofrido, também -, a disputa entre agronegócio e agricultura familiar ou de pequenos e médios agricultores.
Trata-se de um levante popular do povo da cidade de Correntina no interior da Bahia em defesa dos poucos rios que restam na região. É isso mesmo, poucos que restam pois, se a reportagem da Globélica no GloboRural em 2000, antes de virar AgroGolpe, ops, AgroPop, estiver certa, nessa região já morreram uns 10 rios, e numa previsão tristemente acertada de um professor universitário da região, o rio Arrojado, um desses poucos sobreviventes, estaria morto até 2020 se nada fosse feito pra reverter o quadro. Parece que a comunidade da região há muito tempo protesta em defesa dos rios e do ambiente natural da região, alvo da invasão forasteira em busca de enriquecimento fácil com a exploração agrícola. E nós no “Sul maravilha” reclamando de apatia popular precisamos estar atentos para situações que desmentem a passividade do “povo marcado, povo feliz”.
Créditos: Soube da história pelo Facebook do deputado federal Jean Wyllys, em que há link para a reportagem no blogue Outras Palavras. O vídeo sobre o tema no extinto e saudoso GloboRural foi encontrado no YouTube no feed automático.
Levante em 2017
[video:https://youtu.be/iFTosuHoiw0%5D
Reportagem de 2000
[video:https://m.youtube.com/watch?v=Db0-YFkD_c4%5D
Na Globélica, cujo maior problema não é, a meu ver, sua corrupção financeira e empresarial mas a corrupção ética no exercício de sua concessão pública de comunicação, o evento foi noticiado como a invasão bárbara de uma fazenda. Se a realidade é construída, e distorcida, a partir do ponto de vista adotado, interessante saber porque um programa jornalístico escolhe deliberadamente criminalizar a revolta popular e fazer uma defesa pública da empresa de agronegócio, ignorando a situação gritada pelo povo, escancarada pelo “advogado das comunidades” (assim identificado na reportagem) e registrada em seu próprio banco de dados/acervo. Agro é negócio! E o povo, como diria Justo Veríssimo, que se exploda.
(Não sou favorável a violência nem ao uso da depredação como método de combate, mas nesse caso a depredação foi mútua, e é o caso de saber quem é o pior agressor, quem começou primeiro, quem está defendendo um direito mais legítimo, quem agrediu como única defesa diante da negligência do Estado e do poder avassalador do dinheiro.)
[video:https://m.youtube.com/watch?t=14s&v=yTjyfpkzfPg%5D
[video:https://m.youtube.com/watch?v=uAgcPtmoV9E%5D
[video:https://m.youtube.com/watch?v=Ewa0D3BNWoY%5D
SP, 26/11/2017 – 12:49
Editado?
Ficou faltando o link da reportagem sobre o fato no Jornal Oficial do Golpe (JOGO, disso a Globélica entende).
[video:https://m.youtube.com/watch?t=14s&v=yTjyfpkzfPg%5D
SP, 26/11/2017 – 14:32
Cristiane, material interessantíssimo,
já tinha ouvido da situação, pois há 4 anos estive em Correntina. Se já não tivesse enviado a coluna de amanhã para CartaCapital, entraria com esse assunto. Prometo para a próxima semana. Obrigado e abraços.
Algoritmo ghost
1 – “levante popular do povo” seria redundância se não houvesse “populares que se levantam pela elite” a quem servem (gente do povo nas manifestações da elite golpista e a massa de manobra dos funcionários daquela loja de roupas em defesa do dono escravagista comprovam que popular não é necessariamente “do povo”, e vice-versa.)
2 – segundo a reportagem de 2000, a informação correta é de “17 riachos” perdidos na região.
3 – há outros erros de redação que não serão corrigidos, para o que seria necessário reescrever o comentário; como a mensagem foi transmitida satisfatoriamente, acho, sacrifico a flor do Lácio, mais uma vez – desculpem os gramáticos e redatores de plantão.
4 – Como o vídeo da reportagem do JN se recusa a comparecer, vou incluir como vídeo, pela terceira vez, e como endereço na internet. Se não aparecer, de novo, é porque há algo de podre no reino da Tubelândia ou estamos sendo hackeados…
Link
https://m.youtube.com/watch?t=14s&v=yTjyfpkzfPg
Vídeo
[video:https://m.youtube.com/watch?t=14s&v=yTjyfpkzfPg%5D
SP, 26/11/2017 – 16:21