Para não perder o fio da meada

A gente não pode esquecer

Que a arquitetura moderna brasileira

Foi nascer, de verdade, em pleno estado novo

Porque anos antes

Nosso amigo Lucio Costa tinha ido à Diamantina

Isso antes de Getúlio,

Ver o que o colonial representava de nosso

De nosso mesmo

E a escola de Belas Artes ficou com a idéia

De que a arquitetura moderna brasileira deveria ser o colonial

Era o barroco mineiro resgatado

E assim a coisa ia

Até que a questão da imagem dos edifícios

Virou política do Getúlio

Pois o Art Deco das Centrais do Brasil

E das ferrovias de Bauru

Não tinha nossa cara

Tinha ar de imitação americana e cruz credo

Até mesmo iconoclastia nazi fascista

E foi então que o ministro da educação e saúde

O Sr. Gustavo Capanema

Cujo chefe de gabinete era nada mais nada menos

Que Carlos Drummond de Andrade

Quis fazer uma nova sede pro ministério

E foi convencido pelo servidor público poeta

De que Lucio Costa era bom pra isso

Mas mesmo assim chamaram Le Corbusier

Que aqui veio ensinar mas ficou mais para aprender

E se assustou com as idéias de Niemeyer

Pois o cara tinha talento

E diz até a lenda

Que o próprio Niemeyer assume

Que o Lucio Costa mandou um boy resgatar papel

Que Niemeyer jogara pela janela e cujo croqui

Croqui inicial, preliminar, um rabisco

Tipo esses que ele faz e vira sede de museu ou clube

Continha a proposta fundamental da sede do MEC

E foi este prédio que inaugurou a sintaxe de nossa arquitetura moderna

Em 1936 isso

Uma síntese do barroco mineiro com o concreto armado e com as curvas suaves

E foi assim porque o barroco por si só soava ingênuo

E Vargas e o país que surgia detestavam ingenuidade

E, para bom entendedor das técnicas da época

Sabe-se que o formato barroco puro e simples não erguia grandes prédios

Era também uma questão de técnica

E o caso da arquitetura moderna brasileira

Que saltou aos olhos de Nikolaus Pevsner na sua última página

De os  Pioneiros do Desenho Moderno

Surgia numa mistura similar ao Renascimento

Onde política e arte estavam num mesmo barco,

Mesmo que uma não falasse e não prostituísse a outra

E esta geração de Lucio Costa e Gustavo Capanema,

Carlos Drummond e Niemeyer

Getulio Vargas e depois Juscelino

Criou uma imagem do Brasil

Uma iconoclastia, duvidosa muitas vezes

Mas simbólica, marcante e fundamental

Que inspirou Anísio Teixeira a repensar a educação

Que serviu de modelo para Brasília

E que fincou de uma vez por todas a noção de que o Brasil

Sim, o Brasil era sim um país complicado.

Admitir isso e fazer disso um discurso arquitetônico foi salto enorme

E transformou coisas tão distantes em elementos de um mesmo discurso

Desde Cataguases à Curitiba

Ao Rio de Janeiro claro e aos rincões das cidades do interior

Campo Grande, Cuiabá e Manaus

A arquitetura falava o português do Brasil

E à guiza de dar mais exemplo

É melhor usar logo o Chico Buarque

Que leu Carlos Drummond

Que morou em Cataguases

Que estudou arquitetura

E que em seu rol de músicas

Tem a perfeita ‘flor da idade’

E nela desenhou com poema de Drummond

Uma típica cena Cataguasense

Uma música paisagem arquitetônica…

 

“A gente faz hora, faz fila, na vila do meio-dia, pra ver Maria …”

Redação

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