Ao decidir pelo aumento da taxa Selic, Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, demonstrou que é um Paulo Guedes discreto.
Já explicamos aqui que a submissão do BC ao mercado compromete toda política monetária.
Primeiro, o BC parte de um diagnostico duvidoso, de combater as pressões inflacionárias com ferramentas típicas da inflação de demanda. E tome aumento de juros. Lembra o médico que receita antibiótico para qualquer tipo de doença.
Faz parte da inacreditável incapacidade do BC – e dos economistas de mercado – de formular qualquer diagnóstico fora da caixinha, especialmente se for contrário aos interesses imediatos de mercado. E digo imediato porque, no longo prazo, o que atrai investimentos são perspectivas de crescimento da economia.
A lógica do BC foi aumentar a taxa Selic agora, para derrubar as taxas de juros de longo prazo. A medida visava exclusivamente preservar os preços dos ativos. O aumento dos juros, no longo prazo, derruba o preço dos ativos, obrigando os investidores a sucessivos ajustes em suas carteiras, vendendo papéis valorizados para cobrir margem em ativos com cotações em queda.
Poderia ter recorrido a um aumento do compulsório – o percentual dos depósitos à vista que os bancos comerciais precisam manter depositados no BC. O aumento do compulsório não impactaria a dívida pública.
Para não mexer no compulsório e enxugar a liquidez da economia, o BC terá que aumentar as operações compromissadas – a venda de títulos ao mercado, com compromisso de recompra por um valor referenciado na Selic. É uma operação que impacta a dívida pública, aumenta a dívida como proporção do PIB. Ou seja, para impedir qualquer perda ao mercado, pressiona indicadores que assustam as novas captações externas.
Por aqui, os juros longos aumentaram devido à percepção do mercado de que, com as políticas de estimulo de Biden e a Next Generation, obrigarão o FED e o BCE a manter uma política monetária mais rígida. Esse movimento – de alta nos juros americanos – provocará uma valorização do dólar. Como os mercados estão interligados, por arbitragem, internamente haverá um aumento no dólar e nos juros futuros.
O Copom (o Comitê de Política Monetária) tentou se adiantar e ficar à frente da curva. Com a alta da Selic, a única coisa que conseguiu foi sinaliza ao mercado o seu temor.
O resultado foi a alta na curva de juros e o aumento as apostas do mercado em elevações mais agudas na Selic. Antes do Copom, o debate era se 0,5 ponto seria suficiente. Agora, já se fala que duas elevações de 0,75 seriam insuficientes.
Melhor fez o presidente da Turquia, Tayyip Erdogan. Depois de uma alta na taxa básica de juros, o presidente do BC fio destituído e substituído pelo economista e político Sahap Kavciogly. A medida agradou o mercado, mas aumentou a crise interna.
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