Sobre Simone de Beauvoir e falácias na prova do Enem

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Por Hermes C. Fernandes

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1 – Sobre os supostos nazismo e pedofilia de Simone de Beauvoir

Embora qualquer pessoa que tenha lido seus livros e conheça minimamente fatos de sua vida saiba que ela não era nazista, algumas pessoas que tentam defender essa acusação dizem que ela trabalhou na Rádio Vichy, que era nazista ou fazia propaganda nazista. Bem, considerando-se que ela vivia na França ocupada pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial (Paris estava sob ocupação alemã), e que todos os meios de comunicação estavam sob censura alemã e veiculavam propaganda alemã, é o tipo de acusação, no mínimo, ingênua, para não dizer historicamente desinformada.

Qualquer texto sobre a ocupação nazista na França irá mostra a situação paradoxal e complicada em que o país se encontrava durante a guerra. (Recomendo a esse respeito, para uma percepção bastante interessante de como a ocupação afetava a vida cotidiana das pessoas, sua necessidade de trabalhar e sobreviver, o seriado francês “Um village français”).

Beauvoir trabalhava na rádio fazendo pesquisas para um programa de história (ela não era diretora da rádio e qualquer fonte que afirme isso é equivocada ou claramente mal-intencionada). O conhecimento adquirido nessas pesquisas, inclusive, foram posteriormente utilizados por ela para escrever “Todos os homens são mortais” (Tous les hommes sont mortels), um belo romance em que, entre outras coisas, ela critica a indiferença em relação a outros seres humanos) e “As bocas inúteis” (Les bouches inutiles), única peça de teatro da autora que, inclusive, é uma crítica aos regimes de exceção, totalitários e criminosos como o nazismo. Beauvoir também teve uma participação discreta na resistência francesa, e detalhes sobre isso podem ser encontrados em suas memórias, especialmente “A força das coisas”.

2 – Sobre a suposta pedofilia de Beauvoir

Simone de Beauvoir foi processada por “corrupção de menor” pelos pais de uma de suas alunas, Bianca Bienenfeld, então com 17 anos. O processo por “corrupção de menor” é um processo que se referia então, nos anos 1940, à maioridade civil e implica em exercer influência sobre a pessoa que ainda não atingiu sua maioridade civil. Essa influência pode, mas não necessariamente está ligada ao relacionamento sexual. Um relacionamento com uma jovem de 17 anos não constitui pedofilia, nem constituía na época, quando a maioridade civil na França era adquirida os 18 anos, e a maioridade sexual, aos 13 anos. A maioridade sexual é a idade em que se considera que as pessoas possuem maturidade para envolver-se sexualmente desde que o relacionamento seja consensual.

Além disso, é importante lembrar que a maioridade sexual implica também a possibilidade de realização de casamentos. Na França, a idade da maioridade penal era de 11 anos entre 1832 e 1863; de 13 anos entre 1963 e 1945 e de 15 anos até hoje, a partir de 1945.

Nos anos 1970, houve uma discussão muito intensa na França para que essa idade fosse reduzida para 13 anos, o que não aconteceu.

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Sempre que alguém se destaca na luta por direitos humanos, surgem os detratores tentando minar sua credibilidade. O que os move é o interesse que as coisas continuem exatamente como são. Foi assim com Luther King, acusado de ser um devasso, dado a orgias, com Gandhi, acusado de ser um pervertido, que embora casado, mantinha relações homossexuais, e tantos outros. Nem Madre Teresa de Calcutá foi poupada desta onda de ódio. Há quem diga que além de ter um gênio intragável, ela era literalmente endemoniada. Obviamente, nem um deste vultos históricos era perfeito. Se buscarmos em suas biografias, encontraremos falhas, como encontramos nos personagens bíblicos. Já reparou que as Escrituras não varrem para debaixo do tapete as tropeçadas de seus mais proeminentes personagens? Para nós, cristãos, o único perfeito foi Jesus Cristo. Porém, as falhas destes homens e mulheres que lutaram por um mundo melhor não podem ofuscar suas virtudes e o legado deixado para as próximas gerações. Por isso, prefiro estar entre os que realçam suas qualidades e não suas vicissitudes.

Agradeço ao meu amigo Gabriel Casanova pelo texto que usei pouco acima.

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

6 Comentários

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  1. O autor do texto esqueceu de

    O autor do texto esqueceu de dizer que ela assinou uma petição solicitando a liberação de pedófilos. Um dos argumentos era que as crianças tinham dito ao juiz que consentiram. Legal, né.

    Em outra petição que assinou, pedia o fim da idade mínima para a realização de sexo com adultos. Ou seja, a legalização da pedofilia.

    O seu marido defendia abertamente isso. Para eles, seria uma “liberação” das crianças.

  2. e mais as falácias do Lado B de Simone de Beauvoir

    …e não podemos deixar de discutir para o enem ninguém é tão c. de ferro as falácias do lado B da mítica escritora do segundo sexo.

     

     

     

     

  3. Livro de Presente de Natal

    Os livros de Simone de Beauvoir serão os melhores presente de Natal…

    Quiçá as pessoas discutam racismo se preparando para o proximo ENEM.

    Humanismo chegou na casa de cada um.

  4. Sou adepta do feminismo e é com muita decepção que eu sei que a Simone era, sim, a favor da abolição da idade mínima para consentimento sexual. Ela e o Sartre, seu parceiro, acreditavam que as crianças deveriam ter liberdade para aceitar ter relações sexuais com pessoas de qualquer idade.

    É inegável a contribuição da sua filosofia, mas isto é inaceitável, e ignora totalmente a psicologia. Talvez ela própria não tenha sido pedófila, porém está compactuando com o abuso da inocência das crianças, e esse pensamento falha em reconhecer que elas são muito mais facilmente manipuláveis por pessoas mais velhas que elas.

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