Peço licença aos leitores que reclamam da complexidade dessa discussão sobre comparação de rentabilidade de sistemas bancários de diversos países (para quem não acompanhou, ler os post sobre “spreads” bancários).
O leitor José Maia tem razão em apontar a confusão que cometi entre rentabilidade e eficiência. É o que dá escrever respostas correndo em salas de espera de aeroporto. Mas não compromete o ponto central do meu raciocínio:
1. Está se discutindo se os “spreads” dos bancos brasileiros são razoáveis ou excessivos. A discussão tomou por base reportagem do “Estadão” mostrando que a rentabilidade dos bancos brasileiros é a mais alta entre todas as economias. Em artigo no “Valor”, Gustavo Loyolla rebateu, argumentando que, se for levar em conta o “custo de oportunidade” de cada país (a taxa básica de juros da economia), a rentabilidade dos bancos brasileiros seria menor que a dos americanos. Ora, coloque um denominado gigantesco e o resultado será menor. Se você utiliza para o sistema bancário brasileiro denominador que representa a maior taxa de juros básica do planeta, e para o americano a taxa do FED, obviamente o resultado ficará distorcido.
2. O leitor Anderson Titz sustenta que, ao comparar a rentabilidade com o custo de oportunidade, Loyolla visaria mostrar que os bancos brasileiros são menos eficientes do que seus congêneres americanos. Certamente sua intenção não foi essa. O trabalho publicado no “Estadão” salientava a menor eficiência e maior rentabilidade do sistema bancário brasileiro. Loyolla estava refutando o trabalho, procurando demonstrar que a rentabilidade não era elevada, se descontada pelo custo de oportunidade.
3. Onde vejo o erro de utilizar a taxa básica de juros como “custo de oportunidade” para os bancos. Os bancos têm lucros com sua tesouraria, com a parcela de recursos próprios aplicada. Mas a parcela maior é na intermediação e nos empréstimos, onde são repassadores de dinheiro. Nesse caso, a taxa básica é insumo, não apenas alternativa de investimento. Se ele está aplicando recursos de terceiros, o custo de oportunidade é o “spread” que obteria aplicando em renda fixa -não a rentabilidade total do investimento, já que o recurso é do cliente. Ao aplicar em crédito entra um fator risco, fartamente compensado no adicional de “spread” referente à inadimplência.
4. Teoricamente, quanto maior a taxa básica, menor a sua rentabilidade. Se com a mais alta taxa básica de juros do planeta, os bancos conseguem a mais alta taxa de rentabilidade do planeta, é evidente que, ao contrário do que Loyolla quis demonstrar, a rentabilidade do nosso sistema bancário é muito elevada, sim.
5. O José Maia, em sua última frase -“O mercado é finito. Desconte o custo e o risco de migrar, e muda tudo” – praticamente liquida com o conceito de “custo de oportunidade” aplicado para a atividade bancária. Como investidor, posso mudar de um ativo líquido para outro, pagando prêmios pequenos. Agora o Marcos pretende o quê? Que, caso a rentabilidade dos bancos fosse inferior ao custo de oportunidade, os Moreira Salles e Setúbal iriam vender seu banco e aplicar em renda fixa?
6. Suponha que a taxa básica salte para 45% ao ano (como ocorreu algumas vezes no plano Real). A obrigação dos bancos seria obter rentabilidade superior a isso. Obviamente só em um ambiente cartelizado seria possível.
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