Agnelli e o terremoto Carla Grasso

O ponto principal , que é na minha opinião agregar valor aos minérios , foi muito pouco abordada….Mas parece que a Vale só entra nessa mesmo se tiver sócios…..O jornal também insinua tentativa de influência politica do PT, e que o PSDB iria cancelar a siderúrgica no Pará….

Do Valor

“Sou pago para gerar resultados e eles estão aí”

Valor Econômico – 05/11/2010
 

Na quarta-feira, o CEO da Vale concedeu entrevista ao Valor. Abaixo os principais trechos:

Valor: Valor – Há quase unanimidade nos depoimentos de diretores e ex-diretores sobre dificuldades com Carla Grasso e a área de RH.

Roger Agnelli É natural que, pela função, a Carla acabe tendo desgaste maior. A Carla está aqui há treze anos, mais tempo do que eu, ela fez o enxugamento lá atrás, mudança de planos de aposentadoria e agora mais recentemente, nos últimos quatro ou cinco anos, nós fizemos quatro ou cinco mudanças até evoluir do sistema de linha de negócios para um sistema mais matricial. Isso recai sobre TI, recursos humanos. A empresa crescendo no ritmo que está tem que mudar, e não estava acostumada a grandes mudanças. Isso gera desconforto. Mas a energia da companhia é fantástica, principalmente entre os diretores, pelo menos minha sensação é boa. Há quatro, cinco meses atrás fizemos uma pesquisa interna e a empresa está com uma energia estúpida.

Valor: Justamente pelo desgaste, quem faz o enxugamento é o nome adequado para a fase seguinte?

Agnelli A Carla na época (pós- privatização) não era diretora executiva, quem cuidava dessa área era o Gabriel Stoliar. Quando eu assumi ela foi promovida a diretora executiva e fez ótimo trabalho.

Valor: Ex-diretores dizem que ela faz o trabalho duro, que antes de demitir ela os frita.

Agnelli Ela é dura, mas é eficiente, é exigente. Há esse desgaste, mas diretora de recursos humanos é sempre complicado, não é? Outro dia o jornal comentou saídas de diretores. Mas não é nada preocupante. Teve o caso do Gabriel (Stoliar), que acabou mais se aposentando. O Murilo (Pinto Ferreira), que cuidava da área de níquel, teve problema de saúde, pediu para sair. O José Lancaster cuidava da área de cobre e, puxa, que delícia!, o cara está vivendo na Bahia, pescando, se aposentou mesmo, não quer saber de trabalho. O Antônio Miguel teve alguns probleminhas de relacionamento, mas nada anormal e assumiu a presidência da Camargo Corrêa Construções.

Valor: De maneira geral, os ex-diretores não sentem que saíram para se aposentar.

Agnelli Eles são novos ainda, mas na linha de frente eles já estavam mais cansados. O Gabriel falou: “Chega, estou cansado, o ritmo aqui, é muito pesado”. Quando há um processo forte de crescimento com coisas novas, é pesado. O Lancaster falou: “Estou fazendo 61 anos, eu me aposento enquanto eu tenho saúde para poder gastar o dinheiro que ganhei”. O Murilo está junto com o Gabriel, mas eles pegaram uma coisa mais leve.

Valor: E o Fábio, por que saiu?

Agnelli O Fabio é de um caráter, uma disciplina, uma retidão, absolutamente inflexível, correto em todos os sentidos. Quando começou a sair o nome dele em jornais, ele ficou extraordinariamente incomodado. Não queria trabalhar em empresa que tivesse qualquer tipo de influência política. Eu falei: “Fábio, aqui é uma mineradora e mineradora vive de concessão, tem que ter um relacionamento bom com o governo”. Ele falou: “Chega, eu quero sair, até para ver se eu te ajudo”. Eu disse: “Você me ajuda ficando”, mas ele acabou saindo

Valor: Ele não queria o investimento em siderurgia, não é? Queria que você fosse mais firme…

Agnelli Nós temos uma grande produção no Pará e de alguma forma temos que levar algo para lá. Seria inviável se nós tivéssemos que construir logística, mas o governo federal entrou com a logística, então, cabe a nós tentar viabilizar e depois chamar um sócio. Eu acho que faz todo o sentido, eu vejo lá também mercado no futuro. O Fábio nesse ponto achava que não, que não precisava. Mas precisava, tinha que ter não por uma pressão do governo. Eu falo a você: o único caso específico que o presidente Lula conversou comigo foi do Pará. Quando separa logística, fica mais fácil viabilizar a usina.

