As mudanças no Banco Central

Coluna Econômica

A sabatina no Senado do futuro presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, mostra mudanças sensíveis em relação ao estilo de Henrique Meirelles nos seus 8 anos de mandato – embora o próprio Tombini tenha sido peça relevante no período.

Primeiro, demonstrou preocupação com o câmbio apreciado. Até pouco tempo atrás o BC insistia que não tinha metas de câmbio – que seria apenas uma derivada da política monetária.

Depois, defendeu a utilização de outros mecanismos, além dos juros, para conter eventuais aquecimentos da economia.

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EumaÉ um avanço lógico, racional, mas que vai contra todo um sistema de interesses estratificado em torno de taxas de juros elevadas.

Os objetivos do BC são preservados: seu papel continua sendo o de guardião da moeda, trabalhando em cima de metas de inflação.

Mas há maneiras e maneiras de chegar à meta. Em todas elas a influência do BC é sobre o nível da demanda (das compras de empresas e indivíduos). Sempre que se julga que a demanda esteja aquecida, o BC atua para reduzir o ritmo de crescimento.

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Até agora, todo o peso da política monetária se dava em cima dos juros. A qualquer ameaça da inflação, aumentam-se os juros. Atinge-se o objetivo de moderar o crescimento e manter as metas.

Agora, o BC recorre a outros instrumentos adicionais, como o aumento do compulsório (a parcela dos depósitos que os bancos são obrigados a depositar no BC), redução dos prazos de financiamento, exigências de aumento no capital das instituições financeiras.

Todo esse conjunto de medidas têm o mesmo objetivo, de refrear a demanda.

A diferença é que os juros definem uma distribuição não equitativa de sacrifícios: os detentores de liquidez ganham (e muito) com juros elevados; o setor real da economia perde, pela soma dos juros mais apreciação do real (já que juros elevados atraem capital de fora); e o Tesouro paga a conta. Recursos são desviados da saúde, educação, de investimentos, para pagar o aumento dos juros.

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Quando se distribui melhor os objetivos por diversos instrumentos de política monetária, a alta dos juros pode ser amenizada. Parte do custo fiscal dos juros pode ser compensado pelo compulsório. O rentista ganha menos, o Tesouro economiza mais.

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É por aí que se entende a grita de alguns porta-vozes do mercado financeiro, contra o uso do compulsório e dos limites de prazo.

Os últimos dados do IPCA mostram uma elevação generalizada de preços, especialmente de alimentos e despesas pessoais. Mas a série de medidas anunciadas nas últimas semanas – aumento do compulsório, redução de prazos de financiamento, redução nas projeções orçamentárias – indicam a ênfase do governo em tirar essa responsabilidade única da taxa de juros sobre a demanda.

Se tiver que aumentar, será sempre em dose menor do que se não se utilizassem outras ferramentas monetárias e fiscais.

A resistência vem de toda uma legião de profissionais, em departamentos econômicos, na mesa de operações, na Tesouraria dos bancos, que só ganham em cima de operações com juros. E essa rede enredou há tempos o Banco Central. 

Luis Nassif

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