Datafolha: maioria defende escola inclusiva para pessoas com deficiência

Para 86%, escolas ficam melhores com inclusão; Já 59% discordam que crianças com deficiência devam aprender só na companhia de colegas na mesma condição

Jornal GGN – Uma pesquisa do Datafolha, feita em âmbito nacional, revela que 86% dos brasileiros avaliam que “as escolas ficam melhores quando incluem alunos com deficiência”. O levantamento, encomendado pelo Instituto Alana, foi feito com 2.074 pessoas em 130 municípios.

A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos. As entrevistas foram realizadas entre 10 e 15 de julho. Na pesquisa, 76% concordaram “que a criança com deficiência aprende mais ao lado de crianças sem deficiência”, porém 68% afirmaram que “a criança com deficiência em sala atrasa o aprendizado das sem deficiência.”

Há dez anos o Brasil aderiu a convenção mundial da ONU pelos direitos das pessoas com deficiência, o documento recomenda a educação inclusiva, ou seja, o direito de crianças com deficiência de estudarem com crianças tidas como normais.

Foi apenas em 2015 que o Brasil criou uma lei específica para garantir a educação inclusiva nas escolas. Editorial da Folha de S.Paulo, publicado nesta terça-feira (16), destaca que, nas duas épocas – quando o Brasil aderiu à convenção da ONU e quando estabeleceu a lei de inclusão nas escolas – eram comuns previsões negativas e resistência ao acesso de crianças com deficiência no mesmo ambiente escolar que as crianças consideradas normais.

Mas, “bastaram alguns anos de convívio em sala para minorar preconceitos”, avalia o jornal apontando também que o Datafolha mostra que 59% dos entrevistados hoje discordam que crianças com deficiência devam aprender só na companhia de colegas na mesma condição.

Apesar do avanço ético, ainda existem muitas barreiras estruturais para o completo cumprimento da inclusão. Desde 2015, o número de professores com alguma formação inclusiva triplicou, passando para 100 mil em todo país, volume ainda incapaz de atender os 1,2 milhão de alunos que possuem alguma deficiência, segundo dados oficiais.

O Datafolha aponta ainda que para 67% dos entrevistados “falta de formação do professor para tratar com o aluno com deficiência”. Já 71% acreditam que “o professor tem interesse em ensinar o aluno com deficiência”.

Algumas escolas, que não atendem crianças com alguma deficiência, alegam não terem condições de pessoal ou estruturais. Essa questão foi apresentada na pesquisa e 37% “concordam que a escola pode escolher se matricula ou não uma criança com deficiência”.

“Por um lado, [a pesquisa mostra] extraordinário amadurecimento da sociedade civil sobre o direito das pessoas com deficiência à educação em escolas comuns, acompanhado da percepção de que todos saem ganhando quando a escola abraça a diversidade humana”, disse à Folha Rodrigo Hübner Mendes, fundador e diretor executivo do Instituto Rodrigo Mendes. A entidade oferece de forma gratuita ferramentas que preparam professores para atenderem alunos com deficiência.

“Por outro lado, o estudo reforça o que várias outras pesquisas vêm revelando: formação sobre esse tema é uma das demandas prioritárias manifestadas pelos professores que estão em sala de aula”, completou.

Outro dado importante na pesquisa é que 93% dos entrevistados que convivem com pessoas com deficiência na escola são “favoráveis à ideia de que as escolas se tornam melhores ao incluir crianças com deficiência”.

“Esses dez anos de educação inclusiva no Brasil já demonstram um enorme avanço. As gerações atuais já acessam pessoas com deficiência na escola, no trabalho, na vida social e vemos pessoas com deficiência concluindo o ensino médio, ingressando no ensino superior, tomando decisões. Os efeitos são transformadores e reais”, ponderou Raquel Franzim, coordenadora da área de educação do Instituto Alana.

Ela avalia que o principal desafio hoje é o país não retroceder no modelo de inclusão já estabelecido. “Além de tentar garantir o acesso da criança com deficiência à escola, temos de tentar evitar o retrocesso que é o não direito à educação inclusiva”, ponderou.

“É um desafio constante dar visibilidade a experiências positivas que acontecem em todo o país, mostrar que uma concepção protetiva e segregada de escola não é um caminho”, destacou.

Redação

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