da Ipiranga22
Inefáveis Mequetrefes desmascaram máscaras em “O Inspetor Geral”
por Shellah Avellar
“O Inspetor Geral”, peça do escritor russo Nikolai Gogol publicada em 1836, aborda a rotina de uma aldeia que receberá a visita do Inspetor Geral, que viaja incógnito, em missão secreta.
A visita anunciada do Inspetor, e o farsante que se passará por ele para “se dar bem”, desencadeiam um processo em que a corrupção, a fraude, o medo e a intriga são os ingredientes com que se formata uma das mais corrosivas e hilariantes comédias russas do período pré-revolucionário (antes de 1917).
Embora a trama retrate a realidade da Rússia no século 19, o texto permanece atual (no Brasil e no mundo), pois ironiza a fraudulenta política vigente e a passividade da população em relação aos fatos.
Portanto, qualquer coincidência não é mera semelhança.
O humor afiado de Gogol categoriza essa trama como um clássico da sátira universal cujo realismo flerta com o surrealismo.
Agora, o Grupo de Teatro Inefáveis Mequetrefes, egresso do Núcleo de Máscaras da Formação 19 da Escola Livre de Teatro de Santo André, abre, sob a batuta de Cuca Bolaffi, a temporada de apresentações de “O Inspetor Geral”, no próximo sábado (29 de junho), às 20h, no Ipiranga, em São Paulo.
O espetáculo faz parte da Minimostra de Máscaras do Centro de Pesquisa da Máscara, localizado na rua Bamborés, 518, próximo ao Metrô Alto do Ipiranga.
Máscaras para desmascarar
A arte é o lugar onde as obras do passado tornadas mitos dormem, na expectativa de que os artistas as despertem para uma nova existência.
Nessa nova montagem do clássico, pelo coletivo Inefáveis Metrequefes, o Inspetor e suas personagens cômicas vêm com máscaras próprias, para bem desmascarar a violência, a intolerância e a hipocrisia aqui mesmo do nosso Brasil.
A composição das máscaras foi etapa fundamental da criação teatral, coordenada por Edson Thiago e Caroline Oliveira, e incorporou traços de políticos e juízes atuais do Brasil, reforçando a atualidade do texto de Gogol. Com algum esforço e imaginação, não será difícil identificar certas figuras que nos assombram.
Apesar de as civilizações serem impenetráveis umas às outras, as máscaras permanecem como artefatos e ficamos inertes e cegos diante delas, até que nossos mitos as assumam como suas.
As máscaras são os símbolos sagrados do teatro e transitam entre as tragédias e as comédias através dos séculos.
O instigante foi perceber na peça o “realismo” de Gogol em casamento bem-sucedido com a Comédia Humana, através do resgate da meia-máscara, e com o Clown, em que se combinam o jogo da vida cotidiana e a irreverência com a provocação da análise de questões sociais.
Simulação e desafio
Esta exaltação de simular e desafiar – e de se expor sem a preocupação de utilizar itinerários seguros para proteger estes deslocamentos – faz dessa montagem magnífica uma exasperação com sinal positivo.
Assim, o elenco afinado de atores e atrizes “deita e rola” numa alegria exótica de desvãos e incertezas, que anunciam o perigo, mas estimulam a audácia todo o tempo.
Preparem-se para “desopilar o fígado”, autenticando esta fábula que atravessa os desertos cáusticos das eras e se reinventa como espetáculo imperdível dos Inefáveis Mequetrefes.
E finalizo com Gogol, que, sabiamente, dizia:
A única coisa que vale a pena é fixar o olhar com mais atenção no presente, o futuro chegará sozinho, inesperadamente. É tolo quem pensa no futuro antes de pensar no presente.
Ficha Técnica
Orientação Geral e Cênica: Cuca Bolaffi
Diretora, professora e coordenadora de artes cênicas da ELT (Escola Livre de Teatro de Santo André). Pesquisa máscara, palhaço e teatro físico há 30 anos. Formada pela Escola Internacional de Teatro Jacques Lecoq (França). Trabalhou com Tiche Vianna, Quito Paoli e Enrico Bonavera. Fundou a Cia do Feijão. Fez formação e vários espetáculos com Ivaldo Bertazzo.
Orientação de Jogo: Heraldo Firmino
Dramaturgismo: Carlin Franco, Cuca Bolaffi e Rodrigo César
Orientação de Confecção das Máscaras: Caroline Oliveira e Edson Thiago
Orientação Vocal e Musical: Ayiosha Avellar
Provocação Teórica e Análise Dramatúrgica: Alexandre Tenório
Elenco: Ayiosha Avellar, Bruno Galdino, Carlin Franco, Carlitos Tostes, Caroline Oliveira, Edson Thiago, Felipe Stucchi
Produção Executiva: Jeniffer Rossetti
Músicas: Bruno Galdino (“Klestakov Ivan Alexandrovitch”) e Heraldo Firmino (“Político da Vez”)
Concepção de Iluminação: Felipe Stucchi
Fotos e Filmagem: Diogo Silva e Tha Toledo
serviço
Peça “O Inspetor Geral”, de Nikolai Gogol; Com o Grupo de Teatro Inefáveis Mequetrefes
Quando: Sábado (29 de junho), 20h
Onde: Centro de Pesquisa da Máscara, rua Bamboré, 518, Ipiranga (próximo ao Metrô Alto do Ipiranga; veja o site aqui)
Quanto: R$ 30,00 (inteira) e R$ 15,00 (meia)
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