A Réplica de Vladimir Safatle na Revista Piauí, por Jorge Alberto Benitz

Depois de lê-lo fiquei decepcionado, porque me parece que ele apenas reiterou suas opiniões, não acrescentando nada de novo

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A Réplica de Vladimir Safatle na Revista Piauí

por Jorge Alberto Benitz

Antes de ler a réplica, na revista Piauí 2010,  do Vladimir Safatle à crítica feita na mesma revista, edição 209, de fevereiro de 2024,  a seu veredicto de que a esquerda morreu, por Cesar Zucco, David Samuels e Fernando Mello no artigo intitulado “O Ressentimento é Real”, pensei que receberia uma aula que me faria rever a opinião que tenho acerca do assunto – Não estou sendo irônico. A despeito de crítica- lo pontualmente o admiro. Tenho vários livros dele e tive a oportunidade de acessar uma aula sobre Hegel. Nela, ele revela uma didática impressionante, capaz até de fazer um leigo, como eu, compreender e apreender o pensamento ou, pelo menos,  as  linhas gerais de  um autor tido por todo mundo como muito difícil. Retomando,  depois de lê-lo, fiquei decepcionado porque me parece, que ele apenas reiterou suas opiniões não acrescentando nada de novo, com a exceção da citação do conservador Ludwig Von Mises que denuncia a existência de ressentimento também na esquerda; o que, no meu entender, não altera em nada no que diz respeito a força do ressentimento do voto dado a extrema direita no Brasil. Ele levanta esta suspeita somente para anular a importância do uso do conceito de ressentimento na política pois, logo adiante declara que não acredita na tese citada do ressentimento da esquerda e, por suposto, também na extrema direita.

Na sequência, entende como paliativo as políticas públicas dos governos do PT. Importante destacar que neste ponto ele abandona o termo esquerda e parte para a denominação do seu alvo real, o PT, concluindo que quem pagou a conta delas, amparado em um estudo de Thomas Piketty, foi a classe média que se tornou mais precarizada. Ele, tem o cuidado, para demonstrar o grau de precarização, de dizer que o termo classe média no Brasil é muito abrangente, incluindo os trabalhadores pobres. Além disso, denuncia que os 10% mais ricos saíram ilesos desta política. Até aqui, tudo bem se se pensar em crítica vinda de alguém do campo progressista democrático e de esquerda. O que não está bem é o voluntarismo contido na sua interpretação dos fatos. A julgar sua opinião o governo só não implementa medidas mais fortes para combater a desigualdade social, econômica e política porque não quer. Bastaria uma canetada e tudo se resolveria.

No mais é correta sua conclusão acerca da incapacidade –  que prefiro chamar de dificuldade – dos governos para conter o crescimento da extrema direita aqui e no mundo com as receitas utilizadas até o momento pelos governos progressistas. Só que no fim, acrescenta que uma política de fato eficaz para combater a desigualdade impediria a adesão de metade do eleitorado brasileiro na extrema direita. Esquece, ou, malandramente faz de conta que não viu, a lambança criada pela classe média e alta, com a concessão de, segundo ele, “pequenos” avanços como a política de cotas, o pobre frequentando universidades, shopping e viajando de aviões e a inclusão da empregada doméstica na CLT. Esquece, também, o fascínio da classe média e mesmo da classe pobre por falsos justiceiros tipo Sérgio Moro, Deltan Dallagnol e, claro,  Bolsonaro, que surfaram e ainda surfam no discurso neoliberal, anticorrupção,  anti Estado, antipolítica e antipolíticos.

Jorge Alberto Benitz é engenheiro e escritor.

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Redação

3 Comentários

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  1. A esquerda que se acha autêntica precisa estudar a influência do próprio modo de agir no crescimento da direita entre os desprivilegiados. O povo nasce num mundo capitalista, tem que desenvolver habilidades para se virar neste mundo, precisa acreditar que pode vencer. O discurso de esquerda que só apresenta as mazelas do sistema, sem mostrar uma estratégia de superação que contemple todos, acaba por convencer o povão de que a esquerda é um risco. Os intelectuais se equiparam aos “burros” ao criticarem um governo que luta contra a desigualdade, única ação de esquerda exequível, por não conseguirem emplacar suas teses nas eleições. Parecem mais preocupados em dar aulas do que em contribuir com a superação das mazelas do capitalismo.

    1. A esquerda que acredita que a única ação exequível é superar as mazelas capitalistas já nasce morta.

      O trabalho da esquerda é superar(politicamente)o modelo econômico que dá causa a estas mazelas…

      Na história da ação política não existe “ação exequível”… exequível é aquilo que sobrou do não fazer o que era necessário, justamente por ter partido da premissa que a superação do capitalismo é inexequível….

      Que governo é esse que acha que é exequível dar esmolas aos pobres enquanto se acovarda de cobrar dos ricos os tributos sobre suas riquezas obscenas?

      A curva de desigualdade desde 2003 até hoje foi alterada quase que na razão de milímetros….

      E Safatle tem toda razão, observando o congelamento da tabela do IRPF, nesses últimos 08 anos, eu acho, foi, de fato, a classe pobre alta (média?) que bancou os programas sociais, enquanto os mega ricos gargalham satisfeitos e intactos, enquanto insuflam os bobocas (classe média ?)a apoiarem golpes e darem apoio a causas das elites.

  2. A esquerda que se dispõe a considerar que há campo político para reformar o capitalismo, na esperança de que um gradualismo “democrático “(ler Ellen Meiskins Wood em Capitalismo contra Democracia) possa superar a causa de toda desigualdade (o capitalismo) não é esquerda.

    Esquerda é anticapitalista, ponto final.

    E ser anticapitalista é entender que a luta política não é (apenas) s mitigação dos efeitos gerados pelo estamento capitalista, mas trabalhar pelo FIM(superação) desse modelo.

    E sim, governos tipo o de Lula não têm condições de cumprir essa tarefa.

    Essa tarefa é partidária.

    Porém, também cabe aos governos chamados reformistas a missão de apontar os debates necessários para o tensionamento político….

    E isso, Safatle quase acerta.

    A esquerda no Brasil não morreu, ela nunca existiu …

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