Especulação e oligopólio estão por trás da escassez global de grãos

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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Lucro obtido por oligopólio que controla comércio de grãos e a especulação financeira causaram mais impacto do que guerra, diz acadêmica

Foto de Evi Radauscher na Unsplash

O sucessivo aumento de preços dos alimentos e os eventos climáticos tem gerado diversos alertas por conta de uma iminente escassez de grãos, e embora a invasão da Ucrânia pela Rússia tem sido citada como fator imediato pela crise, mas a questão é outra, como afirma a economista Jayati Ghosh em artigo publicado no site Project Syndicate.

Para se ter em vista: a guerra interrompeu as exportações realizadas por Rússia e Ucrânia, países que anteriormente representavam mais de um quarto das exportações globais de trigo – fazendo com que o índice global de preços subisse 23% no início dos confrontos, os preços começaram a cair em junho de 2022, retornando aos níveis antes da guerra já em dezembro.

Uma das justificativas foi o sucesso da Black Sea Grain Initiative (BSGI), um acordo apoiado pelas Nações Unidas que suspendeu o bloqueio russo às exportações de grãos da Ucrânia, mas a questão pode ser vista de outra forma quando se aplica o conceito do “Follow the Money”.

“O mercado global de grãos opera como um oligopólio, com as quatro maiores traders de grãos – Archer-Daniels-Midland, Bunge (que recentemente se fundiu com a Viterra), Cargill e Louis Dreyfus – controlando mais de 70% do mercado e a Glencore respondendo por outro 10%”, afirma a economista, que também integra a Comissão de Economia Transformacional do Clube de Roma.

Disparada dos lucros

No início da guerra, tais corporações viram seus lucros dispararem por conta de “aumentos de preços que não estavam alinhados com a demanda do mundo real e a dinâmica da oferta”, diz a articulista.

Os mercados futuros de grãos também viram suas atividades disparando nos primeiros meses do confronto – tanto que investidores aumentaram suas posições no mercado futuro de trigo de 23% em maio de 2018 para 72% em abril de 2022.

Os fundos de hedge embolsaram US$ 1,9 bilhão capitalizando o aumento dos preços gerado pela invasão russa e, ao invés de impedir ou conter tais manobras, Estados Unidos e União Europeia permitiram que essas manobras continuassem.

Jayati Ghosh ressalta que boa parte das exportações de grãos ucranianos não foi para os países mais pobres: 81% dos 32,9 milhões de toneladas métricas exportadas sob o BSGI atenderam principalmente países europeus, como Espanha, Itália e Holanda, além de China e Turquia. Já os países de baixa renda receberam 3% das exportações de grãos da Ucrânia e 9% de seu trigo (a maior parte para Bangladesh).

A economista diz que o BSGI parece ter sido criado para facilitar as exportações ucranianas, mas esse acordo busca atender “principalmente aos interesses dos gigantes do agronegócio que comercializam grãos ucranianos e seus financiadores”.

“Embora a fome global tenha aumentado nos últimos anos, não é por causa da escassez de grãos. Em vez disso, a queda das exportações, a diminuição das receitas cambiais, a fuga de capitais e o aumento dos custos do serviço da dívida diminuíram a capacidade de muitos países de importar alimentos”, ressalta a acadêmica.

Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

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