Os nomes para a sucessão da Vale

Do Valor

Sucessão na Vale terá solução interna

Cristiano Romero | De Brasília
24/03/2011

Os acionistas controladores da Vale vão substituir o presidente da empresa, Roger Agnelli, por um dos atuais dirigentes da multinacional.

Um dos cotados é Tito Botelho Martins, atual diretor-presidente da Inco, subsidiária que produz níquel no Canadá. Ele é também diretor-executivo de operações e metais básicos da Vale no Brasil.

A decisão, segundo apurou o Valor, será tomada durante assembleia de acionistas marcada para o dia 19 de abril.

A demissão de Roger Agnelli estava definida pelos acionistas da Vale desde o fim do ano passado, mas só foi sacramentada numa reunião, no dia 10 deste mês, entre o presidente do conselho de administração do Bradesco, Lázaro de Mello Brandão, e o ministro da Fazenda, Guido Mantega. O encontro foi solicitado por Brandão e ocorreu no gabinete do ministro da Fazenda em São Paulo. Brandão queria saber como o governo pretendia tratar da substituição de Agnelli. Ele procurou o ministro Guido Mantega porque os principais acionistas da Vale ligados ao governo são vinculados ao Ministério da Fazenda – o Tesouro Nacional, via Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES); e o Banco do Brasil, patrocinador da Previ, o fundo de pensão de seus funcionários do banco.

MantMantega informou ao Palácio do Planalto que teria o encontro com Lázaro Brandão e foi, então, incumbido de coordenar, pelo governo, o tema da sucessão de Agnelli, cujo contrato com a Vale termina no fim deste mês.

Durante a reunião entre Brandão e Mantega, ficou acertado que o contrato do executivo não seria prorrogado e que o substituto seria escolhido entre os nomes da diretoria. Definiu-se também que o escolhido não poder ser alguém ligado a Agnelli.

A preocupação do governo e dos acionistas privados é que a transição na Vale não seja vista como resultado de uma interferência política na empresa. Nos últimos meses, por causa dos ruídos criados em torno do comando da companhia, a ação da Vale foi castigada pelos investidores, preocupados com os rumos da companhia. No mesmo período, o preço do minério subiu no mercado internacional. “A escolha de ume executivo que já atua na empresa é uma mensagem clara de que não haverá interferência política na gestão”, disse uma fonte oficial.

O capital da Vale é controlado pela Valepar, holding na qual o Bradesco tem 21,21% das ações; a Littel (veículo financeiro que reúne os fundos de pensão ligados a empresas estatais, como o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal e a Petrobras) e o BNDESPar (o braço de participações acionárias do BNDES) possuem 61,51%; e a japonesa Mitsui, 18,24%.

Agnelli, que foi indicado para a presidência da Vale há dez anos pelo Bradesco, começou a perder força depois de comprar briga com o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva e setores do PT.

Lula criticava o executivo pelo fato de a Vale não investir em produção de aço no Brasil. A tese de Lula é que, ao não entrar no ramo siderúrgico, a Vale não agregava valor ao minério de ferro extraído no país.

A gota d’água do mau relacionamento entre o governo e Agnelli se deu em outubro do ano passado, entre o primeiro e o segundo turnos da eleição presidencial, quando o executivo declarou à imprensa que o PT estava interessado em seu cargo.

Em novembro, o Valor apurou que o Bradesco desistira de continuar apoiando o executivo. No conselho de administração do banco, o único que ainda apoia a manutenção de Agnelli no comando da Vale é Mário da Silveira Teixeira Júnior.

O vazamento da informação do encontro de Guido Mantega e Lázaro Brandão constrangeu muito a diretoria do Bradesco. A delicada situação criada para o ministro ao se tornar pública aquela reunião poderia até forçar uma mudança de posição sobre a saída de Roger Agnelli da Vale, mas aparentemente não foi isso o que ocorreu.

Ontem, assessores diretos da presidência da República asseguraram que Mantega agiu em nome da presidente Dilma Rousseff e que, portanto, não sofreu desgaste. “A presidente não se irritou com o ministro”, sustentou um assessor graduado.

Por causa da tragédia vivida pelo Japão, cogitou-se prorrogar o contrato de Agnelli por mais um ano, período em que os acionistas escolheriam um sucessor entre nomes de dentro ou de fora da empresa.

A razão para isso seria o fato de a japonesa Mitsui, neste momento, estar impossibilitada de fazer qualquer planejamento de longo prazo.

Na assembleia do dia 19 de abril, o Banco do Brasil (BB), que, como patrocinador da Previ, tem o direito de nomear dois nomes para o conselho de administração da Vale, indicará Nelson Barbosa, secretário-executivo do Ministério da Fazenda, e Robson Rocha, vice-presidente de gestão de pessoas e responsabilidade socioambiental do BB. Barbosa é, hoje, presidente do conselho de administração do BB e homem da confiança estrita da presidente Dilma Rousseff.  

Luis Nassif

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