É o momento da “Chicago Economics” descansar?

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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Para acadêmica, existem boas razões para que a teoria formulada por Milton Friedman (foto) influente nos últimos 50 anos esteja perto do fim

Milton Friedman. economista e um dos principais teóricos da “Chicago Economics”. Foto: The Friedman Foundation for Educational Choice – via Wikipedia

O mês de setembro marcou dois eventos importantes para quem estuda teoria econômica: o 50º aniversário do evento que levou ao avanço da “Escola de Economia de Chicago” (Chicago Economics) e o 15º aniversário do evento que precipitou a sua queda.

Em artigo publicado no site Project Syndicate, a acadêmica Antara Haldar, professora de Estudos Empíricos Legais na Universidade de Cambridge, lembra que os “Chicago Boys” embarcaram rumo ao Chile governado por Augusto Pinochet para um experimento calcado nas ideias de Milton Friedman e outros pensadores da Escola de Chicago.

Essa teoria dominou o debate econômico ao longo dos últimos 35 anos, e pode-se dizer que ela foi colocada em xeque em 2008, seja por conta da quebra do banco Lehman Brothers como pela crise financeira global vista em seguida.

“Para Friedman, nenhuma outra patologia econômica merecia mais preocupação que a inflação, que ele via como uma espécie de febre macroeconômica”, diz Antara, lembrando que o remédio usado para lidar com isso era “reduzir o fornecimento de dinheiro e deixando a economia suar a doença”.

Em comparação, a teoria pregada por John Maynard Keynes tinha como foco avaliar os fatores que afetavam o potencial de uma economia – usando a mesma comparação, seria como alimentar e hidratar o paciente em abundância (com o uso de recursos públicos).

A estagflação vista na década de 70 fez com que a teoria de Keynes fosse substituída pela ortodoxia de Friedman, adotada em grande escala pela maioria dos mercados – como os EUA governados por Ronald Reagan e o Reino Unido comandado por Margaret Thatcher.

Os efeitos pós-crise de 2008

Antara Haldar lembra que a política ortodoxa defendida por Friedman foi introduzida (ou imposta) de forma global pelo Consenso de Washington, com o uso de “terapia de choque” em regiões como o Sul Europeu após a crise de 2008 – e o rigor das regras afetou uma série de mercados e de economias.

Quinze anos depois, a articulista questiona se a ortodoxia econômica praticada pela Escola de Chicago “está gravemente ferida, ou se seus defensores só estão lambendo suas feridas e esperando um próximo momento (para se manifestar)”.

Vale lembrar que, com o avanço da politica populista, os desvios de uma racionalidade rigorosa adotada na análise econômica têm se formado frequentes – e a ortodoxia econômica dos últimos 50 anos não está em um de seus melhores momentos.

“Com um pé já na cova, os expoentes restantes da Escola de Chicago fariam muito bem de acertar as contas com seu passado chileno sangrento. Se as principais hipóteses do neoliberalismo não têm equivalência com os resultados do mundo real, os economistas têm o dever com eles mesmos – e acima de tudo com o público – de reconhecer sua verdadeira natureza”, ressalta Antara Haldar.

Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

2 Comentários

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  1. É um erro grave afirmar que os princípios da Escola de Chicago encontram-se em decadência. O grande problema é que a tentativa de aplicação desse receituário em economias que insistem no estatismo em excesso, sempre vai conduzir o processo de reformas ao insucesso. As políticas keynesianas deram um certo resultado na década de 30, em um espaço de tempo muito curto. Os EUA, ao perceberem que estavam incorrendo em grandes déficits públicos, trataram de voltar ao equilíbrio fiscal, logo por volta de 1937. Sem esse equilíbrio jamais formariam poupança interna para os gastos da segunda guerra, que veio logo depois.Do outro lado, ao permitir a liberdade dos mercados, conforme preconiza a escola de Chicago, deve entrar em cena a regulação dos mesmos. Mas, essa parte não interessa aos defensores do excesso de intervencionismo estatal, porque eles perderiam o poder político para a implantação de políticas populistas. Do outro lado, políticas regulatórias, envolvem criação de competências sobre o funcionamento dos mercados, algo difícil de ser praticado pelo pessoal da economia política. Afinal, cada mercado tem diversas complexidades e não funcionam de acordo com os interesses políticos, muitas distantes do tão almejado bem-estar social.

    1. Sempre a velha cantilena de que a política econômica não foi “liberal o suficiente” para justificar o fracasso das políticas ultraortodoxas. É como se um médico, ao ver os graves efeitos colaterais de um remédio no seu paciente, recomendasse que ele utilizasse uma dose maior do mesmo, achando isso que isso iria cessá-los.

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