Preso sob pressão de ruralistas, padre Amaro é solto pela Justiça

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Jornal GGN – Após 90 dias preso, o padre José Amaro Lopes poderá responder em liberdade à acusação de organização crimonosa. Braço direito da missionária Dorothy Stang e uma das principais lideranças da Comissão pastoal da Terra no Pará, o padre havia sido preso pela Polícia Civil e Militar em março deste ano.
 
As policias o acisavam de crimes de extorsão, ameaça, esbulho possessório e assédio sexual, sendo levado a um presídio na região do Xingu, em Altamira. Para a Coordenação Nacional da Comissão Pastoral da Terra, a Prelazia do Xingu e a Sociedade Paraense de Direitos Humanos a medida foi uma tentativa de ameaça às atuações do padre.
 
Em nota, as entidades afirmaram que “se alegram com esta decisão, pois esperam que com ela comece a ser restabelecida a justiça em relação a um sacerdote e grande lutador em defesa dos direitos dos mais fracos – por primeiro o direito à terra da qual viver – espezinhados pelos que se arvoram em poderosos donos da terra e das decisões políticas”.
 
“Na tentativa de conter a resistência camponesa nos PDS, os ruralistas da região orquestraram denúncias contra o padre Amaro baseadas em argumentos frágeis, mas que foram acolhidas, com celeridade inédita, tanto pela autoridade policial de Anapu, quanto pela Justiça local, também reafirmada pelo Tribunal de Justiça do Estado, que tem se mostrado conservador e influenciado pelas forças do latifúndio”, informaram.
 
As entidades afirmam, contudo, que o Padre Amaro e as colegas de Dorothy irão continuar “seu trabalho na implantação dos Projetos de Desenvolvimento Sustentável – PDS, apoiados pelo INCRA, pelos quais famílias camponesas cultivam e preservam a floresta em terras comprovadamente públicas”.
 
“A estes projetos se opõem madeireiros, fazendeiros e grileiros de terra, ávidos de aumentar seus ‘negócios’ na região. Em consequência, os conflitos e a violência agrária continuaram de tal forma que de 2015 até os dias de hoje já se contam 13 trabalhadores assassinados em Anapu, de acordo com os dados do Centro de Documentação da CPT Dom Tomás Balduino”, ressaltaram.
 
Na nota, as organizações manifestaram também preocupação com “a continuidade do clima de violência e insegurança na região” e esperam que “verdadeira Justiça seja totalmente estabelecida e que o padre Amaro e aqueles e aquelas que com ele compartilham da luta em defesa dos empobrecidos, privados da terra e das mínimas condições dignas de vida, possam continuar seu trabalho em paz, como cidadãos e cidadãs, filhos e filhas de Deus”.
 
 
 
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

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