Valor: Por que a Vale iniciou a terraplenagem da siderúrgica sem ter feito o plano executivo?

Agnelli No Pará a gente fez o projeto inicial e conseguimos o EIA-RIMA, ainda estamos definindo o tipo de laminadora.

Valor: Mas o projeto de engenharia é uma coisa demorada…

Agnelli Demora, demora.

Valor: Comenta-se que, se ganhasse o PSDB, você não precisaria tocar esse projeto para frente…

Agnelli Não tem nada a ver, o projeto está andando. No Ceará, estamos refinando de novo o projeto, é normal, a gente vai evoluindo conforme vai passando o tempo. No Pará idem, a terraplenagem tinha que ser feita, enquanto isso esperávamos o licenciamento, que foi dado duas, três semanas atrás, vamos entrar com a licença de implantação, e daí teremos que ter o projeto executivo. Lá no norte a chuva começa no mês que vem, e então a terraplenagem tem que estar pronta necessariamente no mês que vem. Se o projeto ficar pronto em março ou abril, período de chuva e, assim que parar de chover, se começa a construir.

Valor: Sua declaração na África sobre o PT querer cadeiras na Vale está provocando uma onda de notas sobre sua iminente saída.

Agnelli Tem que ver o contexto. A jornalista me perguntou: “Roger, é verdade mesmo que você vai sair, o pessoal do PT tem dito que você vai sair”. Eu disse: “Eu não, minha relação com o presidente é muito boa, estou tranqüilo, no melhor momento da vida da Vale etc”. Ela insistiu: “Mas o pessoal do PT tem dito que você vai sair”. Eu disse: “Eu desconheço essas conversas, mas o PT tem dito… puxa, então eles estão procurando alguma cadeira”. Aí saiu aquela manchete. Eu falei, não tenha dúvida de que eu falei. Mas, sinceramente, não pegou mal não, falei com o (José Eduardo) Dutra depois, falei com Jacques Wagner e falei com o Lula, falei com Dilma, falei com todo mundo e nada, nada. O que pode ter são pessoas, até mesmo pode ser do próprio conselho, que dizem “pegou mal”. Mas é notório o que está acontecendo, já faz quase um ano que ficam essas fofocas, não vejo que isso aí tenha estimulado qualquer coisa. O fato é o seguinte: tinha um foco dentro do PT, ou tem um foco dentro do PT , o PT são várias e várias divisões, tem gente que defende a reestatização, tem gente que não defende a reestatização, já fizeram plebiscito e estavam discutindo a questão de programa de governo e então saiu alguma coisa. Agora, não estou ofendendo ninguém e acho que cada um tem o direito de pensar o que quer.

Valor: Mas dentro do Bradesco pegou mal, não é?

Agnelli Não sei.

Valor: Isso e mais o fato de ter um plano de melhoria das condições de saída dos executivos deram margem a essa leitura?

Agnelli Não, não, não mesmo. Não é saída dos executivos, é remuneração de longo prazo, de tempo em tempo é feito isso, em cima até da própria valorização da companhia. Não existe conexão entre uma coisa e outra coisa. Uma coisa é você tirar uma empresa de US$ 8 bilhões e elevar para US$ 160 bilhões , outra é tirar de US$ 160 bilhões e elevar para US$ 2 trilhões. O grau de dificuldade é completamente diferente, tem que se comparar com seus pares, tem toda uma sistemática. Faz quase um ano que a gente vem conversando sobre isso.

Valor: Como é sua relação com a presidente eleita?

Agnelli Boa, sempre foi, fui membro do conselho da Petrobras junto com ela, ela era a presidente do conselho. Saí em função da Vale ter entrado em petróleo, era uma posição conflitante, então, para não causar desconforto para ninguém, eu preferi sair um pouco antes da gente tomar a decisão de entrar no petróleo e disputar aquelas licitações que o governo havia feito. Vários dos programas que tínhamos no Pará entraram no PAC com todo o apoio da Dilma. Então, qual é a maldade disso tudo, a troco do que a maldade? Não sei quem foi do PT, de que facção, ninguém fala quem é. Há uma questão da presidência do conselho, do Banco do Brasil e Previ, há disputa nos bastidores. Agora, a empresa está bem, os resultados estão bem, estratégias sendo executadas. Eu acho que sou pago para gerar resultado e os resultados estão aí não é? O acionista muda no dia que quiser, na hora em que quiser, não vejo problema nenhum, não vejo vínculo político. Eles sabem como querem proceder.

Luis Nassif

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