O curta-metragem A Fábrica, de Aly Muritiba

Do Portal do Sertão

Entrevista com Aly Muritiba, diretor do curta- metragem A FÁBRICA

Em meados deste ano, estando em Curitiba em visita à minha filha Maíra Mendes, fui apresentado ao filme “A Fábrica”, curta metragem produzido em 2011 que tem amealhado premios em todas as mostras competitivas das quais participa , tanto no Brasil como no exterior. A obra, escrita e dirigida pelo cineasta baiano  radicado no Paraná, Alysson Muritiba, acaba de ser pré-indicada para o Oscar (figura numa lista de 11 filmes dos quais apenas 5 serão escolhidos). Entrevistei, por e-mail, o jovem diretor e adorei o resultado da entrevista. Veja porque.

Portal do Sertão– Fale alguma coisa à guisa de apresentação aos leitores do Portal. Qual a sua idade? Há quanto tempo faz cinema?

Aly Muritiba – Tenho 33 anos, sou baiano, mas vivo em Curitiba há sete anos. Sou formado em História pela USP e lecionei durante um tempo. O cinema é recente em minha vida. Comecei a estudar cinema na universidade pra ocupar meu tempo ocioso enquanto estava desempregado. Fiz vestibular, passei e fui estudar, mais por ser gratuito o curso, do que por vontade de fazer cinema. Só lá na faculdade, nos idos de 2006 é que resolvi me dedicar ao metier.

Portal do Sertão– Quando surgiu a ideia do filme? Quanto tempo levaram as filmagens?

Aly Muritiba – A ideia surgiu na cadeira da faculdade, numa matéria optativa de roteiro. Me propus a escrever um roteiro simples, silencioso e direto, e então saiu A FÁBRICA. Nós despendemos apenas 3 dias nas filmagens. O tempo maior foi o da pré produção. Só de ensaio foram 2 meses.

Portal do Sertão– Você imaginava que o filme faria o sucesso que vem fazendo?

Aly Muritiba – Não. Eu sentia estar fazendo um filme tocante, importante até, mas dai a imaginar prêmios em todos os continentes…

Portal do Sertão – Em termos financeiros – curto e grosso – você está ganhando dinheiro com ele?

Aly Muritiba – Sim, algum. O filme foi vendido na Europa pra alguns canais de TV, na França, Portugal, Espanha, Suécia, Itália. E no Brasil ele foi adquirido pela TV Brasil. E tem também os prêmios em dinheiro ganhos em festivais.

Portal do Sertão – “A Fábrica”, que tive o privilégio de assistir, meses atrás, na casa de minha filha Maíra Mendes aí em Curitiba me encantou pelos cânones morais e cinematográficos que ela subverte, pois foge, às léguas, de qualquer discurso moralista ou moralizante, assume e explora um ritmo extremamente lento e tem um conteúdo absolutamente não discursivo. Chega a um “happy end” que passa uma mensagem de profundo humanismo sem, no entanto, perder estas marcantes características. Quando você criou o roteiro, já tinha em mente o resultado?

Aly Muritiba – Sim. Nada ali é gratuito. Eu sempre tive em mente que faria um filme cujo ritmo fosso próximo ao ritmo da vida. Também me tocava fazer um filme com linguagem simples, capaz de ser entendido em qualquer lugar a despeito do idioma. Quanto à temática, a mim não faria sentido fazer mais um filme sobre cadeias ou sobre os extratos sociais menos favorecidos com aquele discurso pequeno burguês de salvação ou “coitadismo”.

Portal do Sertão– Considero ser a despretensão a marca registrada da película. A limitação dos meios, ao invés de contingência, parece pertencer à essência do filme. Em outras palavras, se você tivesse melhores condições isso não faria de “A Fábrica” um filme melhor do que este. Concorda?

Aly Muritiba -A crueza do filme, que o torna muito próximo ao documentário de observação, em nada tem a ver com meios financeiros. São escolhas. Se tivéssemos mais grana eu apenas pagaria melhor às pessoas. O filme seria exatamente o mesmo.

Portal do Sertão – Para além da torcida, pela mensagem que transmite – um certo “maquiavelismo do bem” – que a torna universal, penso que “A Fábrica” é um forte concorrente ao Oscar de melhor curta-metragem. Qual a sua avaliação? Tomou conhecimento de algum dos filmes concorrentes?

Aly Muritiba – Joca, nós somos azarões nesta corrida. Somos um filme brasileiro, de baixo orçamento, nenhum ator famoso…dentre os concorrentes tem até vencedor de Oscar de melhor longa metragem…então, o que vier já é lucro.

 

SInopse

Uma senhora de provecta idade – que pode tanto ser avó como mãe do protagonsta – acondiciona, cuidadosamente, uma aparelho celular dentro de uma camisinha e escondendo-o na própria vagina.

É dia de visita e a velha dirige-se ao presídio. Revistada, consegue passar sem que a tramóia seja descoberta. Já no pátio, nada se falam o preso e a visita.  Aliás, até esta altura, salvo engano, trata-se de um filme mudo.( pelo menos, se existem, as falas são totalmente irrelevantes) Passados alguns minutos a velha, alegando necessidade, pede para ir ao banheiro onde esconde o celular. Dali a pouco é a vez do preso pedir a mesma coisa.

Já no banheiro ele se apossa do celular e liga… atende uma voz infantil, ouvem-se vozes e risadas de um ambiente festivo

– Parabéns, filinha! Está se divertindo na festa?

– Oi papai – responde a menina, com uma voz doce e alegre– tá muito legal. Porque você não veio?

– Papai não pode agora, minha filha, estou na fábrica trabalhando. Divirta-se bastante. Só liguei para te dar um beijo de parabéns. Tenho que voltar ao trabalho!

Ele desliga o celular, joga-o na privada e puxa o ferro.

Elenco

 Andrew Knoll

 Arnaldo Silveira

 Eloina Ferreira Duvoisin

 Louise Forghieri

 Ludmila Nascarela

 Marcel Szymanski

  Moa Leal

  Otavio Linhares

 

Entrevista com Aly Muritiba, diretor do curta-metragem  "A Fábrica"
Entrevista com Aly Muritiba, diretor do curta-metragem  "A Fábrica"
Entrevista com Aly Muritiba, diretor do curta-metragem  "A Fábrica"
Entrevista com Aly Muritiba, diretor do curta-metragem  "A Fábrica"
Luis Nassif

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador