O etanol celulósico

Do leitor Daniel Valladao

Em primeiro lugar devo dar-lhe os parabéns por enfocar algo positivo, produtivo e concreto ao “fazer” o seu jornalismo econômico;

Quanto aos biocombustíveis (acho que agora estou postando no local certo!), algumas considerações:

1(pequena correção) – O etanol é um tipo de alcool que pode ser obtido da cana (sacarose) e também da celulose (etanol celulosico), mediante vários processos, como a hidrólise enzimática. Na verdade o etanol não é simplesmente o “álcool da cana”.

2. Se usarmos a soja como biodiesel, por exemplo, teremos uma produtividade de cerca de 1 a 2 barris de petróleo equivalente por km2 por dia.

Na cana, considerada a atual produtividade e eficiência do método de conversão em etanol, temos cerca de 8 barris de petróleo equivalente por km2 por dia (isso se todo a sacarose for usada para a produção de etanol). A cana de açucar ainda produz o bagasso e outros componentes, que representariam, caso integralmente aproveitados, com máxima eficiência, cerca de 10-16 barris de petróleo equivalente por km2 por dia.

A atual área ocupada com cana de açucar, com cerca de 50.000km2, tem potencial para produzir, atualmente, cerca de 400 mil barris de petróleo equivalente díários (ou cerca de 20% do consumo atual no Brasil).

Uma cultura de soja ocupando a mesma área produziria cerca de 100.000 b.p.e. diários.

Vale a pena considerar esses números, ressaltado o fato de que não levei em conta os subprodutos do esmagamento da soja para a produção do biodiesel.

3 – O programa do biodiesel é interessante, mas a ele deve ser imposto algum limite, a meu ver, pois a produtividade é relativamente baixa frente a outras alternativas de biocombustível, como o etanol celulósico, num futuro próximo.

4- Com relação ao etanol celulósico, não é verdade que ele represente uma “ameaça” aos nossos interesses enquanto candidatos a “potência energética”.

Pelo contrário: Pela nossa área agricultável e disponibilidade de recursos hidrícos e pelo nosso histórico com o programa do álcool, somos candidatos naturais à captação de recursos para o desenvolvimento dessa alternativa energética, principalmente as empresas que atualmente operam com o álcool da cana.

Nesse sentido, essas empresas poderiam se associar, ou ao menos uma dessas empresas poderia se organizar, para criar uma instituição responsável pela pesquisa voltada à produção do etanol celulósico no Brasil, em duas frentes básicas: a) eficiência no processo de conversão (para isso precisamos saber em detalhes o que hoje limita essa eficiência) e b) desenvolvimento de cultivaves mais eficientes na produção de biomassa, inclusive com o uso da engenharia genética.

Nada impede a implementação do etanol celulósico vinculada ao desenvolvimento da agricultura familiar. O que é interessante, no caso brasileiro, é que a grande disponibilidade de terras agricultáveis pode ser usada como uma espécie de lastro para a captação de recursos, com a vinculação contratual das terras para a produção do biocombustível (uma espécie de “opção de arrendamento” que pode ser exercida pelo consórcio ou empresa patrocinadora da pesquisa)

Apenas para que tenhamos uma idéia do potencial do etanol celulósico, basta notarmos que o capim de pastagem (temos seguramente mais de 2 milhões de km2 de pastagens!!) pode render, sem maiores aperfeiçoamentos genéticos, cerca de vinte toneladas de massa seca ano por hectare, ou (sendo conservador na conversão), cerca de 60 barris de petróleo equivalente por hectare ano, vale dizer, cerca de 16 b.e.p por km2 por dia. Isso tudo, reitero, sem maiores aperfeiçoamentos genéticos e com muito conservadorismo…

O etanol celulósico é uma oportunidade única para o desenvolvimento da infraestrutura de pesquisa biotecnológica no Brasil.

Basta que se tenha um pouco de vontade.

Luis Nassif

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