Wilson Ferreira
Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.
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O gnóstico Edgar Allan Poe: os vídeos

Vamos dar início a uma série de postagens com vídeos produzidos pelos meus alunos da Disciplina Estrutura de Roteiro da Escola de Comunicação na Universidade Anhembi Morumbi. Foi proposto para eles o seguinte desafio: fazer roteiros literários livremente adaptados de contos do escritor norte-americano Edgar Allan Poe. Porém, deveriam manter o núcleo do argumento, ou seja, as atmosferas góticas e reflexões metafísicas e gnósticas do autor. Esses são os primeiros vídeos resultantes desses roteiros.

Edgar Allan Poe (1809 – 1849) foi o primeiro escritor do continente americano a influenciar os rumos da literatura para além do seu país. Se Freud ao visitar os EUA e avistar a Estátua da Liberdade teria dito “não sabem que estamos lhes trazendo a peste”, um século antes Allan Poe já havia contaminado o mundo com o seu gótico “impulso pelo perverso” cuja psicanálise é um dos seus frutos.

Seus contos e poemas estão repletos de uma metafísica gnóstica: um dualismo radical que vê a alma como aprisionada na materialidade do mundo como uma prisão e a única forma de escapar é através de um supremo ato de autoconhecimento, a gnose. Daí o fascínio de Allan Poe por personalidades divididas, pela Queda, desamparo, saudades, latência, dormência, intoxicação.

Seus relatos sempre começam como relatos sóbrios e verídicos que logo mergulham em atmosferas de horror crescente até adquirir tons fantásticos e metafísicos. Allan Poe tinha o talento para descrever situações intoleráveis onde sua clareza analítica revelava o prazer mórbido do autor em se aprofundar nas origens dos impulsos da natureza humana e na sua condição de estrangeira ou de exilada em um mundo cujo Deus é o do Abismo.

Certa vez Allan Poe chamou essa sua fixação gótica como o “demônio da perversão”: 

“imagine-se na beira de um abismo. Você olha para baixo – fica cada vez mais perturbado e atordoado. Seu primeiro impulso é o de retroceder e fugir do perigo. Mas inexplicavelmente permanece. Quanto mais a razão violentamente o detém na beira do abismo, mais impetuosamente você aproxima-se dele. Não há na natureza paixão tão diabolicamente impaciente como essa, que mesmo estremecendo sobre a borda de um precipício, faz você pensar em pular”(“The Imp of the Perverse” in The Complete Stories and Poems of Edgar Allan Poe, NY: Doubleday, 1984, PP. 273-74).

 

Esse “verme que não morrerá”, como afirmava Allan Poe, que está dentro de cada um de nós é o que está presente em cada uma das narrativas visuais abaixo elaboradas pelos alunos da disciplina Estrutura de Roteiro da Escola de Comunicação da Universidade Anhembi Morumbi. O desafio proposto foi o de produzir roteiros adaptados de contos de Edgar Allan Poe. As adaptações poderiam ser livres, porém deveria manter “o demônio da perversão”, o núcleo do argumento do conto. Depois da produção do roteiro literário, os alunos foram além: produziram o vídeo onde eles próprios atuaram.

O resultado, claro, é amador, mas captura o fascínio pelas atmosferas góticas do escritor: um doloroso sentimento de perda, uma percepção de ruptura em todos os setores da vida. Uma desconfortável sensação do hiato que se instaurou entre homem/mundo, homem/natureza, etc. Ou seja, a impossibilidade de uma relação plena, perene e imediata que se impõe violentamente à subjetividade do protagonista.

Veja abaixo os primeiros vídeos:

“Um Louco à Meia Luz”
(adaptação do conto “O Coração Delator”)

Componentes do Grupo: Alexandre Massayuki Jr., Deyse Bueno, Douglas Henrique Silva, Juliana Schimdt, Lucas de Andrade e Silva Sabo, Renato Yoshio Iwata, Sérgio Franco, Thaís Martins de Oliveira.

“Coração Delator” é a estória de um homem que nega sua loucura e que está decidido a provar ao leitor de seu pensamento. Ele confessa o assassinato com tranquilidade, mas nos preocupamos é mesmo com os detalhes de seu plano perfeito. Aqui, uma adaptação “non sense” onde ódio e crime voltam-se contra um prosaico objeto.

 
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