Darcy Ribeiro: “Fracassei em tudo o que tentei na vida”

Sugerido por Assis Ribeiro

Da Carta Maior

Darcy: “Fracassei em tudo o que tentei na vida”

Maria Maia – documentarista

“Tentei alfabetizar as crianças brasileiras, não consegui. Tentei salvar os índios, não consegui. Tentei fazer uma universidade séria e fracassei.”

“Fracassei em tudo o que tentei na vida. Tentei alfabetizar as crianças brasileiras, não consegui. Tentei salvar os índios, não consegui. Tentei fazer uma universidade séria e fracassei. Tentei fazer o Brasil  desenvolver-se autonomamente e fracassei. Mas os fracassos são minhas vitórias. Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu”
 
Filho de professora primária, tendo o pai morrido na infância, Darcy Ribeiro teve uma vida venturosa. Do menino pequeno fazendo travessuras na Montes Claros natal ao homem que enfrentou a morte  depois de mais de 20 anos de luta contra um câncer existe uma trajetória de irreverência e, principalmente, coerência.
 
Na infância,  roubou um saco de azul de metileno na farmácia do tio e colocou na caixa d’água  tingindo toda a cidade. Levou uma surra homérica da mãe. Na velhice ele fugiu da UTI de um hospital e foi para Maricá acabar o livro que é sua obra-prima, O Povo Brasileiro. 
Foi adolescente para Belo Horizonte estudar medicina e depois de várias reprovações descobre não ter nenhuma  vocação para ser médico.  Vai então para São Paulo estudar antropologia e em seguida  vai trabalhar junto ao Marechal Rondon, como uma espécie de pupilo do homem que dizia a respeito dos índios “morrer, talvez, matar nunca”. Passa dez anos circulando entre povos indígenas  período em que, juntamente com os irmãos Villas Boas  cria o Parque Indígena do Xingu. Para tanto se entrevistou com Getúlio Vargas e o convenceu da necessidade da criação do Parque.
 
No final dos anos 50, encontra-se com outro luminar da cultura brasileira, o educador Anísio Teixeira. Sob a influência de Anísio passa a se dedicar à educação formal e chega a criar a Universidade de Brasília, da qual foi o primeiro reitor. Dali foi para o Ministério da Educação e em seguida e para Casa Civil de Jango. O Golpe Militar de 64 obrigou-o a se exilar no Uruguai.
 
Os anos de exílio de Darcy Ribeiro foram inacreditavelmente  produtivos. Fundou e reformou universidades por toda a América Latina e chegou a assessora o presidente Allende, no Chile e Alvarado,  no Peru. Inquieto, no exílio deu vazão ao lado de escritor. Publicou ensaios de antropologia das civilizações e até romances.
 
Darcy volta ao Brasil definitivamente, em 1976 e vai se ligar politicamente ao PDT de Brizola. É eleito vice-governador em 1982 e se dedica à criação de 500 CIEPS, onde finalmente põe em prática sua ideia de educação integral para todos. Em 1991 é eleito senador e dá continuidade a seu veio de educador e elabora a Lei de Diretrizes e Bases  da Educação Nacional – LDB.
 
Morre em fevereiro de 1997, aos 72 anos. Seu último ato no hospital foi dar uma aula de cultura brasileira para uma criança de 9 anos, filho da médica que cuidava dele. Nela dizia que se dedicou às duas faces da educação: a erudita e a popular, criou universidades e um sambódromo.

Redação

11 Comentários

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  1. Travessuras

    Essa da caixa e do metileno é exagero,o que não diminui a importância das travessuras desse grande brasileiro.Na sua época já existiam em Montes Claros tres grandes caixas dágua com cerca de  hum milhão de litros cada uma-(hoje existem outras de menor porte)-que abasteciam e ainda abastecem parte da cidade.

    Vejam esse vídeo no link abaixo.

    http://www.youtube.com/watch?v=LVQouVlF0Ro

  2. O maior dos brasileiros

    O maior dos brasileiros é o Lula, mas o Darcy é um páreo duro. Dois brasileiros a quem o país deve muito. Os bandidos do pig sempre souberam disso e por isso o ataque constante. Há outros na fila: Brizola, Joaquim Nabuco, Celso  Furtado.

  3. …. nao concordo com o

    …. nao concordo com o “fracassei ..”   o valido foi a visao da necessidade, a iniciativa, a açao. e pena q nao foram incorporadas pelos descendentes da UDN, da ARENA, a burquesia em fim.

  4. Lembrando Darcy

    “Não me consolo de constatar todo dia que o Brasil não deu certo. Ainda não deu certo. Não por culpa da terra, que é boa, nem do povo, que é ótimo. Mas das nossas classes dirigentes, tão tenazmente tacanhas que só sabem gastar gente a fim de lucrar e enricar. Para isso, sujigaram e mataram milhões de índios, estancando sua alegria de viver e corrompendo sua admirável adaptação ecológica à nossa terra. Para isso, caçaram em África, transladaram para cá e aqui consumiram, queimados no trabalho escravo, dezenas de milhões de negros.”

    http://blogdopg.blogspot.com.br/2012/02/lembrando-darcy.html

     

  5. Grande Darcy Ribeiro!!!! Este

    Grande Darcy Ribeiro!!!! Este sim soubve fazer a diferença!!!!!

    Pena que seu legado, de educação integral com a construção dos CIEPs,  tenha sido destruído pelo Gato Angorá, como o chamava Brizola!

    Fica a obra portanto, ainda que inacabada!

    Mas,  seu projeto, sua determinação, seu idealismo e principalmente seu patriotismo, ficarão como exemplos para as gerações futuras!!! 

  6. Darcy Ribeiro

    Gostaria de saber em que fonte estão as palavras de Darcy Ribeiro: “

     

    “Fracassei em tudo o que tentei na vida. Tentei alfabetizar as crianças brasileiras, não consegui. Tentei salvar os índios, não consegui. Tentei fazer uma universidade séria e fracassei.

    Tentei fazer o Brasil  desenvolver-se autonomamente e fracassei. Mas os fracassos são minhas vitórias. Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu”  

    /Cmd+V

     

     

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