Contra o golpe, estudantes paralisam 100 universidades em 18 estados

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
[email protected]

Cerca de 100 universidades em 18 Estados – mais de 70 cidades – do país participaram ontem (28) do Dia Nacional de Paralisação nas Universidades, convocado pela UNE contra o golpe na democracia em curso no país

Professores, alunos e educadores juntos, com mais de 20 mil, na Praça Tiradentes, em Curitiba

Da UNE

Os principais atos foram registrados em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Curitiba, Fortaleza e Belo Horizonte, cidades onde estudantes fecharam ruas, avenidas e promoveram debates sobre o processo que vai ser votado no Senado no mês que vem.

Em Curitiba, a UNE segue na luta hoje: é um dos movimentos sociais a integrar o protesto em favor dos professores da rede estadual paranaense, que lembram um ano do massacre que sofreram pela Polícia Militar do Estado no Centro Cívico, em 29 de abril do ano passado.

Na capital paulista, o ato dos estudantes de universidades como a UNIP e a UNINOVE fechou a Rua Vergueiro, na zona central da cidade, no início da noite. A via é um dos principais corredores universitários da cidade, por onde passam diariamente cerca de 100 mil estudantes. Os participantes gritaram palavras de ordem contra o golpe e estenderam faixas lembrando da ditadura militar.

Pela manhã, a aula pública do professor Reginaldo Nasser que acontecia no campus Memorial da UNINOVE, na Barra Funda, foi interrompida pela Polícia Militar.

“Foi um absurdo o que aconteceu, estávamos pacificamente em frente a universidade assistindo uma aula, e a PM sem mais nem menos chegou pedindo o RG do professor e dos estudantes. Essa é a PM que tem resquícios da ditadura militar sob o comando do governo do PSDB”, afirmou o diretor de Comunicação da UNE, Mateus Weber, que presenciou tudo.

RIO DE JANEIRO CONTRA A REDE GLOBO

No Rio, além das paralisações em universidades públicas e particulares, os estudantes migraram para a redação do jornal O Globo, no centro da cidade, para protestarem contra o apoio da organização ao golpe. Lideranças da UNE estiveram no encontro, que teve faixas lembrando do apoio do canal de televisão ao golpe militar de 1964 e bolas de tinta nas paredes do prédio, enquanto os estudantes gritavam: “O povo não é bobo. Abaixo a Rede Globo”. Em uma faixa, se podia ler: “A Rede Globo não fala por nós”.

UNB PARALISADA

Em Brasília, o ato – chamado de Assembleia Conjunta dos Cursos: Estudantes da UnB contra o golpe – teve a presença da presidenta da UNE, Carina Vitral, que chamou os estudantes a lutarem contra o golpe promovido por Cunha e Temer. Os estudantes passaram o dia reunidos em vários ambientes do campus realizando diversas atividades, como debates e oficinas de cartazes pela democracia. O corredor do Instituto Central de Ciências (ICC) da universidade, conhecido como Minhocão, foi trancado por algumas horas pelos manifestantes.

FORTALEZA E PERNAMBUCO TAMBÉM NA LUTA

Estudantes fecham a esquina da Avenida 13 de Maio com a Avenida da Universidade, em Recife - Foto: Allan Taissuke

Em Fortaleza, no Ceará, os estudantes da Universidade Federal do Ceará (UFC), da Universidade de Fortaleza (UNIFOR) e da Universidade Estadual do Ceará (UECE) promoveram uma aula pública com os estudantes, um cortejo que caminhou por diversas ruas e avenidas da cidade e o trancamento da Avenida 13 de Maio, uma das vias mais importantes da capital cearense.

Flor Ribeiro, representante da UNE em Recife, conta que universitários de diversas faculdades do Estado se juntaram para protestarem contra o golpe em curso no Brasil e pedirem um posicionamento do governo estadual, de Paulo Câmara (PSB).

“Tivemos atos em Caruaru, Vitória e em Recife com universitários de vários lugares. Fizemos um ato de rua, chamado Juventude contra o golpe, que andou pelas ruas da capital e foi até o palácio do governador cobrar uma postura contra o golpe. Reivindicamos que não haja retrocessos aos nossos direitos”.

ESTUDANTES PARALISAM 12 CIDADES NO PARANÁ

No Paraná, Estado que reuniu o maior número de cidades para protestar contra o golpe, doze no total, os estudantes compareceram em peso a todos os eventos marcados. Fecharam ruas em municípios como Cascavel, Foz do Iguaçu, Francisco Beltrão, Pato Branco e União da Vitória.

Em Curitiba, todos se encontraram no pátio da reitoria da Universidade Federal do Paraná (UFPR), no centro da capital, para uma aula pública e um cortejo pelas ruas.

OCUPAÇÕES NO SUL E EM MINAS

Em Erechim (RS), no interior do Estado, estudantes ocuparam o prédio da Universidade Federal Fronteira Sul (UFFS) em protesto contra o golpe. Eles colocaram correntes nas portas das salas e nos portões de entrada da faculdade.

