Os dados estatísticos da China

Coluna Econômica

No início da década, o economista José Roberto Affonso – o “pai” da Lei de Responsabilidade Fiscal – visitou a Alemanha, para conhecer o modelo federativo do país e o sistema de informações públicos.

Voltou espantado com a falta de transparência. Distritos, estados maquiavam dados seja para fugir do controle da opinião pública, seja para tirarem sua lasquinhas das relações federativas.

Constatou que os dados públicos brasileiros eram muito mais completos e expostos do que da rígida Alemanha.

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AgorAgora, os papéis da WikiLeaks – o site que está expondo documentos secretos da diplomacia norte-americana – trouxeram a informação sobre a não confiabilidade dos indicadores de PIB (Produto Interno Bruto) da China.

Alguns anos atrás, havia desconfiança geral sobre a solidez desses indicadores. À medida que a economia chinesa se internacionalizou e entrou na alça de mira dos investimentos internacionais, esses dados foram jogados para segundo plano.

Agora os documentos do WikiLeaks revelam que em 2007 o Secretário do Partido Comunista teria admitido que boa parte dos indicadores econômicos do país não são confiáveis.

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Li Keqiang é estrela em ascensão na China. Seu papel atual é o de supervisor das estatísticas econômicas da China. Segundo o The Wall Street Journal foi sucessivamente secretário do Partido Comunista na província de Lianoning, no Nordeste do país; vice-primeiro-ministro e agora é o favorito para ocupar o cargo de primeiro-ministro, substituindo Wen Jiabao

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Nos telegramas divulgados pela WikiLeaks, os seguintes dados são apresentados como confiáveis, em relação à província de Liaoning.

1) consumo de eletricidade;

2) volume de carga nas ferrovias, já que as tarifas são cobradas por unidade de peso;

3) volume de empréstimos concedidos.

A partir desses dados, presumiam-se todos os demais, o que gerava distorções consideráveis. Por exemplo, quase todas as províncias divulgam dados de PIB provincial superiores à média nacional.

Isso ocorre porque províncias com maiores índices de crescimento são mais aquinhoadas na divisão do bolo fiscal e dos investimentos públicos.

No primeiro semestre de 2009, por exemplo, o PIB da China foi de 13.876 trilhões de yuans, segundo o Bureau Nacional de Estatística. Mas a soma do PIB divulgado por 31 províncias e prefeituras da China dava 15.376 trilhões – 10% a mais.

Mais do que isso, a China tem por hábito revisar os dados do PIB de um ano para ajustá-lo aos dados do ano anterior. No início de 2009, por exemplo, a China revisou seus dados do PIB de 2007 em 1,1 ponto percentual, para fazer esse ajuste.

Pesquisas do China Daily – jornal oficial, em inglês – concluiu que 91% dos entrevistados para uma pesquisa não acreditam nos dados oficiais.

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Mesmo com essa precariedade de números, previsões do Banco Mundial e da Goldman Sachs indicam que a economia chinesa poderá passar a norte-americana até 2025, mantidos os atuais níveis de crescimento.

Por esses cálculos, em 2006 a China teria passado a França, em 2006 o Reino Unido e em 2007 a Alemanha. 

Luis Nassif

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