Sobre a Tese da Superindústria do Imaginário de Eugênio Bucci, por Jorge Alberto Benitz

Somos explorados trabalhando de grátis para os gigantes da internet. Além de oferecermos conteúdo eles coletam nossos dados e os revendem para seus clientes.

Sobre a Tese da Superindústria do Imaginário de Eugênio Bucci

por Jorge Alberto Benitz

Eugênio Bucci está levantando uma questão interessante em seu livro “A Superindústria do Imaginário” (Autêntica) vide link. Mesmo sem ainda tê-lo lido e baseado somente em artigos e entrevistas sobre o livro senti-me instigado a comentar, dar alguns pitacos, acerca da tese por ele tão bem levantada. Claro, esta é uma reflexão preliminar com todas as implicações e limitações que isso representa. O que não significa que não seja pertinente e possa ser válida.

Somos explorados trabalhando de grátis para os gigantes da internet. Além de oferecermos conteúdo eles coletam nossos dados e os revendem para seus clientes. Em troca, eles divulgam nossas produções de texto, imagem ou comentário aos demais explorados, digo, aos demais participantes.  No entendimento deles, que chegaram a esta brilhante conclusão de modo unilateral, nunca perguntando se concordamos ou não com este modelo de negócio, este tipo de preocupação nossa é supérfluo já que eles criaram o sistema com o esforço e dedicação dos seus, de sua massa crítica. Se depois se fez necessário e fundamental nos agregar ao modelo de negócio deles, isso se fez sem coação, pois, foi uma adesão de modo livre e espontâneo.  Se disso resultou em um lucro gigantesco para só uma das partes, também, não importa muito.

Alguns dirão “Não tem diferença entre publicar gratuitamente em um jornal, digital ou não, e no google, facebook ou qualquer outra mídia social”. A diferença é que o jornal ou qualquer outro meio de comunicação que não os gigantes da internet publicam por achar relevante sua opinião mesmo que eventualmente possam discordar dela e os últimos somente estão interessados em sua publicação porque ela os permite coletar seus dados para vende-los a seus clientes. “Mas os jornais também lucram com anunciantes e assinantes”, dirão aqueles mesmos “alguns” do início. A diferença é que no jornalismo tradicional faz- se imperativo produtores de textos e imagens, repórter, redação, e toda uma estrutura administrativa e gerencial que é terceirizada ou quarteirizada  com custo zero no caso dos gigantes da internet.  

Nossa primeira impressão – e aqui reside o “pulo do gato” deles – é que mais ganhamos do que perdemos neste negócio. Eles, que somos nós, nos trazem o mundo e em troca somente querem nosso olhar que quando interessado segue ou curte e quando não muito interessado somente basta passar os olhos para contabilizarem como visto e faturarem com isso. E assim fica, de certo modo, invisível o nosso valor trabalho e tudo que postamos se transforma integralmente como mágica em mais valia para eles, gigantes da internet. Somos ouro puro para eles.

Bem vindo ao capitalismo 4.0 que resulta em um agigantamento de alguns poucos, com mais capital próprio que muitos países, que entediados, resolvem demonstrar o quanto são distintos viajando para o espaço em naves espaciais caríssimas, lazer restrito a um grupo ínfimo de bilionários agregando alguns poucos convidados que parecem utilizados menos como desejo de compartilhamento da aventura e mais para disfarçar as abissais diferenças entre eles e os demais. O resto da tigrada, que somos nós, resta continuar o trabalho de Sísifo nas suas mídias.

Este artigo não expressa necessariamente a opinião do Jornal GGN

Redação

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