Lula agradece a luta e confirma compromisso com Direitos Humanos

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Lula sai nos braços do povo: “voltarei ainda mais forte” (Ricardo Stuckert)

Jornal GGN – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva enviou carta para ser lida no ato realizado contra sua prisão política no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Lula completa oito meses de prisão, em Curitiba, após processo e condenação controversos. A resistência democrática contra sua prisão ganha novo fôlego neste final de ano.

Na carta, Lula confirma seu compromisso com Direitos Humanos em ato que ocorre nos setenta anos da promulgação da Carta de direitos. Diz que é um dia de recordar nossos heróis, aqueles que se sacrificaram por direitos civis. Celebra que, no Brasil, foi possível colocar vários dos muitos preceitos da carta em prática.

Lamenta a morte dos companheiros do MST, assassinados na Paraíba e pede a todos que os homenageiem, vítimas que foram dos discursos de ódio propalados nos últimos meses no país.

Agradece a todos os que se colocam a seu lado e diz, que não quer favores, quer simplesmente justiça. ‘Não troco minha dignidade pela minha libertação’, diz ele.

E finaliza com a despedida: ‘Até o dia do nosso reencontro, um abraço do companheiro Lula’.

Leia a carta a seguir.

Meus amigos e minhas amigas,

Esta é uma data muito especial para a humanidade. Há 70 anos, consagramos na ONU uma carta de direitos inspirada na solidariedade, no respeito ao semelhante, no reconhecimento às diferenças, no primado do direito e da liberdade, na busca da paz e do entendimento entre homens e mulheres e nações. Hoje é dia de celebrar o quanto avançamos, desde então, para implementar esses direitos.

É dia de recordar os heróis dessa luta em todos as frentes: Martin Luther King, sacrificado pela defesa dos direitos civis; Nelson Mandela, que viveu 27 anos encarcerado pelo regime do apartheid; Mahatma Gandhi, que ainda antes da carta dos Direitos Humanos fez da não- violência a mais forte resistência ao regime colonial, e tantos outros que lutam no cotidiano por um mundo melhor.

Aqui no Brasil, tivemos a oportunidade de colocar em prática muitos dos preceitos da carta, como a liberdade de organização e de expressão, o fim da censura, o reconhecimento dos direitos das mulheres, das pessoas LGBT. Começamos a resgatar a dívida secular com os negros e os indígenas. E condenamos firmemente a tortura.

É muito triste, para mim, saber que nesta data temos de homenagear dois novos mártires da luta pelos direitos: os companheiros José Bernardo da Silva (Orlando) e Rodrigo Celestino, do MST, assassinados neste fim de semana no acampamento Dom José Maria Pires, na Paraíba.

Peço a todos que prestem uma homenagem a esses heróis do povo brasileiro e da luta pelos direitos humanos. Eles foram vítimas do mesmo discurso de ódio e violência que atingiu Marielle e Anderson, mestre Moa do Katendê e o jovem Charlione Albuquerque, entre tantos outros que foram e são perseguidos e ameaçados.

Estes heróis vão continuar vivendo em nossa luta. Em nome deles vamos defender as conquistas do nosso povo, pelo direito à vida em sua plenitude, contra a intolerância, o preconceito e o arbítrio.

Oito meses atrás eu estava aí no Sindicato dos Metalúrgicos, cercado pelo carinho e solidariedade de milhares de companheiros e companheiras que não se conformavam com minha prisão arbitrária e injusta. Quero dizer que continuo com vocês e todos os dias penso no futuro do nosso povo.

O Brasil e o mundo sabem que os procuradores da Lava Jato, o Sergio Moro e o TRF-4 armaram uma farsa judicial para impedir que eu fosse eleito presidente mais uma vez, como era a vontade da maioria dos eleitores. Fui condenado por “atos de ofício indeterminados”, ou seja: por nada. Não apresentaram uma prova contra mim e desprezaram todas as provas de minha inocência.

Hoje tenho certeza de que tenho o sono mais leve e a consciência mais tranquila do que aqueles que me condenaram. Não quero favores; quero simplesmente justiça. Não troco minha dignidade pela minha libertação.

Agradeço profundamente a solidariedade que recebo todos os dias, de pessoas do Brasil e de outros países. Agradeço aos companheiros da vigília Lula Livre, aos que mandam cartas ou me visitam em Curitiba, aos que fazem manifestações, redigem petições, atuam nas redes sociais exigindo o julgamento justo a que tenho direito.

Estou consciente de que, mesmo nas condições difíceis que estamos vivendo, não só no Brasil mas em muitos países, a luta pela efetivação dos Direitos Humanos vai seguir adiante. Ainda iremos construir um mundo de paz e fraternidade, onde todos e todas, sem exceção tenham direito a uma vida digna.

Até o dia do nosso reencontro, um abraço do companheiro

Luiz Inácio Lula da Silva

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

1 Comentário

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  1. Bravissimo
    “O Brasil e o mundo sabem que os procuradores da Lava Jato, o Sergio Moro e o TRF-4 armaram uma farsa judicial para impedir que eu fosse eleito presidente mais uma vez, como era a vontade da maioria dos eleitores. Fui condenado por “atos de ofício indeterminados”, ou seja: por nada. Não apresentaram uma prova contra mim e desprezaram todas as provas de minha inocência.”
    Ainda que tenha seus direitos ultrajado e violados, o grande exemplo que Lula nos deixa neste dia da Declaração Universal dos Direitos Humanos é o de lutar, lutar e lutar sempre, até que a coragem e a dignidade de sua luta elimine definitivamente a palavra rendição, do seu dicionário.
    Força Lula.
    Lula Livre, já.

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