O dendê na produção de combustível

Por Rui Daher

Sobre projeto de óleo de palma, no Pará, da Petrobras. Um modelo de desenvolvimento agrário sustentado a ser reproduzido. TERRA MAGAZINE:

Do Terra Magazine

Dendê faz agricultor ajudar produção de combustível

Rui Daher
De São Paulo

Nem para as previstas fábricas de fertilizantes nitrogenados nem para o óleo na camada pré-sal, que estes a mídia retumba em páginas e telas diariamente. Da Petrobras, o que se tem para saudar no momento são as palmeiras Elaeis guineensis, de cujo fruto é extraído o óleo de palma. O dendê.

Dois gênios brasileiros conheciam a importância dos frutinhos: Dorival Caymmi (1914-2008), em 1942, ensinou: “Quem quiser vatapá, ô/ Que procure fazer/ Primeiro o fubá/ Depois o dendê/ Procure uma nêga baiana, ô/ Que saiba mexer”. O essencial. Só em seguida o manhoso baiano se lembra de receitar castanha de caju, pimenta malagueta, amendoim, camarão, coco, sal, gengibre e cebola.

Já o historiador potiguar Luís da Câmara Cascudo (1898-1986), nota em “História da Alimentação no Brasil” (Global Editora, 2004): “os pratos vindos da África foram reelaborados, recriados, com os elementos locais e o azeite-de-dendê (cor de ouro e gosto de manteiga fresca), que já no século XV era do agrado dos negros”.

Embora 80% da produção de óleo de palma se destinem a fins alimentícios – azeite, margarinas, sorvetes, bolachas -, o fato de a Petrobras entrar no negócio faz pensar que a culinária baiana está prestes a tomar conta do planeta. Não é o caso. Com ele também se fabrica sabão, sabonetes, cosméticos, velas, fármacos, lubrificantes. Ainda não é o caso.

Segundo óleo mais consumido, atrás apenas do de soja, seus maiores produtores mundiais (75%) são Malásia e Indonésia. O Brasil produz cerca de 200.000 t/ano nos estados do Pará, Bahia e Amapá.

Mas, afinal, o que a Petrobras, que um dia alguém quis fazer Petrobrax, quer com o produto?

Além de alta produtividade na fabricação de óleo, seu processo gera adubos orgânicos, tortas para nutrição animal, energia elétrica de resíduos vegetais. E biocombustíveis.

No início de maio, o governo federal lançou, em Tomé-Açu, Pará, o Programa de Produção Sustentável de Óleo de Palma, com crédito a juros subsidiados para o plantio e medidas para garantir preservação do ambiente. O projeto tem participação da portuguesa GALP Energia, tanto que ele será aplicado em Belém, Portugal, para a produção de 250.000 t de óleo de palma.

A intenção é atrair o interesse de pequenos produtores pela cultura e inserir na cadeia de biocombustíveis os mesmos agricultores familiares que, segundo recente estudo da FGV-CNA, assunto da coluna anterior, não deveriam mais receber incentivos. Pois bem, já foram cadastradas 3.338 famílias, em quatro municípios, todas com propriedades georeferenciadas.

A um custo estimado em R$ 330 milhões será implantada uma usina de biodiesel capaz de produzir 120 milhões de litros por ano, gerando sete mil empregos diretos – 5.250 no setor agrícola e 1.750 na área industrial e de logística. A BR fornecerá assistência técnica agrícola, acompanhará e orientará os produtores no cumprimento das leis ambientais e na manutenção da reserva legal.

Ainda este ano será adquirido 1,1 milhão de sementes selecionadas, resultantes de um processo de melhoramento genético para maior adaptação à Amazônia.

O plantio deverá ser feito em uma das regiões mais afetadas pelo desmatamento no Estado do Pará, beneficiando-a com recuperação e proteção de solo, equilíbrio ecológico e reintegração econômica de regiões de pouca atividade produtiva.

Se alguém não entendeu a ideia de arranjos locais produtivos, proposta na coluna de 04/05/10, como opção aos antigos modelos de reforma agrária, a oportunidade é agora.

Luis Nassif

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