A Universidade Federal de Viçosa (UFV), em Minas Gerais, também teve a reitoria ocupada pelos alunos em protesto ao processo de impeachment sem base legal.

A UNE ainda organizou atos em Manaus, no Amazonas; Belém, no Pará; Macapá, no Amapá; Rio Branco, no Acre; Natal, no Rio Grande do Norte; Teresina, no Piauí; em São Luiz, no Maranhão; em Florianópolis, Santa Catarina; Porto Alegre, no Rio Grande do Sul e em Cuiabá, no Mato Grosso.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

11 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Dessa crise política já se

    Dessa crise política já se faz sentir a união de jovens aguerridos, sentindo-se protagonistas de novas ideias, que darão, com certeza, continuidade aos seus ideiais, presentes em todas as suas manifestações, que independe de partidos e de políticos. Talvez desse conjunto nasça e prospere uma nova conduta política. Só essa gente nas ruas, organizada, poderá dar novos nortes ao desenvolvimento do Brasil. 

    Os políticos, em sua grande maioria, tem mostrado ao mundo que são resultado de um sistema falido, e isso foi visível naquele 17 de março, dia que poderia sair do nosso calendário, se possível, para dele esquecermos. Hoje, inclusive, vi parte das declarações de Dráuzio Varella se referindo aquela escandaloza votação dizendo que sentiu enorme vergonha de ser brasileiro. Eu também, e todos que tem um mínimo senso de ridídulo.

     

  2. Rede Globo

    Acho que ficar em frente a Globo não adianta, o que adiantaria seria sindicalistas, estudantes, intelectuais não sintonizarem mais a rede Globo e migrarem para a TV Brasil que promove debates quase todos os dias,Quando ela sentisse que estava perdendo audiência ia repensar seu modo de agir,

  3. Rede Globo

    Acho que ficar em frente da Globo gritando palavras de ordem não é a solução. Solução a meu ver, era não mais sintonizar a Globo, fazendo ela perder audiência e migrar para a TV Brasil que promove debates quase todos os dias.

  4. Que bom que isso

    Que bom que isso aconteça.

    Mas a grande massa da população do  país não sabe que isso está ocorrendo, pois não sai na grande mídia.

    Para muitos o país está normal, nem se dão conta do golpe em curso.

    Tenho minhas dúvidas se os ministro do STF saibam desses movimentos populares.

  5. em curitiba, 30 mil  pessoas,


    em curitiba, 30 mil  pessoas, segundo o blog  do esmael, marcharam

    pelas ruas da cidade até o centro cívico, onde ficam a assembleia

    legislativa e o palácio iguaçu..

    os professores paranaenses protestavam contra a viollencia do governo

    paranaense registrada no ano passado no dia 29  de abril, um massacre contra os mestres,

    quando  a pm desceu o cacete mas os parlamenares tiveram de sai de camburão

    da assembleia com  medo de serem  pressiomados pelos professores…

    às 19 horas, na ufpr, onde moro dá aula, o premio nobel afonso perez esquivel

    deu um memorável palersra, sala ampla lotadíssima…

    fez um ampla conrtextuaização das ditaduras latino-americanas, interesses estrangeiros,

    falou dos golpes de hondruas e paraguai, disse que eram os modelos do nosso golpe…

    foi ovacionadio diversas vezes quando disse que não iria ter golpe e fez uma

    ampla defesa do histórico de resistencia popular na região….

    ironizou  que teve um minuto no senado para dizer que o impeachment é golpe e saiu logo…

    foi um ato muito bonito….

    teve até a participação de um violeiro extraordimnário mineiro,

    pereira da viola, um show…

     

  6. Combater o fascismo nas ruas

    É preciso usar a internet, mas o mais importante é sair pra rua !!!

    Os democratas estão em luta contra os fascistas e contra os criminosos.

    É preciso união, pois a ruptura é necessária para limpar o Brasil

  7. bom mesmo…

    melhor ainda se todos escolherem um dia para juntar todas as manifestações de protesto contra o golpe

    e numa boa ou pacificamente

    se o Brasil não parar de uma só vez e de ponta a ponta, dos grandes centros até os rincões, em busca de ou cobrando outra solução, o golpe vai afetar todos os brasileiros da pior forma possível, lentamente e enriquecendo cada vez mais os golpistas

    o que temos é golpe de mercado

    é golpe para livrar e esconder outros bandidos, cujas investigações correm em segredo de justiça, justamente para que o povo não se revolte mais

    se não acontecer agora, paralisação total,  nunca mais será possível

    manifestem-se separadamente e depois combinem um dia de união nacional

  8. Isso se chama estado de

    Isso se chama estado de exceção. Vocês não vão acordar de que o golpe ja foi dado e agora é hora do conflito, desobediencia civil  e revolução de verdade, na vida real…entendem?

  9. Isso se chama estado de

    Isso se chama estado de exceção. Vocês não vão acordar de que o golpe ja foi dado e agora é hora do conflito, desobediencia civil  e revolução de verdade, na vida real…entendem?

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador